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Veja como foi o desempenho da economia nacional |
Veja como foi o desempenho da economia nacional| Foto:

Investimentos caem ao pior nível desde 1996

Assustados com a crise e sufocados pela falta de crédito, empresários engavetaram projetos em 2009, o que resultou na maior queda nos investimentos para a ampliação da capacidade produtiva desde 1996, início da série do IBGE.

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Para Mantega, país fecha ano com "chave de ouro"

Seguindo fielmente o "script" segundo o qual o cenário apresentado pelo IBGE é um retrato do passado, o governo adotou o discurso de que o importante é que a economia brasileira já se recuperou da crise mundial e deve crescer mais de 5% em 2010. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, salientou que o país "fechou 2009 com chave de ouro". "Mesmo sendo uma retração 0,2%, foi um bom desempenho porque a maioria esmagadora dos países teve crescimento negativo forte. O Brasil teve um resultado razoável levando em conta que houve a maior crise do capitalismo dos últimos 80 anos." O ministro do Planejamento, Paul­­o Bernardo, afirmou que os números foram reflexo do primeiro semestre de 2009, que sofreu os impactos da crise. Ele ressaltou, porém, que o segundo semestre foi bom e que a expectativa é que o país cresça, neste ano, entre 5,2% e 5,5%. Mantega foi mais otimista e apostou num crescimento sustentado de 5,7% lembrando que "a crise ficou para trás". O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou, por meio de nota, que a economia brasileira entrou em fase de expansão vigorosa, após breve processo recessivo. Bernardo e Mantega também disseram que o presidente Lula ficou satisfeito com o resultado e agora está mais preocupado com o comportamento da economia em 2010. Segundo técnicos da área econômica, o presidente também teria dito que espera que nas próximas revisões de dados que o IBGE fizer, o número negativo do ano passado seja revisto.

Globo

Resultados têm influência chinesa

Com a maioria das grandes economias globais já tendo divulgado o seu resultado no ano passado, a constatação é que o efeito da crise no Brasil foi, apesar de expressivo, menor que o de boa parte dos seus pares e que o avanço da China acabou puxando também vários países. Ainda que alguns países tenham conseguido crescer em 2009, a maior parte não conseguiu escapar da contração; alguns deles, como a Alemanha, com quedas históricas – no caso do país europeu, o recuo foi o maior desde o fim da Segunda Guerra. Nesse cenário, a queda brasileira foi até branda. Emergentes como Rússia e África do Sul caíram muito mais. E muitos dos que conseguiram crescer devem parte do resultado à China, que, com seu consumo de matérias-primas e outros bens, serviu como uma espécie de "colchão’’ para outras economias. O próprio banco central da Austrália apontou o aquecimento da economia chinesa (a terceira maior do mundo) como um dos motivos para aumentar a taxa de juros. A demanda chinesa também colaborou para o resultado positivo da vizinha Coreia do Sul e até mesmo do Peru, onde as importações do país asiático cresceram 25% no ano passado, enquanto as vendas gerais peruanas para o exterior caíram 5%. Outros países em desenvolvimento que tiveram crescimento maior que o brasileiro foram os asiáticos Taiwan, Hong Kong e Tailândia. Não por acaso, esses países, especialmente os dois primeiros, têm economias muito ligadas à chinesa.

A crise global restringiu investimentos, reduziu exportações, abalou a indústria e desacelerou o consumo em 2009. A turbulência empurrou a economia brasileira para perto da estagnação: o Produto Interno Bruto (a medida da produção e da renda nacional) registrou variação negativa de 0,2% no ano passado, a primeira contração desde 1992. Naquele ano, o país vivia ainda sob a hiperinflação de mais de 20% ao mês e se via às voltas com o impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.

Embora tenha vindo com sinal negativo, o resultado de 2009 é encarado mais como de interrupção do crescimento do que de encolhimento, pelo IBGE. "Variações entre mais meio ponto e menos meio ponto são equivalentes a zero", afirmou Rebeca Palis, gerente de contas nacionais do IBGE, ao anunciar o PIB.

A avaliação é compartilhada por analistas. "O fato econômico relevante é que houve estagnação. Essencialmente, a economia em 2009 foi igual a 2008, ou seja, um ano perdido", disse o economista Armando Castelar, analista da Gávea Investimentos.

Desde o fim do ano passado, o cenário mudou: a economia está aquecida e cresce atualmente num ritmo entre 5% e 6% anuais, segundo especialistas. "Esse crescimento para 2010 está dado até por causa da fraca base de comparação", avaliou Sérgio Vale, economista da MB Associados.

Já no quarto trimestre, o PIB avançou 2% na comparação livre de influências sazonais com o terceiro trimestre. Para este ano, está prevista uma forte recuperação da indústria – que teve queda recorde de 5,5% em 2009, a maior da nova série do PIB, iniciada em 1996 – e dos investimentos – com retração de 9,9%, também a mais expressiva da nova série.

Causas

Olhando para o retrovisor, a economia padeceu em 2009 com a redução extrema do crédito, a fraca demanda mundial e o menor otimismo de empresários – e de consumidores, em menor escala. Medidas como a desoneração de tributos em artigos como carros, geladeiras, fogões e móveis, e a expansão do crédito em bancos públicos conseguiram atenuar esses efeitos e impulsionar o consumo das famílias – que cresceu 4,1%, o menor nível desde 2004 (3,8%).

Foi esse consumo, mesmo abaixo da média recente, que impediu uma freada mais forte da economia. O governo também ampliou gastos como forma de fazer política anticíclica: seu consumo aumentou 3,7% em 2009.

Sob a óptica da produção, o setor de serviços, menos sujeito às crises e embalados pelo consumo interno, avançou 2,6% em 2009 e atenuou a queda do PIB.

A crise travou também o comércio exterior do país: as exportações recuaram 10,3%. As importações cederam com mais intensidade: 11,4%. Desse modo, o país teve a primeira contribuição positiva do setor externo para a economia desde 2005, com acréscimo de 0,1 ponto porcentual.

Indústria e investimentos

Já a queda da indústria foi tão forte que o setor perdeu peso no PIB: de 27,3% em 2008 para 25,4% em 2009. O mesmo ocorreu com os investimentos – cuja taxa como proporção do PIB cedeu de 18,7% em 2008 para 16,7% em 2009.

Para 2010, por outro lado, a indústria e os investimentos devem liderar o crescimento, em boa medida graças à enfraquecida base de comparação. Nem mesmo a prevista alta da taxa básica de juros, dizem especialistas, vai abortar o crescimento deste ano.

"O consumo ainda deve permanecer forte, mas não vai sustentar o nível do último trimestre, quando tivemos antecipação de consumo por conta da expectativa do fim dos incentivos fiscais. Permanece elevado, porém, porque vem sustentado por uma classe média emergente, que quer consumir e que não teve a renda abalada pela crise", avalia Bernardo Wjuniski, economista da Tendências Consultoria.

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