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Indústria foi o segmento produtivo com maior queda no ano passado. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Indústria foi o segmento produtivo com maior queda no ano passado.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 3,8% em 2015, a maior contração já registrada desde 1990, ano do Plano Collor, quando a economia encolheu 4,35%, segundo o IBGE. O último resultado negativo havia sido registrado em 2009 (-0,1%), no auge da crise econômica mundial. Em 2014, o PIB teve leve alta de 0,1%.

O resultado surpreende. No último relatório Focus, divulgado pelo Banco Central na segunda-feira, a média das expectativas dos analistas indicava queda de 3,8%. E, se as previsões do mercado para a atividade econômica em 2016 se confirmarem, o país terá um segundo ano seguido de recessão.

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Se isso ocorrer, será a primeira vez que o país registrará dois anos consecutivos de contração na economia, de acordo com a série do IBGE, iniciada em 1948. Todas as seis vezes em que o país fechou o ano com PIB negativo foram sucedidas por uma rápida recuperação nos anos seguintes.

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A retração do PIB, que representa a soma de todas as riquezas produzida no país durante um período, se espalhou por todos os segmentos que compõem a demanda da economia. O consumo das famílias, que vinha sustentando o crescimento econômico nos últimos anos, encolheu 4% em 2015. Os gastos do governo caíram menos, cerca de 1%, indicando a dificuldade em se fazerem cortes nos gastos públicos. A maior queda foi nos investimentos, que recuaram 14,1%.

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Essa demanda mais fraca atingiu em cheio a indústria e o setor de serviços. O PIB industrial caiu 6,2%, enquanto o de serviços caiu 2,7%. Somente o setor agropecuário apresentou crescimento, de 1,8%, ajudado pelo câmbio favorável às exportações e que compensou parte da queda nos preços das commodities agríc olas.

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Aceleração

Chama a atenção nos dados do IBGE o fato de a retração econômica ainda estar se acelerando. No último trimestre de 2015, a queda do PIB foi de 5,9%, na comparação com o mesmo período de 2014 – a queda no primeiro trimestre, na mesma base de comparação, foi de 2%, acelerando para 3% no segundo trimestre e para 4,5% no terceiro trimestre.

No quarto trimestre, os investimentos tiveram um recuo de 18,5% na comparação com o mesmo período de 2014, enquanto o consumo das famílias caiu 6,8% e os gastos do governo recuaram 2,9%.

Per capita

Com a forte queda na atividade econômica, o PIB per capita, o PIB dividido pela população, recuou 4,6% em 2014, atingindo o valor de R$ 28.876. É uma queda bem mais acentuada do que o recuo de 0,8% já registrado em 2014.

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Nos últimos 15 anos, o valor per capita do PIB recuou em apenas mais dois anos: 2009 (-1,2%), refletindo os efeitos da crise internacional de 2008, e em 2003 (-0,2%), ano em que o país lidou com inflação alta e uma grande desvalorização do real.

Recuperação

Não é possível dizer a partir dos dados do PIB quando a economia vai começar a se recuperar. A queda entre os trimestres do ano passado atingiu seu ponto mais alto no segundo trimestre, quando houve um recuo de 2,1% em relação ao primeiro trimestre.

Nos três meses seguintes, a queda foi menor, de 1,7%, em relação ao segundo trimestre. Os dados divulgados nesta quinta-feira trazem um dado melhor, de queda de 1,4% no quarto trimestre em relação ao terceiro.

Como índices que antecipam a atividade econômica continuam ruins neste início de ano, é provável que o PIB continue caindo nessa base de comparação por mais dois ou três trimestres.

Só quando esse índice chegar a zero ou virar para um número positivo a economia estará estabilizada.

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O encolhimento de 3,8% do PIB em 2015 vai consolidando a posição do Brasil entre as economias com pior desempenho no planeta. No ranking de desempenho do PIB, elaborado pela Austin Rating, que contempla 32 países, o Brasil aparece na 30ª posição.

Como ocorrera nos três primeiros trimestres de 2015, novamente a economia brasileira só não teve pior desempenho do que a Ucrânia, que amargou retração de 6,4% no ano passado, em função do conflito militar com a Rússia; e a Venezuela, cujo PIB caiu em meio à profunda crise econômica, que se agravou com a queda no preço do barril do petróleo.

“O cenário de recessão, definitivamente, está confirmado com o resultado do acumulado de 2015 e, muito provavelmente, também ocorrerá em 2016. A nossa estimativa é de queda de 2,9% para o PIB de 2016, e provável crescimento, mesmo que medíocre, para 2017”, diz o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, responsável pela elaboração do ranking.

Se confirmadas as estimativas para 2016, este será o biênio com o pior desempenho econômico do Brasil em 85 anos, destaca Agostini.

“A última vez que o Brasil anotou queda do PIB por dois anos consecutivos foi em 1930 (-2,1%) e 1931 (-3,3%), refletindo, em parte, o crash da bolsa de Nova York em 1929, e o ambiente político nacional conturbado com o fim da oligarquia paulista devido à Revolução de 1930”, lembra.

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