Inflação, crise e recessão. Mesmo com as perspectivas pouco otimistas para a economia mundial em 2009, nenhum brasileiro vai precisar trocar o tradicional peru por um frango na ceia de Natal. O presidente da Associação Paranaense de Supermercados (Apras) e diretor do grupo Muffato, Everton Muffato, afirmou que o preço dos produtos nas prateleiras não deve frear o consumo neste fim de ano. Ele foi o convidado de ontem do Papo de Mercado, ciclo de palestras promovido pelo caderno de Economia da Gazeta do Povo.
Para o dirigente, a "crise psicológica" é maior do que a própria crise financeira e as classes C e D, propulsoras do consumo no país, ainda não sentiram os efeitos reais da mudança no cenário econômico. Segundo Muffato, uma enxurrada de informações provocou um clima de insegurança e freou o consumo nos meses de setembro e outubro, mas a tendência deve se reverter e voltar à normalidade até o fim de dezembro. "Não vejo motivos para uma desaceleração. As compras de dezembro já estão programadas e deve haver pouca oscilação de preços, dentro da margem, mas nada que vá surpreender o consumidor", garantiu.
Muffato voltou a afirmar que o setor supermercadista pode passar ileso pelo atual momento econômico, sofrendo apenas alguns "leves respingos". "A crise é basicamente de crédito, não de consumo", ressaltou, apontando que o crédito rotativo de 30 dias a 60 dias representa apenas 5% do volume do setor.
Entre os possíveis reflexos negativos para 2009, Muffato prevê uma retração na venda de bens duráveis, a redução da variedade de produtos como consequência da diminuição de importações e uma inflação localizada em produtos importados, pressionada pela cotação do dólar.
A inflação de 2009 é o assunto que mais preocupa o setor. Na década de 1980, a inflação era utilizada como um mecanismo de ganho financeiro. "As redes mais capitalizadas formavam estoques e torciam para vender mais tarde, para realizar o lucro inflacionário", revelou Muffato. "[Atualmente] podem até pensar que, para o setor, quanto maior a inflação, maior o ganho. Mas na realidade a inflação desestimula o consumo."
Em junho e julho deste ano, a inflação dos gêneros alimentícios atingiu o pico de 9% posteriormente recuando para 4% no acumulado do ano. Mesmo assim, Muffato acredita que os supermercados não podem levar a fama de "vilões da inflação". "Comparando com outros segmentos, vemos que há um movimento de recuperação de preço dos alimentos", afirmou.
"Hoje, a empresa que quer ganhar deve cortar perdas, reduzir custos e ganhar eficiência", completou Muffato.