A preocupação com o abastecimento do óleo diesel, cuja demanda é maior no segundo semestre, está fazendo com que a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) intensifique o monitoramento das importações de óleo diesel S10 no país. O objetivo é acompanhar mais de perto o mercado para evitar o risco de falta do combustível. A Petrobras chegou a alertar o governo sobre essa possibilidade.
O cenário é descartado por distribuidoras de combustível, que buscaram fornecedores alternativos no exterior para garantir o suprimento. No primeiro quadrimestre do ano, as importações aumentaram 23,91% em relação ao mesmo período de 2021. O número médio de licenças para importação de diesel, que não necessariamente indicam se elas serão realizadas, aumentou dez vezes nos cinco primeiros meses do ano, aponta reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
A preocupação é com o abastecimento do combustível ao longo do segundo semestre, tradicionalmente um período de maior consumo, por causa do plantio da próxima safra e pela movimentação de cargas no final do ano.
Outra preocupação é com a temporada de furacões no Golfo do México, local onde estão situadas algumas refinarias que abastecem parcialmente o mercado brasileiro. Durante esse período, muitas delas suspendem as operações.
A produção brasileira de óleo diesel é insuficiente para atender à demanda nacional. Dados da ANP mostram que nos quatro primeiros meses do ano foram vendidos o equivalente a 166 mil metros cúbicos por dia, 2% mais que no mesmo período do ano passado. A produção, que cresceu 8,7% nesse intervalo, conseguiu suprir cerca de três quartos das necessidades brasileiras. O restante foi atendido pelo diesel importado.
A Vibra Energia (ex-BR Distribuidora), um dos maiores players no segmento de distribuição de combustíveis, registrou um aumento na demanda por diesel e outros combustíveis no primeiro semestre. Para a última metade do ano, a expectativa é de um crescimento de 10% na demanda.
”Estamos atendendo integralmente todos os nossos clientes contratados. Rotineiramente, já trabalhamos no planejamento com um programa mínimo de importação para complementar a demanda por produto adicional (diesel e/ou gasolina) e para manter o nível de entregas fizemos aquisições externas que vêm sendo todas atendidas”, informou a empresa em nota.
Guerra e retomada afetam o mercado de diesel
Questões estruturais estão afetando o mercado internacional de diesel. Os principais fatores são a guerra na Ucrânia e a retomada das atividades econômicas após a pandemia. Os russos são um dos maiores fornecedores mundiais da commodity, respondendo por 8% do mercado mundial, e abasteciam principalmente os países europeus.
Com a invasão da Ucrânia, os europeus restringiram a importação de derivados de petróleo da Rússia, que redirecionou sua produção para outros mercados, como a Índia e a China. Isto contribuiu para que aumentasse a demanda por fretes marítimos do combustível.
Os europeus, também dependentes do gás natural russo, estão promovendo a substituição desse combustível, em parte pelo diesel. Para isso, estão apelando para compras dos Estados Unidos. Na maior economia global, em um ano, o preço do derivado do petróleo aumentou 78,3% nas bombas das principais rodovias, segundo o US Energy Information Administration.
Problemas já foram maiores com o óleo diesel
Os problemas de abastecimento mundial já foram maiores. O pico foi em março, logo após o início da guerra, no fim do inverno europeu. De lá para cá, players tem buscado alternativas para solucionar o problema de demanda.
Mas o impacto nos preços deve continuar. Eles deverão continuar elevados nos próximos meses. Só um arrefecimento na demanda poderá mudar o cenário, apontam fontes de mercado.
Um dos motivos para isso é que investimentos globais em óleo e gás natural foram restringidos durante a pandemia, atingindo em 2020 o menor nível em pelo menos dez anos, segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
Há uma recuperação no montante investido, contudo ele está em níveis inferiores aos praticados até 2019. A estimativa de agentes que atuam no mercado de derivados de petróleo é de que essa recuperação leve pelo menos mais dois anos.
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