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Ofertas de ações na B3 movimentam ano, apesar da pandemia: grupo Soma foi um dos que abriu capital neste ano
Ofertas de ações na B3 movimentam ano, apesar da pandemia: grupo Soma foi um dos que abriram capital neste ano.| Foto: Reprodução B3 / Twitter

Apesar do forte efeito negativo na economia, a pandemia da Covid-19 não afugentou as empresas que decidiram abrir capital na Bolsa de Valores. Há uma “explosão” de ofertas de ações na B3, mesmo com o cenário adverso.

Dados consolidados da Bolsa brasileira apontam que nos primeiros sete meses deste ano foram realizadas 21 ofertas, entre IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês) e follow-on (quando uma empresa de capital aberto faz nova oferta de ações no mercado), somando R$ 52,9 bilhões. E há mais por vir: mais de 40 empresas já protocolaram o pedido de IPO para setembro e outubro.

Embora ainda não conste do balanço oficial da B3, em agosto foram realizadas 11 ofertas, e setembro terá mais. Antes do feriado, já foram três ofertas finalizadas e ainda há oito em andamento, número que inclui a Petz, varejista especializada no setor de animais de estimação, que estreou no dia 11 de setembro.

"Prometo honrar as melhores histórias do varejo brasileiro, com governança corporativa e que entrega os desafios", disse no evento o presidente e fundador da Petz, Sergio Zimerman. O preço para as ações na oferta pública foi definido em R$ 13,75 para a abertura de capital. E a Petz se saiu melhor do que o esperado: as ações fecharam o pregão com alta de 21,82%, sendo negociadas a R$ 16,75. A Petz pretende usar os recursos captados pelo IPO para expansão de lojas, centros veterinários e investimentos em tecnologia.

Neste ano, das 21 ofertas realizadas nos sete primeiros meses, nove foram entre janeiro e fevereiro. As outras 12 ocorreram a partir de maio, com ênfase em julho, quando foram realizadas nove ofertas.

Por enquanto, as oito companhias que “estrearam” na B3 em 2020 foram a Mitre Realty (incorporações), Locaweb (serviços de hospedagem de sites), Moura Dubeux (incorporações), Priner (serviços industriais), Estapar (rede de estacionamentos), Aura 360 (mineradora), Ambipar (gestão ambiental) e grupo Soma (vestuário, dono das grifes Animale e Farm). Juntos, esses IPOs renderam R$ 7,4 bilhões. Outras 13 empresas fizeram ofertas secundárias, movimentando R$ 45,4 bilhões.

Na fila de IPOs já solicitados, estão a rede de farmácias paranaense Nissei, a varejista baiana Le Biscuit e as incorporadoras Urba, da MRV, e HBR Realty. O mercado também está de olho em empresas como a Alphaville Urbanismo, que iniciou o processo de oferta de ações em março mas interrompeu por causa da pandemia. O plano foi retomado em agosto. Outra empresa que retomou os planos de abertura de capital é a Boa Vista SCPC, bureau de informações de crédito.

Ofertas em 2020 podem quebrar recordes

Para analistas, há chances de 2020 superar o pico de lançamentos de 2007, quando a conjuntura econômica mais favorável estimulou 76 ofertas de ações na Bolsa. Ainda com a crise do coronavírus, o atual cenário de juros baixos – a Selic, taxa básica, está fixada em 2% ao ano – e inflação controlada, que indicam certa estabilidade, acabou motivando muitas empresas a abrirem capital.

“O que leva as empresas a irem buscar abertura de capital, a participar mais desse mercado, é uma certa estabilidade da economia. Aliado a isso, temos um patamar de juros baixos, que faz com que os investidores procurem mais por ativos de maiores riscos para investir”, avalia Rodrigo Moliterno, sócio Veedha Investimentos.

Para ele, apesar da pandemia, o mercado está líquido pela enxurrada de recursos que o governo injetou na economia e também pela propensão de um grupo de investidores a diversificar sua carteira em busca de maior rentabilidade, uma vez que a renda fixa perdeu um pouco da atratividade que tinha.

Outro fator citado é o aumento no número de CPFs que investem na bolsa. Após dez anos oscilando entre 500 mil e 600 mil, o número ultrapassou 800 mil em 2018, encostou em 1,7 milhão no fim de 2019 e beirava os 3 milhões no fim do mês passado, segundo a B3 (essa estatística, no entanto, pode contabilizar mais de uma vez o mesmo investidor caso ele tenha conta em mais de uma corretora). “Só isso já faz com que haja uma demanda reprimida por ações”, pontua.

A Planner Corretora ainda cita outros fatores, em relatório especial que analisou esse boom de ofertas. Ela considera a valorização do dólar ante o real, o bom desempenho da bolsa brasileira e o fato de algumas operações recentes terem recebido demanda muito superior aos volumes ofertados. Além disso, há uma vantagem para as empresas. “A capitalização através da abertura de capital tem custo baixo para as empresas e permite traçar uma curva de crescimento de longo prazo apoiada pela participação de novos acionistas”, descreve o documento.

Pouca oferta de empresas na Bolsa era fator "extraordinário"

Essa “explosão” de ofertas é só o começo, na visão de Álvaro Gonçalves, diretor da Stratus, gestora de private equity, e presidente da câmara de empresas da B3. “O mercado não está acostumado com isso e fica parecendo uma coisa extraordinária, mas, na prática, extraordinário era ter pouca oferta. Vinte ofertas por ano para o Brasil era algo irrisório”, argumenta.

Até agosto, eram 372 empresas listadas na Bolsa. Para Gonçalves, esse número é muito pequeno, mesmo quando comparado a economias como a canadense, a mexicana e a coreana. Ele lembra que há milhares de empresas médias, com condições de acessar o mercado, mas que ainda não o fizeram.

“Existe um movimento tardio de empresas e empresários descobrindo que existe um sangue arterial para receber no mercado de capitais. Do lado dos aplicadores existe descoberta gradativa que o melhor jeito de investir é numa boa empresa. Os dois lados estão se descobrindo de forma tardia”, avalia.

IPO e follow-on: expectativa é de maior movimentação até o fim do ano

A fila de empresas que miram o IPO em setembro e outubro já supera 40. Além das já citadas Nissei, Le Biscuit, Urba e HBR Realty, o grupo inclui a fabricante de pás para parques eólicos Aeris e a varejista Havan, do empresário Luciano Hang.

A Havan almeja uma oferta de R$ 10 bilhões, o que lhe daria valor de mercado de R$ 100 bilhões. A empresa quer usar esse dinheiro para expansão da rede e do centro de distribuição, tecnologia e reforço no capital de giro.

Para Moliterno, o ambiente é propício para que empresas vão ao mercado para captar recursos, seja com IPOs ou follow-on. “É mais barato abrir mão de parte do patrimônio da empresa para continuar crescendo do que ir para um endividamento”, observa.

Um dos segmentos mais representados na B3 é o de incorporadoras, que terá o reforço da HBR Realty (com operação primária e secundária) e da Urba Desenvolvimento Urbano, do Grupo MRV (apenas emissão primária). Para Álvaro Gonçalves, da Stratus, “o setor imobiliário fala muito ao coração do brasileiro”, por isso há tantas empresas listadas e ele é favorito a emissões.

Mas, para ele, a tendência deste ano na Bolsa é de não haver priorização de um setor. A avaliação é de que o comércio está sub-representado e voltando, principalmente com farmácias. Ele também aposta numa “fase de reciclagem” de shoppings centers, que tiveram mais ofertas em 2013. Além disso, educação e saúde são setores com players de qualidade e que tendem a ter espaço no mercado de capitais.

“O que o mercado está disposto a comprar são empresas com bom projeto e bom histórico. Teve fase de IPOs em que se esperava que fosse uma coisa sobrenatural, e esses empresários viraram vilões. Agora o mercado quer o empresário de carne e sosso, com história sólida, que mostre onde errou. Não precisa ser perfeito”, analisa.

Aumento de ofertas já era uma tendência

Os analistas ouvidos pela reportagem concordam que esse aumento das ofertas em 2020 é um reflexo de movimentos que começaram lá atrás. Para Gonçalves isso vem desde 2016, quando houve a indicação da reforma da Previdência e os primeiros passos para acomodar a taxa de juros. “A sinalização não foi de IPOs, mas follow-ons, e isso começou a reabrir o mercado”, observa.

Esse processo se intensificou no ano passado, com a consolidação da Selic baixa. “No fim do ano passado, com a tendência de juros baixos, várias empresas começaram a se movimentar para IPO e follow-on. Com a pandemia, até houve uma recuada, mas agora que o mercado viu que o pior já passou e as economias estão se recuperando, há um movimento para voltar e há uma corrida de quem sai primeiro para não perder essa janela”, diz Moliterno.

Excesso de ofertas na Bolsa exige atenção do investidor

Os investidores perceberam que muitas empresas estão tentando abrir capital com a expectativa de preço exagerado para suas ações. Por isso, é esperada uma onda de ajustes nas avaliações. Isso já aconteceu com a rede de farmácias Pague Menos, que reduziu o preço de sua ação na tentativa de emplacar sua oferta inicial.

A incorporadora Lavvi também encontrou dificuldade para atrair investidores, levando a sua controladora, a Cyrela, a garantir 15% do IPO com recursos próprios.

Nas últimas semanas, houve duas tentativas frustradas de IPO. A Riva 9 Empreendimentos Imobiliários, controlada pela Construtora Direcional, e a incorporadora You Inc. não encontraram demanda suficiente para colocar suas ofertas de pé, em uma prova de seletividade dos investidores.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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