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A queda do preço do barril de petróleo, que perdeu dois terços de seu valor desde o pico de quase US$ 150 atingido pelo barril em junho, promete ser um empecilho para duas "vedetes" do mercado brasileiro: o crescimento internacional etanol e a exploração do petróleo do pré-sal. Entretanto, segundo especialistas ouvidos pelo G1, a tendência é que o abalo seja de curto prazo e que os investidores voltem após o fim da turbulência internacional.

Para especialistas, caso a queda continue para níveis inferiores a US$ 40, a exploração do pré-sal pode se tornar mais economicamente inviável. "Pelos próximos 12 a 14 meses, a média não fica acima de US$ 50 ou US$ 60. A dúvida é se vai estabilizar nos US$ 50 ou nos US$ 60. Antes de 2010, não teremos petróleo na casa dos US$ 100 novamente", diz Adriano Pires, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP) David Zylbersztajn afirma que os preços devem até baixar mais. "Pode cair mais que do que estamos vendo agora, tem espaço para cair", afirmou ele ao G1. A conseqüência imediata, segundo os especialistas, é a seguinte: o pré-sal não deve gerar tantos lucros quanto se imaginava há cinco meses.

Produto de sobra

Isso explica parcialmente o fato de as ações da Petrobrás terem caído nesta sexta-feira (21), mesmo após o anúncio de descoberta de novas reservas no pré-sal no Espírito Santo. "Não tem sentido aumentar a oferta de um produto que está em baixa", explica Pires. O temor, dizem analistas, é que o petróleo caia a um ponto em que os lucros do pré-sal não compensem os gastos da extração.

Entretanto, isso não deve ocorrer. Na pior das hipóteses, a extração do petróleo seria somente adiada por alguns anos. "Acredito que, com este cenário que temos, o pré-sal pode começar a gerar lucros apenas uns oito anos depois do que era previsto", diz Zylbersztajn. Pires vê um cenário de mais longo prazo: 2020. "O pré-sal deixaria de ser uma reserva econômica para virar uma reserva estratégica."

O analista de petróleo e energia Walter de Vitto, da consultoria Tendências, é mais otimista. "É claro que ter o barril a US$ 150 seria muito melhor, mas na casa dos US$ 50 ainda é viável", afirmou. Para ele, não há uma grande perda no momento. "Não há prejuízo, porque o pré-sal sempre foi para ser explorado no longo prazo", disse.

Se o barril cair para menos de US$ 40, no entanto, ele admite que "a situação pode complicar um pouco". Para o professor, a Petrobrás terá de rever investimentos no setor.

Nesta sexta-feira (21), a diretora de gás e energia da empresa, Maria das Graças Foster, e a ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, garantiram, no entanto, que os investimentos do pré-sal estão garantidos, independentemente do preço do petróleo ou da crise econômica.

Etanol

O etanol também sofre um momento de turbulência, mas, para Adriano Pires, isso tem mais a ver com a crise de crédito do que com o preço do petróleo. "Todo produto agrícola depende muito de crédito, e as usinas estão com dificuldade neste momento. Isso não tem muito a ver com o preço do barril", explicou.

No mercado brasileiro, segundo os analistas, o produto está consolidado. No externo, a coisa fica um pouco mais complicada. "No Brasil, o etanol funciona como substituto direto da gasolina, mas no exterior ele é usado mais como aditivo. Com o petróleo mais barato, a gasolina também fica mais barata e isso reduz o espaço do etanol", afirma Pires.

Para o chefe de agroenergia da Embrapa, Frederico Durães, o momento deve ser aproveitado para o fortalecimento da indústria de etanol. "A tendência é a recuperação desse preço. O Brasil precisa estar preparado para entrar em ação quando os preços voltarem a subir", diz ele.

Durães afirma que, apesar de qualquer turbulência, o etanol é um inevitável substituto do petróleo. "É uma questão que vai além da economia. É uma questão de sustentabilidade, de meio ambiente. Esta é uma situação provisória, em que os preços oscilam, mas a tendência é voltar a crescer", ressalta.

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