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Trump aliviou tarifas contra a China para não ser “o grinch que roubou o Natal”
| Foto: BigStock

Os lojistas americanos vão poder importar da China os presentes favoritos da época do Natal – como celulares, notebooks, videogames, brinquedos, roupas e calçados – sem ter de pagar a sobretaxa de 10% anunciada na semana passada pelo presidente Donald Trump.

O próprio Trump anunciou o adiamento das novas tarifas para não ser rotulado, como apontam alguns analistas, como “o grinch que roubou o Natal”. “Estamos fazendo isso pelo Natal, só para evitar o risco de algumas tarifas terem impacto sobre os consumidores americanos. Até hoje, isso não aconteceu. O único impacto que temos visto é a arrecadação de US$ 60 bilhões da China, a quem agradecemos. Mas, para evitar qualquer possível efeito indesejado, resolvemos adiar as novas tarifas e garantir que elas não tenham nenhuma relevância no período natalino”, disse o presidente americano.

Trump utilizou ressalvas como “só para evitar” e “possível efeito”, mas o fato é que suas palavras, e ações, demonstram uma notável mudança na insistência pessoal de que os chineses estariam pagando todo o preço das tarifas. Os agricultores americanos, mais prejudicados pelas retaliações de Pequim, têm recebido apoio em dinheiro do Tesouro americano como forma de compensação.

“A decisão de adiar as novas tarifas em smartphones, brinquedos, notebooks e outros itens populares na época de Natal é uma admissão tácita de que os consumidores é que pagam as tarifas, e não os fabricantes chineses”, observa Ryan Young, analista do Competitive Enterprise Institute.

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Um estudo da Tax Foundation aponta que uma família americana teria de gastar US$ 350 a mais por ano, caso todo o custo das tarifas de Trump fosse repassado aos consumidores. Apesar de a inflação permanecer baixa nos EUA, os últimos indicadores apontam algumas altas pontuais, principalmente no preço do gás e do aluguel. Uma análise da Goldman Sachs também já percebeu o aumento de preço nos itens sobretaxados.

“Trump não quer ser o grinch que roubou o Natal”, diz Phil Levy, economista que trabalhou para o presidente George W. Bush e que, atualmente, atua na Flexport, uma empresa de frete e logística. “Para mim, a impressão é que o governo está recuando mesmo”.

O presidente Trump e seu conselheiro econômico, Peter Navarro, afirmam que a China desvalorizou sua moeda o suficiente para compensar o custo das tarifas, mas empresas americanas têm apontado que a desvalorização não cobre todas as sobretaxas e que muitos contratos são rodados em dólares, e não em yuans.

A nova lista de tarifas é diferente das anteriores. Antes, tinha-se como alvo componentes que as empresas importavam para montar seus produtos nos Estados Unidos, como autopeças. Em vez de repassar aos consumidores, muitas companhias americanas optaram por absorver boa parte dos custos adicionais, anulando em parte o efeito da redução de impostos de Trump.

Nova sobretaxa será difícil de contornar

Mas a determinação de Trump de aplicar sobretaxa de 10% a mais US$ 300 bilhões de produtos chineses, até o final do ano, vai atingir principalmente itens como calçados e iPhones, que são montados na China e despachados para os EUA. Os empresários têm alertado que é muito mais difícil absorver estes custos ou encontrar alguma forma de contorná-los.

Trump insistiu na terça-feira que suas tarifas estão dando resultado – tanto no sentido de ajudar a economia americana como em forçar os chineses a negociar. “O mercado de ações está em alta hoje, por vários motivos, inclusive as tarifas”, disse.

O presidente destacou que as negociações voltaram a andar, citando um telefonema no início da semana entre os negociadores-chefes dos dois países. Uma comitiva chinesa deverá visitar os EUA em setembro. “Não sei se foram as tarifas ou o telefonema, o fato é que a conversa foi muito produtiva”, disse Trump, dando a entender que suas últimas medidas já estão dando resultado.

Vários economistas e líderes empresariais avaliam, no entanto, que o adiamento das tarifas fez pouco para diminuir as incertezas quanto à política de comércio de Trump, que tem pesado sobre a economia americana.

“Estamos a apenas um tuíte de distância de mais volatilidade”, escreveu Joe Brusuelas, economista-chefe da RSM, numa nota para clientes. “A ideia de que (o adiamento das tarifas) seja um alívio para a economia não se sustenta pela realidade dos fatos”.

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