A análise de que a economia brasileira é muito fechada ao comércio exterior é “folclore”. A avaliação é do ministro das Relações Exteriores, José Serra, e foi feita ao criticar países que pregam a abertura comercial, mas mantêm políticas protecionistas. O chanceler classificou como “furados” dados que mostram que o Brasil é o País que mais adota barreiras comerciais do mundo.
“Não dou aula há muito tempo, mas estudei bastante e tenho uma formação razoável. O Brasil não é uma economia fechada mais do que a média mundial, apesar do folclore. Isso é folclore”, disse Serra, em entrevista após o primeiro dia da reunião de cúpula das 20 maiores economias do mundo, o G-20. A crítica de Serra acontece em meio ao debate do G-20 da chamada “escalada tarifária” - situação em que países impõem taxas de importação crescente conforme a complexidade do item adquirido.
A soja e o café - dois itens da pauta brasileira - são exemplos desse fenômeno. Muitos países adotam taxas crescentes de importação à medida que aumenta a complexidade da mercadoria adquirida: a alíquota é baixa quando se compra o grão da soja ou do café e sobe à medida que avança a sofisticação do produto. Assim, o imposto aumenta para o café moído e sobe mais para o produto solúvel.
O argumento do governo brasileiro é que esse tipo de estratégia empobrece a pauta exportadora de países como o Brasil. Ou seja, o País passa a vender cada vez mais produtos básicos. “O comércio não é apenas vender e gerar emprego. Se está acontecendo no Brasil um processo de ‘primarização’ das exportações, me pareceu adequado apresentar esse problema e explicar quais são seus mecanismos, porque não é uma questão tão obvia”, disse Serra.
Ao ser questionado sobre a reclamação do Brasil ao mesmo tempo em economistas citam o Brasil como exemplo de economia fechada, Serra disse que essa avaliação é “folclore”. Sobre rankings que colocam o Brasil como uma das economias com mais barreiras comerciais no mundo, o ministro rebateu ao dizer que “são dados furados”.
Distorções
O ministro das Relações Exteriores argumentou que esse tipo de ranking - que normalmente avalia o peso do comércio exterior no Produto Interno Bruto - não captura distorções como os subsídios. Um dos exemplos citados por Serra é a produção de maçãs na Noruega, que receberia cerca de 80% de subsidio.
A Noruega não faz parte do G-20. Questionado sobre quais países do grupo adotam esse tipo de prática, Serra não quis mencionar exemplos.
Após o debate no G-20, o ministro defende que a tarifa ponderada parece mais adequada para avaliar a abertura comercial dos países. Nesse caso, é preciso volume arrecadado com tarifas com imposto de importação e dividir pelo total de importações. “Aí, você vai ver que o Brasil não tem essa posição que afirmam”, disse. “Não sou contrário que abramos a economia. Eu sou a favor da reciprocidade. Toma lá, dá cá”.
Nesse tabuleiro de negociação, o jogo de dependência recíproca entre fornecedores e compradores deve ser objeto permanente das conversas, defende o ministro. “Quero lembrar que a China é o principal mercado do Brasil e, ao mesmo tempo, o Brasil é o principal abastecedor da China. Metade da soja que a China importa vem do Brasil. Um depende do outro”, lembrou.
Apesar da grande dependência de importações brasileiras da soja e minério de ferro, a segunda maior economia do mundo não é encarada apenas como um grande comprador. “Nosso interesse pela China não é apenas comercial. É também pelos investimentos chineses”, disse, ao citar que o Brasil tem interesse em abocanhar parte dos capitais do país asiático que se espalham por investimentos ao redor do globo.
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