
A CADA UM MÊS E MEIO...
Governo federal já lançou mais de 20 pacotes ou medidas de estímulo à economia desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu. Relembre:
1- 02/08/2011
Governo lança o Brasil Maior, que desonera a folha de pagamentos de quatro setores: confecção, couros e calçados, "call centers" e de softwares.
2- 16/08/2011
Banco Central reduz de 16,5% para 11% o requerimento de capital mínimo para empréstimos ao consumo. Pagamento mínimo da fatura do cartão também cai, de 20% para 15%.
3- 01/12/2011
Alíquota do IOF que incide sobre o crédito para o consumidor é reduzida de 3% para 2,5%.
4- 02/04/2012
Onze novos setores são incluidos no Brasil Maior.
5- 21/05/2012
Governo reduz o IPI para a indústria automotiva.
6- 15/06/2012
É lançado o Pró-Investe, linha de R$ 20 bilhões do BNDES para investimentos estaduais em infraestrutura.
7- 27/06/2012
União compra R$ 8,4 bilhões em máquinas, material escolar e materiais hospitalares.
8- 15/08/2012
Governo federal lança plano de concessões rodoviárias e ferroviárias no valor de R$ 160 bi.
9- 06/09/2012
Tarifas da energia têm corte anunciado para o ano seguinte.
10- 03/12/2012
Desoneração da folha da construção civil e estímulos para financiamento habitacional.
11- 05/12/2012
Governo lança medida provisória com novo modelo de concessão dos terminais portuários.
12- 05/12/2012
Desconto do PSI é prorrogado por mais um ano.
13- 20/12/2012
União anuncia novo programa para os aeroportos do país que prevê a concessão de três aeroportos à iniciativa privada.
14- 08/03/2013
Para controlar a inflação, 16 itens da cesta básica têm desoneração total de tributos.
15- 14/03/2013
Finep e BNDES oferecem linha de crédito chamada Nova Empresa, com subsídios de até R$ 33 bilhões.
16- 05/04/2013
Nova desoneração na folha de pagamento para 14 setores.
17- 23/04/2013
Governo reduz para 1% a alíquota do PIS/Cofins para os fabricantes de matérias-primas para a indústria química.
18- 23/04/2013
Governo zera o PIS/Cofins dos fabricantes de etanol.
19- 06/06/2013
Governo edita MP que permite engordar o caixa da Valec e BNDES em R$ 15 bilhões, cada, para projetos de infraestrutura.
20- 18/06/2013
Mineiração ganha novas regras na tentativa de estimular os investimentos no setor. Arrecadação aumenta.
21- 16/07/2013
Repasse de R$ 3 bilhões para as administrações municipais sairem do vermelho.
22- 30/09/2013
Aumento do teto do FGTS para compra de imóveis.
23- 13/03/2014
Pacote de R$ 12 bilhões para Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e distribuidoras. Além disso, um leilão extraordinário de energia térmica foi anunciado.
24- 14/05/2014
Governo federal lança 400 licitações para destravar 100 obras de infraestruturas que não sairam do papel. Investimento previsto é de R$ 8 bilhões.
25- 18/06/2014
Prorrogação do PSI, recriação do Reintegra e do Refis.
26- 27/06/2014
Isenção do Imposto de Renda sobre os ganhos de capital no investimento em ações de pequenas e médias empresas. Também prevê isenção em debêntures voltadas ao financiamento de projetos de infraestrutura.
A cesta básica teve os tributos federais zerados, o imposto da indústria automotiva foi reduzido e bilhões foram repassados para os caixas dos municípios e estados. Ao todo, foram 26 tentativas do governo Dilma de fazer a economia brasileira decolar. E, entre acertos e erros, a conclusão é de que a tão esperada reação da economia nacional ainda não aconteceu, mesmo com um novo pacote sendo lançado a cada dois meses.
INFOGRÁFICO: Acompanhe a evolução do PIB brasileiro
Ao longo do período, a média de 0,4% do crescimento trimestral do Produto Interno Bruto (PIB) ficou bastante abaixo da esperada. Se o corte de alguns tributos para o consumidor final foi importante para manter a política de incentivo ao consumo, que promoveu o crescimento do setor de serviço ao longo dos últimos anos, as políticas industriais não foram suficientes para fazer deslanchar o investimento privado e a produção de bens de alto valor agregado.
"É impossível dizer como a economia brasileira estaria sem estes pacotes. Pode ser que eles tenham nos salvado de um período de recessão, como outros países acabaram enfrentando", afirma o economista doutor em políticas públicas da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), Marcel Batista. "Por outro lado, foram tantas medidas que é difícil imaginar que elas tenham apresentado os resultados esperados quando foram lançadas", completa.
Batista lista algumas das medidas que, segundo ele, não surtiram qualquer efeito ou nem saíram do papel: os quase R$ 25 bilhões repassados para as administrações estaduais e municipais para projetos de infraestrutura, os projetos de concessões ferroviárias e o Inovar-Auto, que tinha a intenção de atrair montadoras para o país, mas até agora não emplacou novos projetos. "Vieram apenas fábricas que já estavam planejadas antes mesmo do programa", afirma o especialista da UFPE.
Por outro lado, parte do setor produtivo comemora medidas incontestavelmente práticas, como o corte da tarifa de energia elétrica e as desonerações permanentes da folha de pagamento. "São medidas que reduzem os custos do setor produtivo, que sempre foi uma demanda da iniciativa privada", afirma o economista da Unicamp, Sérgio Lodeiro. "O governo jamais faria isso, com essa agilidade, se fosse depender de uma reforma mais ampla. Foi a maneira que encontrou para atender necessidades pontuais", explica.
Médio prazo
Outras medidas foram bem recebidas por especialistas e iniciativa privada, mas demoram mais tempo para gerar resultados. "Todos os programas de concessão de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias têm um grande potencial para destravar gargalos históricos, mas isso não acontece da noite para o dia. O mesmo acontece com as mudanças de regulamentação do setor de mineração e de energia", afirma o membro do conselho de infraestrutura da MV Consultoria, Sebastião Almagro.
Para ele, no entanto, estas medidas se diferem de outras com perfil anticíclico. "Mas é preciso saber diferenciar novas políticas com maior tempo de maturação de pacotes que simplesmente não deram certo", alerta.
Procurado para avaliar os impactos, o Ministério da Fazenda, que organiza e coordena a maior parte das medidas, não respondeu à demanda da reportagem.
Consequência
Excesso de medidas causa insegurança ao setor produtivo
O grande número de pacotes e a abrangência de cada um dos anúncios podem beneficiar pontualmente um setor ou combater algum problema econômico conjuntural, mas, como efeito colateral, também reforça o comodismo de boa parte do empresariado e prejudica planos de longo prazo.
Para Rafael Fagundes Cagnin, mestre em teoria econômica pela Unicamp, a reação dos setores diante do programa Brasil Maior, que promove a desoneração da folha de pagamento de uma série de segmentos, é o melhor exemplo de como medidas pontuais podem ser prejudiciais à economia. "Da forma como aconteceu, alguns empresários podem ter preferido adiar seus projetos e intensificar suas pressões junto ao governo com o objetivo de antes obter algum benefício fiscal", afirma.
Segundo Cagnin, mudanças nas regras de concessões e da remuneração de alguns setores também ajudaram a minar a confiança dos empresários. "A iniciativa privada paralisou. As regras têm mudado rapidamente e ninguém tem condições de se programar e retomar investimentos", diz o economista da Tendências Consultoria, Juan Jensen.
Custo
Sociedade paga a conta de desonerações e aportes federais
Ainda que um grande número de setores acabe beneficiado pelas medidas de cortes em determinados tributos e desonerações de encargos, a conclusão de especialistas em contas públicas é que, enquanto os gastos públicos não são revistos, a sociedade paga pelos pacotes de benefícios a determinados setores.
A conta bilionária das renúncias, que deve ultrapassar os R$ 300 bilhões ao final de 2014, segundo cálculo da Fundação Getúlio Vargas, na verdade, não passa de uma transferência. "Se não existe um imposto que compense aquela arrecadação, são investimentos que são adiados ou simplesmente renegados", explica o professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli.
O sócio da Tendências Consultoria, Juan Jensen, usa como exemplo o programa de desoneração da folha de pagamentos. Segundo ele, cada emprego formal custou R$ 140 mil aos cofres públicos. "Só nisso, existe um rombo de R$ 2 bilhões, que beneficia 60 setores da economia, mas será bancado por todos os outros que não foram incluídos", finaliza.

-
Evangélicos podem ser foco de resistência na sabatina de Dino ao STF
-
Centrão pressiona por cargos na Funasa às vésperas de votações importantes para o governo
-
As ameaças de Maduro e a bússola moral quebrada de Lula
-
Davi contra Golias: guerra entre Venezuela e Guiana colocaria frente a frente forças militares díspares
STF decide se governo pode pôr políticos no comando de estatais
Mais imposto aos estados, mais poder aos prefeitos: reforma mexe com herança, IPVA e IPTU
Estatais no vermelho: sob Lula, empresas federais voltam a ter déficit
Agro brasileiro vai conquistar mais um pódio e com o dobro de produtividade dos EUA