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Mesmo com IPI reduzido nos últimos dois anos, montadoras continuam com os pátios cheios de automóveis zero | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Mesmo com IPI reduzido nos últimos dois anos, montadoras continuam com os pátios cheios de automóveis zero| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

A CADA UM MÊS E MEIO...

Governo federal já lançou mais de 20 pacotes ou medidas de estímulo à economia desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu. Relembre:

• 1- 02/08/2011

Governo lança o Brasil Maior, que desonera a folha de pagamentos de quatro setores: confecção, couros e calçados, "call centers" e de softwares.

• 2- 16/08/2011

Banco Central reduz de 16,5% para 11% o requerimento de capital mínimo para empréstimos ao consumo. Pagamento mínimo da fatura do cartão também cai, de 20% para 15%.

• 3- 01/12/2011

Alíquota do IOF que incide sobre o crédito para o consumidor é reduzida de 3% para 2,5%.

• 4- 02/04/2012

Onze novos setores são incluidos no Brasil Maior.

• 5- 21/05/2012

Governo reduz o IPI para a indústria automotiva.

• 6- 15/06/2012

É lançado o Pró-Investe, linha de R$ 20 bilhões do BNDES para investimentos estaduais em infraestrutura.

• 7- 27/06/2012

União compra R$ 8,4 bilhões em máquinas, material escolar e materiais hospitalares.

• 8- 15/08/2012

Governo federal lança plano de concessões rodoviárias e ferroviárias no valor de R$ 160 bi.

• 9- 06/09/2012

Tarifas da energia têm corte anunciado para o ano seguinte.

• 10- 03/12/2012

Desoneração da folha da construção civil e estímulos para financiamento habitacional.

• 11- 05/12/2012

Governo lança medida provisória com novo modelo de concessão dos terminais portuários.

• 12- 05/12/2012

Desconto do PSI é prorrogado por mais um ano.

• 13- 20/12/2012

União anuncia novo programa para os aeroportos do país que prevê a concessão de três aeroportos à iniciativa privada.

• 14- 08/03/2013

Para controlar a inflação, 16 itens da cesta básica têm desoneração total de tributos.

• 15- 14/03/2013

Finep e BNDES oferecem linha de crédito chamada Nova Empresa, com subsídios de até R$ 33 bilhões.

• 16- 05/04/2013

Nova desoneração na folha de pagamento para 14 setores.

• 17- 23/04/2013

Governo reduz para 1% a alíquota do PIS/Cofins para os fabricantes de matérias-primas para a indústria química.

• 18- 23/04/2013

Governo zera o PIS/Cofins dos fabricantes de etanol.

• 19- 06/06/2013

Governo edita MP que permite engordar o caixa da Valec e BNDES em R$ 15 bilhões, cada, para projetos de infraestrutura.

• 20- 18/06/2013

Mineiração ganha novas regras na tentativa de estimular os investimentos no setor. Arrecadação aumenta.

• 21- 16/07/2013

Repasse de R$ 3 bilhões para as administrações municipais sairem do vermelho.

• 22- 30/09/2013

Aumento do teto do FGTS para compra de imóveis.

• 23- 13/03/2014

Pacote de R$ 12 bilhões para Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) e distribuidoras. Além disso, um leilão extraordinário de energia térmica foi anunciado.

• 24- 14/05/2014

Governo federal lança 400 licitações para destravar 100 obras de infraestruturas que não sairam do papel. In­­vesti­mento previsto é de R$ 8 bilhões.

• 25- 18/06/2014

Prorrogação do PSI, recriação do Reintegra e do Refis.

• 26- 27/06/2014

Isenção do Imposto de Renda sobre os ganhos de capital no investimento em ações de pequenas e médias empresas. Também prevê isenção em debêntures voltadas ao financiamento de projetos de infraestrutura.

A cesta básica teve os tributos federais zerados, o imposto da indústria automotiva foi reduzido e bilhões foram repassados para os caixas dos municípios e estados. Ao todo, foram 26 tentativas do governo Dilma de fazer a economia brasileira decolar. E, entre acertos e erros, a conclusão é de que a tão esperada reação da economia nacional ainda não aconteceu, mesmo com um novo pacote sendo lançado a cada dois meses.

INFOGRÁFICO: Acompanhe a evolução do PIB brasileiro

Ao longo do período, a média de 0,4% do crescimento trimestral do Produto Interno Bruto (PIB) ficou bastante abaixo da esperada. Se o corte de alguns tributos para o consumidor final foi importante para manter a política de incentivo ao consumo, que promoveu o crescimento do setor de serviço ao longo dos últimos anos, as políticas industriais não foram suficientes para fazer deslanchar o investimento privado e a produção de bens de alto valor agregado.

"É impossível dizer como a economia brasileira estaria sem estes pacotes. Pode ser que eles tenham nos salvado de um período de recessão, como outros países acabaram enfrentando", afirma o economista doutor em políticas públicas da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), Marcel Batista. "Por outro lado, foram tantas medidas que é difícil imaginar que elas tenham apresentado os resultados esperados quando foram lançadas", completa.

Batista lista algumas das medidas que, segundo ele, não surtiram qualquer efeito ou nem saíram do papel: os quase R$ 25 bilhões repassados para as administrações estaduais e municipais para projetos de infraestrutura, os projetos de concessões ferroviárias e o Inovar-Auto, que tinha a intenção de atrair montadoras para o país, mas até agora não emplacou novos projetos. "Vieram apenas fábricas que já estavam planejadas antes mesmo do programa", afirma o especialista da UFPE.

Por outro lado, parte do setor produtivo comemora medidas incontestavelmente práticas, como o corte da tarifa de energia elétrica e as desonerações permanentes da folha de pagamento. "São medidas que reduzem os custos do setor produtivo, que sempre foi uma demanda da iniciativa privada", afirma o economista da Unicamp, Sérgio Lodeiro. "O governo jamais faria isso, com essa agilidade, se fosse depender de uma reforma mais ampla. Foi a maneira que encontrou para atender necessidades pontuais", explica.

Médio prazo

Outras medidas foram bem recebidas por especialistas e iniciativa privada, mas demoram mais tempo para gerar resultados. "Todos os programas de concessão de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias têm um grande potencial para destravar gargalos históricos, mas isso não acontece da noite para o dia. O mesmo acontece com as mudanças de regulamentação do setor de mineração e de energia", afirma o membro do conselho de infraestrutura da MV Consultoria, Sebastião Almagro.

Para ele, no entanto, estas medidas se diferem de outras com perfil anticíclico. "Mas é preciso saber diferenciar novas políticas com maior tempo de maturação de pacotes que simplesmente não deram certo", alerta.

Procurado para avaliar os impactos, o Ministério da Fazenda, que organiza e coordena a maior parte das medidas, não respondeu à demanda da reportagem.

Consequência

Excesso de medidas causa insegurança ao setor produtivo

O grande número de pacotes e a abrangência de cada um dos anúncios podem beneficiar pontualmente um setor ou combater algum problema econômico conjuntural, mas, como efeito colateral, também reforça o comodismo de boa parte do empresariado e prejudica planos de longo prazo.

Para Rafael Fagundes Cagnin, mestre em teoria econômica pela Unicamp, a reação dos setores diante do programa Brasil Maior, que promove a desoneração da folha de pagamento de uma série de segmentos, é o melhor exemplo de como medidas pontuais podem ser prejudiciais à economia. "Da forma como aconteceu, alguns empresários podem ter preferido adiar seus projetos e intensificar suas pressões junto ao governo com o objetivo de antes obter algum benefício fiscal", afirma.

Segundo Cagnin, mudanças nas regras de concessões e da remuneração de alguns setores também ajudaram a minar a confiança dos empresários. "A iniciativa privada paralisou. As regras têm mudado rapidamente e ninguém tem condições de se programar e retomar investimentos", diz o economista da Tendências Consultoria, Juan Jensen.

Custo

Sociedade paga a conta de desonerações e aportes federais

Ainda que um grande número de setores acabe beneficiado pelas medidas de cortes em determinados tributos e desonerações de encargos, a conclusão de especialistas em contas públicas é que, enquanto os gastos públicos não são revistos, a sociedade paga pelos pacotes de benefícios a determinados setores.

A conta bilionária das renúncias, que deve ultrapassar os R$ 300 bilhões ao final de 2014, segundo cálculo da Fundação Getúlio Vargas, na verdade, não passa de uma transferência. "Se não existe um imposto que compense aquela arrecadação, são investimentos que são adiados ou simplesmente renegados", explica o professor de finanças públicas da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Piscitelli.

O sócio da Tendências Consultoria, Juan Jensen, usa como exemplo o programa de desoneração da folha de pagamentos. Segundo ele, cada emprego formal custou R$ 140 mil aos cofres públicos. "Só nisso, existe um rombo de R$ 2 bilhões, que beneficia 60 setores da economia, mas será bancado por todos os outros que não foram incluídos", finaliza.

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