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Na foto, o co-fundador e diretor de expansão do delivery tudo Rappi, Ricardo Bechara.| Foto: Divulgação/Rappi

A startup colombiana Rappi, fundada em 2015 e que promete fazer delivery de tudo, acaba de receber um novo aporte, desta vez de um fundo japonês, o SoftBank, no valor de US$ 1 bilhão. O investimento é o maior já feito em um negócio latino americano – o equivalente ao dobro do que foi injetado na região no ano passado inteiro e vindo de um só capital. No final de 2018, o concorrente brasileiro iFood recebeu US$ 500 milhões da própria dona, a Movile, além dos investidores Naspers e Innova Capital.

Boa parte do dinheiro será destinado ao Brasil, principal mercado da Rappi, que cresce 30% ao mês em valor de transação (globalmente são 20%), garante o co-fundador e diretor de expansão da Rappi, Ricardo Bechara, sem especificar o montante.

“Vamos continuar a expansão territorial, consolidar produto, tecnologia e marketing e intensificar o que estamos executando bem. A Rappi lança muitas coisas e pretende manter esse ritmo de crescimento para os próximos anos.”

Ricardo Bechara, co-fundador e diretor de expansão da Rappi

Junto a estes objetivos, Bechara destaca ainda a manutenção em parcerias estratégicas com grandes players, como as firmadas com Carrefour e Avon, com foco nas entregas. E ainda com a Visa, para soluções digitais e meios de pagamento, incrementando o projeto da carteira digital RappyPay, lançado em 2018, e que promete saltar de 5 mil para 100 mil parceiros até o final do ano, passando de R$ 500 mil para R$ 10 milhões em transações.

É grande o desafio de desenvolver mercados, avalia o executivo, porém o mais importante é levar a proposta de valor da Rappi aos usuários.

“Queremos resolver toda a vida dele com um único aplicativo, porque acreditamos muito nesse modelo. E o investimento e a credibilidade no app mostra que estamos no caminho certo.”

Ricardo Bechara, co-fundador e diretor de expansão da Rappi

Olhares voltados para o mercado inovador da América Latina 

O SoftBank é um banco japonês que criou algumas subsidiárias e fundos de capital de risco (venture capital). O mais famoso é o Vision, de US$ 100 bilhões. Sabe-se que o grupo lançou um fundo de tecnologia de US$ 5 bilhões a serem destinados para a América Latina, com foco nos setores de comércio eletrônico, serviços financeiros digitais, assistência médica, mobilidade e seguro. Não se tem notícia ainda, no entanto, de qual será o destino dos R$ 4 bilhões restantes

A América Latina, assim como EUA e Europa, estão acostumados com o capital de fundos norte-americanos e europeus. Até 2018, mais de 80% do capital venture vinha dos EUA, concentrado basicamente no Vale do Silício (São Francisco e outras cidades próximas, na Califórnia) e em Nova York. Este ano, no entanto, estima-se uma redução considerável, com um market share de 45%, avalia o diretor de apoio a empreendedores da Endeavor, Igor Piquet.

Investimento do SoftBank marca uma tendência de apostas na AL e no Brasil

O investimento do primeiro bilhão de dólares do pacote de investimentos do Softbank inaugura uma tendência de novas origens de capital em negócios inovadores de países da América Latina, segundo Piquet. "Esta será a maior tendência este ano e a formação do Vision vem marcar essa nova fase. Apesar de ser um percentual ainda pequeno vindo para a América Latina, considerando o todo, é muito mais do que jamais foi e vai mudar a paisagem do empreendedorismo nestes países.”

Os países emergentes são estudados há muito tempo e o que se percebeu foi que uma empresa como a Rappi, por exemplo, gera muita riqueza para o país, como a grande quantidade de postos de trabalho. O resultado disso é a formação de bolhas de influência, explica o executivo.

“Nelas, todos por trás têm eventos de liquidez e o investimento de novos empreendimentos, formando ambientes mais competitivos para os fundos, à medida em que os empreendedores terão mais opções. Antes, eles tinham que se submeter e aceitar os termos dos fundos interessados, porque era o que tinha.”

Aporte vem junto com pressão gigante por resultados

A pressão que a condição de sociedade que acompanha a entrada do SoftBank no negócio da Rappi é diretamente proporcional ao tamanho do seu aporte. O SoftBank terá por volta de 40% da startup, observa o sócio-fundador e diretor da GP3O Investimentos, Giulianno Perri, provocando um movimento que ele compara ao que aconteceu com a XP Investimentos quando entrou a General Atlantic. “Esses investidores passam a ter um conselho dentro da empresa, no qual se olha muito para planilhas e números e os executivos dela têm que ter ideias mirabolantes para manter a exponencialidade do negócio a todo tempo. É o que faz o Rappi ao oferecer cashback, por exemplo.”

No ponto de vista de Perri, o Rappi está engolindo o iFood, que aparece como maior share of mind do mercado de delivery de refeição via app, como o preferido de 6 em cada 10 usuários desse tipo de serviço, segundo pesquisa recente do Instituto QualiBest. Na sequência, aparecem Uber Eats, citado por 32% dos respondentes, os serviços próprios dos restaurantes (28%), PedidosJá (20%), e somente então o Rappi (17%), na frente de Delivery Much (14%), Glovo (11%), que anunciou em março que deve deixar o mercado brasileiro, e Rapiddo (7%).

O executivo não descarta inclusive uma breve aquisição do aplicativo líder no seu segmento nesta nova fase de expansão.

"Certamente vai recair essa pressão sobre o Rappi, por um aumento da base de clientes. Uma das coisas que percebo é o mercado consumidor potencial que eles podem atingir no menor tempo possível, para também no menor tempo possível conseguir colocar esse dinheiro no mercado de volta e embolsar. O jogo do private equity é esse, acelerar ainda mais um negócio que já está acelerado, com capacidade de geração de receita exponencial em cima de uma base de clientes, que deve crescer no mesmo patamar.”

Giulianno Perri, sócio-fundador e diretor da GP3O Investimentos,
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Conquistar a rede de logística é fundamental para o crescimento da Rappi.| Divulgação/Rappi

Rappi tem estratégia de expansão veloz, porém arriscada

A Rappi nasceu em 2016, chegou ao Brasil em 2017 e alcançou o patamar de unicórnio em 2018. A startup tem mais de 60 mil entregadores parceiros e emprega mais de 1,5 mil colaboradores em sete países da América Latina e mais de 40 cidades. Metade delas está no Brasil, devendo chegar a mais dez no país até o final do ano. Somado a este último aporte, já recebeu um total de US$ 1,4 bilhões em investimentos.

A startup adotou desde o início uma estratégia de expansão agressiva, conhecida por go horse no universo da tecnologia, e que pode dar muito errado, na opinião do CEO da Startup Farm, Alan Leite.

Ele aponta como consequência desta abordagem pontos que deixam a desejar no aplicativo, como a falta constante de itens nos supermercados após os pedidos que geram insatisfação, ou o fato de, por vezes, acessar um conteúdo totalmente em espanhol ao invés da língua portuguesa, sendo o Brasil o principal mercado da plataforma.

“A Rappi apostou em um plano adotado por muitas empresas. Ela tem consciência que é uma forma arriscada, mas a intenção é ganhar mercado o mais rápido possível. Para eles vale a pena e vão melhorando em paralelo ao crescimento, com a estratégia de ganhar mercado por meio de capital. A entrada de tanto capital prova que estão conseguindo avançar com essa tese”, diz.

Leite acredita na aquisição por negócios que sejam soluções acessórias para a Rappi, como startup de vendas de ingressos ou mobilidade, por exemplo, que façam sentido para a tese go horse, como forma de desenvolver melhor o negócio e bater plataformas concorrentes, como iFood, Uber Eats e Pedidos Já e mesmo apps próprios de restaurantes, todos voltados exclusivamente para alimentação.

“São concorrentes com desempenhos mais redondos, justamente porque são especializados. E um dos grandes desafios da Rappi é crescer na mesma velocidade, mantendo qualidade de serviço para o usuário.”

Mas a briga não se restringe somente à fidelidade do consumidor, destaca o sócio da ACE Startups, Arthur Garutti. Para ele, há uma disputa também manter a rede logística, com a fidelidade do biker e do motoboy, em um movimento similar ao que acontece no segmento da mobilidade entre Uber e 99.

A Rappi, diz Garutti, tem todas as armas para acompanhar essa guerra. “Com um mercado tão grande a saída será a introdução em locais onde os outros apps não são tão fortes. E à medida que ganhar o mercado de alimentação, será realmente um app de tudo e aí um app como iFood pode ser que se movimente para oferecer outros serviços.”

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