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Musk descreve seus planos para viagens interplanetárias: ele pretende chegar a Marte antes da Nasa. | Hector Guerrero/AFP
Musk descreve seus planos para viagens interplanetárias: ele pretende chegar a Marte antes da Nasa.| Foto: Hector Guerrero/AFP

Em pleno carnaval, a SpaceX anunciou que, em 2018, levará dois turistas no pioneiro voo turístico à órbita da Lua. Isso já seria um feito para nenhum empresário botar defeito. Mas Elon Musk, o dono da empresa de foguetes, não parou. Duas semanas depois, ofereceu uma solução definitiva para o sul da Austrália com energia renovável confiável em 100 dias; do contrário, bancaria a eletricidade da região do próprio bolso – sim, a empresa de painéis solares também é dele. Dias antes, divulgou que pagaria a um alemão o conserto de seu carro, que foi destruído deliberadamente para salvar a vida de um desconhecido – no caso, o automóvel sacrificado era um caríssimo modelo elétrico da Tesla, outra propriedade de Musk.

Estes três exemplos, que ocorreram em menos de um mês, dão uma mostra de quem é Elon Musk, um dos bilionários mais controversos do mundo atualmente. Para o sul-africano de 45 anos, ter gerado uma empresa competitiva em missões aeroespaciais, popularizado a energia solar e criado uma opção viável de carros elétricos é algo quase trivial perto de seu maior sonho: colonizar Marte. Na verdade, fica cada vez mais claro que seu grande objetivo é entrar para a história.

Embora não seja o homem mais rico do mundo – está na 34.ª posição, com US$ 11,6 bilhões –, nem o mais famoso bilionário (outros nomes vêm à mente primeiro quando se pensa na elite abastada do planeta), ele serviu de inspiração da versão para o cinema de Homem de Ferro, o Tony Stark da Marvel, vivido por Robert Downey Jr. nas telonas. Isso porque ele tem uma trajetória pouco comum para os homens no topo das fortunas mundiais: tem projetos megalomaníacos, atua em diversas áreas e mistura setores completamente diferentes, como energia solar, foguetes, carros elétricos, trens, mapas digitais, inteligência artificial e sistemas de pagamento. Uma espécie de Eike Batista, só que mais revolucionário e com sucesso.

Ele é cofundador de empresas como Tesla (que está tornando os carros elétricos uma realidade), PayPal (que mudou o sistema de pagamento na internet), SolarCity (segunda maior fornecedora de painéis solares dos EUA e uma das responsáveis pelo barateamento do preço desta energia renovável), OpenAI (associação que pretende popularizar a inteligência artificial) e, claro, SpaceX, que já é fornecedora da Nasa para a Estação Espacial Internacional e está entrando no novíssimo ramo do turismo espacial.

“Visionário”

“Ele é uma pessoa muito quieta e compenetrada, mostra uma atenção especial em temas técnicos, que ele não domina totalmente. Certamente é um visionário, mas tem se arriscado muito”, comenta o brasileiro Nilton Rennó, diretor do programa de mestrado em Engenharia Espacial da Universidade de Michigan. “O nosso programa de mestrado fornece muita mão de obra para a SpaceX, e todos afirmam que Musk é um cara inspirador”, acrescenta.

Ele conta que o ambiente na SpaceX é muito bom, como em poucas empresas do setor, e que Musk, geralmente, passa alguns dias por semana lá – nos outros, se dedica aos diferentes negócios. O professor brasileiro, contudo, afirma que há muitas dúvidas sobre até onde Musk pode chegar, principalmente com seu programa de turismo no espaço. O marketing é muito forte em suas ações e, em foguetes, o desenvolvimento de tecnologia é mais lento e complexo que em outros setores de tecnologia de ponta: “O prazo (para a viagem turística à órbita da Lua) é muito curto e o desenvolvimento aeroespacial é de alto risco. Um adiamento de seus prazos pode ser ruim para seus negócios, temos de lembrar que a SpaceX quase faliu. Só não quebrou por ter conseguido um contrato com a Nasa para fornecer equipamentos para a Estação Espacial Internacional”, conta Rennó.

Em comum com outros bilionários do Vale do Silício está a genialidade – criou um videogame quando tinha 10 anos – e a dedicação, chegando a trabalhar até 100 horas por semana, ou seja, cerca de 14 horas por dia de segunda a segunda. Segundo seus biógrafos, era introvertido e tinha dificuldades para se conectar com a sociedade quando jovem, vítima perfeita para bullying. Na vida pessoal, foi casado três vezes – duas com a mesma mulher, a atriz inglesa Talulah Riley, de Orgulho e preconceito – e tem cinco filhos, nascidos em apenas dois partos: é pai de gêmeos e de trigêmeos.

Trump

Não bastasse tudo isso, ele é um dos poucos empresários ao lado de Donald Trump. Musk participa de conselhos da Casa Branca e apoia nomes do gabinete do republicano. Esta nova realidade fez com que seus amigos bilionários e inventivos aumentassem o desdém por Musk. Jornais dos Estados Unidos – onde se estabeleceu definitivamente, após mudar na adolescência para o Canadá, onde morava sua mãe – o acusaram de ser oportunista e de obter vantagens para seus negócios, por estar próximo ao homem do poder. Outros acreditam que é apenas mais uma etapa em seu esforço de chamar a atenção, algo que parece perseguir com mais empenho que o lucro em suas empresas.

Resta saber se ele terá fôlego para cumprir tudo o que anda planejando, inclusive seu hyperloop, sistema de transporte por tubos pressurizados que permitiriam viagens a 1,2 mil quilômetros por hora, quase o dobro da velocidade de aviões de carreira. O primeiro protótipo está para ser lançado ainda este ano. Por estas e outras, aumentam as dúvidas se ele é um visionário ou simplesmente um louco: “Essa é uma pergunta muito comum aos visionários. Todos têm sua dose de loucura, o que diferencia cada um é a capacidade de realizar seus sonhos”, disse Rennó.

O teste de fogo será Marte: ele promete ter voos tripulados ao planeta vermelho em 2024, seis anos antes da meta que Barack Obama impôs à Nasa. Quer colonizar o planeta e já disse que pretende ser sepultado lá. Certamente um funeral que coroaria uma vida para a História. Só falta tudo dar certo até lá.

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