• Carregando...
Petróleo Aramco
Logo da Saudi Aramco, a companhia petrolífera da Arábia Saudita| Foto: Fayez Nureldine/AFP

A petrolífera saudita Saudi Aramco preparava a maior oferta inicial pública de ações (IPO, na sigla em inglês). Mudanças no alto escalão da empresa aceleravam os preparativos, mas, no sábado, o ataque de rebeldes iemenitas feito com drones destruíram parcialmente algumas das principais instalações da petrolífera, reduzindo a produção diária mundial em 6%.

Autoridades da Arábia Saudita consideram a possibilidade de adiar o IPO, segundo pessoas com conhecimento do assunto.

O atentado à refinaria de Abqaiq interrompeu a produção de 5,7 milhões de barris diários de petróleo. No domingo, circularam informações de que a estatal planejava retomar um terço da produção até esta segunda-feira e normalizar a oferta nos próximos dias, com o uso de petróleo estocado e de outras instalações. Mas a refinaria em si sofreu graves danos e a retomada total das operações poderá exigir semanas, dizem as fontes.

A Saudi Aramco pretende lançar o IPO em duas partes, com a venda de uma fatia na bolsa local e, posteriormente, com uma listagem internacional de ações, afirmam as fontes.

Mesmo assim, os banqueiros pretendem cumprir seu cronograma de apresentar o acordo a analistas, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. A petrolífera estava  considerava realizar apresentações na semana de 22 de setembro, informou a Bloomberg News.

Impacto dos ataques

Mas a magnitude dos ataques, reivindicados pelos rebeldes houthis apoiados pelo Irã no Iêmen, torna improváveis as chances de abertura de capital nos próximos meses, segundo uma fontes ouvidas pela Bloomberg.. A extensão de qualquer atraso dependeria de quanto tempo a Aramco leva para restaurar sua produção total, disse outra pessoa. Um porta-voz da Saudi Aramco não respondeu imediatamente aos pedidos de comentário.

Os ataques à maior instalação de processamento de petróleo do mundo e ao segundo maior campo de petróleo do reino também correm o risco de reduzir a avaliação da Aramco, que o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman estimou em mais de US $ 2 trilhões, segundo analistas.

"Há 70% mais chances de atraso do IPO da Aramco se eles quiserem uma avaliação mais alta", disse Mohammed Ali Yasin, diretor de estratégia da Al Dhabi Capital em Abu Dhabi.

Os rebeldes houthis disseram na segunda-feira que as instalações de petróleo na Arábia Saudita permanecem entre seus alvos e que suas armas podem chegar a qualquer lugar do reino.

Os ataques são "uma preocupação para o IPO", disse Robin Mills, diretor executivo da consultora Qamar Energy, sediada em Dubai. "Será praticamente impossível prosseguir se houver ataques em andamento".

Primeiro cancelamento foi há um ano

Há cerca de um ano, a Aramco cancelou inesperadamente os planos de realizar a IPO (oferta pública inicial, na sigla em inglês), quando o preço do petróleo estava em baixa, optando, em vez disso, por adquirir uma parte da Sabic, uma gigantesca fabricante de produtos químicos controlada pelo Fundo de Investimento Público saudita.

Qualquer chance de realizar a IPO perdeu força após o assassinato e esquartejamento de Jamal Khashoggi, um dissidente saudita e colunista do "The Washington Post" que desapareceu depois de entrar em um consulado saudita em Istambul, em outubro do ano passado. O príncipe herdeiro Mohammed foi indicado como mandante do crime por agentes de inteligência dos EUA e por uma investigação das Nações Unidas.

Mas o plano do IPO ganhou vida nova e, em agosto deste ano, o diretor financeiro da empresa disse aos investidores que estava preparado para a oferta inicial pública. A companhia já tinha aumentado a transparência e a clareza financeira para agradar aos investidores internacionais e o comentário do diretor financeiro de que a empresa está pronta para vender ações foi feito durante sua primeira comunicação de ganhos.

O interesse renovado em uma oferta pública inicial sugere que o príncipe herdeiro acredita que a enorme controvérsia em torno do assassinato de Khashoggi está passando e que pode, portanto, dar continuidade a seus planos.

Empresa precisa definir bolsa onde serão negociadas suas ações

A Aramco ainda precisa escolher onde a empresa negociará suas ações, o que representaria um enorme triunfo para qualquer bolsa de valores. Para a Aramco e para os sauditas, essa escolha é, sob muitos aspectos, a parte mais importante do processo da oferta inicial pública, de acordo com alguns observadores.

"Não se trata apenas dos resultados financeiros", afirmou David Buck, sócio do escritório de advocacia Sidley Austin, ao The New York Times. Os termos da oferta de ações, incluindo a escolha da bolsa de valores, serão "um comentário da Aramco sobre a própria empresa e o país".

A Aramco afirmou que gostaria de movimentar suas ações na Tadawul, a bolsa de valores da Arábia Saudita em Riad, e em algum mercado internacional. A bolsa de valores saudita tem reforçado seus recursos tecnológicos para lidar com o enorme volume de negócios que a abertura das ações da Aramco traria.

No momento, os olhos do mundo se voltam para onde a Aramco venderá suas ações fora do Oriente Médio. Mas a escolha também pode trazer algumas dificuldades para a empresa. Entre as principais bolsas de valores que desejam negociar as ações da Aramco estão:

  • A Bolsa de Valores de Nova York, que é a maior do mundo em capitalização de mercado e a preferida do príncipe Mohammed, devido ao seu prestígio. (O presidente Donald Trump incentivou publicamente a vinda da Aramco para Nova York em 2017.) Entretanto, profissionais especializados em IPOs afirmam que vender as ações da Aramco nos EUA pode deixar o governo saudita vulnerável a processos decorrentes dos ataques terroristas do 11 de setembro, entre outros.
  • A Bolsa de Valores de Londres também tem muita liquidez e seus executivos conversaram recentemente com autoridades sauditas durante a visita oficial de uma delegação britânica a Jeddah. A bolsa londrina também tornou menos rígidas as regras para empresas estatais, o que representa, segundo críticos, uma jogada para atrair a Aramco. Porém as incertezas em torno da saída do Reino Unido da União Europeia podem diminuir as chances de Londres.
  • A Bolsa de Valores de Hong Kong também mudou suas regras para beneficiar empresas como a Aramco. A instituição criou o que chama de linhas de "conexão primária" com a China, o que ajuda as grandes instituições financeiras chinesas a investir diretamente em ações negociadas em Hong Kong. Mas a turbulência dos protestos que tomaram conta da ilha nos últimos meses deve se prolongar, trazendo dúvidas sobre a escolha da bolsa.
  • A Bolsa de Valores de Tóquio é a terceira maior do mundo em capitalização de mercado, depois da Nasdaq, e a Aramco tem uma série de laços com o Japão. Com sede em Tóquio, o gigante do setor de tecnologia SoftBank firmou parcerias com os sauditas em diversos projetos, incluindo o fundo de capital de risco Vision Fund, avaliado em cerca de US$ 100 bilhões. (Al-Rumayyan é membro do conselho diretivo do SoftBank.) A Aramco fornece cerca de um terço do petróleo cru consumido pelo Japão, de acordo com a empresa. Mas a Bolsa de Valores de Tóquio não tem o mesmo prestígio que as de Nova York, Londres e Hong Kong.

Com informações da Bloomberg, The New York Times e Estadão Conteúdo

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]