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Edifício-sede da Petrobras no Rio de Janeiro.
Edifício-sede da Petrobras no Rio de Janeiro.| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O lucro de R$ 44,561 bilhões da Petrobras no primeiro trimestre de 2022, 3.718% acima do resultado dos três primeiros meses de 2021, colocou a empresa como a mais lucrativa do setor no período em todo o mundo. O resultado gerou críticas por parte do presidente Jair Bolsonaro (PL), que o associou à escalada nos preços dos combustíveis praticados pela companhia. Mas o que realmente explica o lucro recorde?

A ordem de grandeza do crescimento se explica, primeiro, porque nos primeiros meses de 2021 o setor ainda era fortemente prejudicado pela crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus. Naquele trimestre, o lucro líquido foi de R$ 1,167 bilhão. De lá para cá, o preço do barril de petróleo no mercado internacional saltou 67% na comparação.

Ainda assim, há uma tendência de melhora nos resultados da empresa nos últimos anos. Se em 2015, a Petrobras registrava prejuízo líquido de R$ 34,8 bilhões, em 2021, a companhia teve lucro de R$ 106,6 bilhões.

Analistas do setor explicam que os números são resultado de uma série de ações adotadas pela empresa a partir de 2016, associada a uma conjuntura favorável de curto prazo.

“O primeiro fator está associado à mudança na política de estrutura de capital da empresa. A Petrobras virou um pouco a chave e passou a ser uma empresa orientada à exploração e produção de petróleo e à exportação, justamente para a política de preços de paridade de importação”, diz o head de análise da Warren, Fred Nobre.

Nesse processo, a Petrobras iniciou um processo de desinvestimento de vários ativos considerados não essenciais, com o objetivo de aumentar a eficiência e também para gerar caixa, que permitiu à empresa reduzir seu endividamento, de US$ 132,1 bilhões em 2014 para os atuais US$ 58,6 bilhões.

O carro-chefe da estatal passou a ser a exploração na camada do pré-sal, hoje responsável por mais de 75% do que é produzido em território nacional. “O foco nos ativos do pré-sal permitiu à companhia reduzir substancialmente o custo de extração de óleo e gás, bem como aumentou a rentabilidade do capital empregado”, diz Andre Vidal, head de Óleo, Gás e Materiais Básicos da XP Investimentos.

Para se ter uma ideia, enquanto a cotação do barril de petróleo flutua na casa dos US$ 110, o custo de produção de um barril na camada do pré-sal para a Petrobras gira em torno de US$ 5.

Vidal cita ainda o aprimoramento da governança corporativa da empresa, tanto por forças externas, como a Lei das Estatais, de 2016, quanto internas, como a implantação do estatuto social, após as descobertas da operação Lava Jato.

Já em termos de cenário, a alta na cotação internacional do barril Brent, utilizado como referência no mercado de petróleo, e a valorização do real frente ao dólar, ajudaram a impulsionar o resultado da companhia.

Em conferência sobre os resultados na sexta-feira (6), o presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, atribuiu o bom desempenho à alta do petróleo e do gás por causa da guerra na Ucrânia, o que que ampliou a margem da empresa em suas exportações.

Para onde vai o lucro da Petrobras?

Apesar de ser controlada pela União, os bons resultados da Petrobras foram duramente criticados pelo presidente Bolsonaro, que associa o lucro da empresa à alta nos preços dos combustíveis. Segundo ele, a Petrobras fatura “dezenas de bilhões de reais por ano às custas do nosso povo brasileiro”.

“Sei que tem acionistas. Mas quem são os acionistas? Fundos de pensões dos Estados Unidos. Nós estamos bancando pensões gordas nos Estados Unidos. Petrobras, estamos em guerra. Petrobras, não aumente mais o preço dos combustíveis. O lucro de vocês é um estupro, é um absurdo. Vocês não podem aumentar mais os preços dos combustíveis”, disse o presidente em uma live na última quinta-feira (5).

Andre Vidal, da XP, explica que a maior parte do lucro da estatal vem da unidade de exploração e produção. “Nos últimos quatro trimestres, a Petrobras reportou Ebitda consolidado de US$ 49,6 bilhões, sendo que US$ 45,1 bilhões foi gerado na unidade de exploração e produção – 91% do total. Ou seja, não é a política de precificação de derivados que é a responsável pelos altos lucros da Petrobras, mas sim a combinação de eficiência em exploração e produção com um ambiente internacional de preço do petróleo alto no mercado internacional”, afirma.

Para Fred Nobre, da Warren, as críticas do presidente não se sustentam. “É claro que o cidadão é afetado pelo preço dos combustíveis mais alto. Mas atacar a Petrobras e a política de preços não faz sentido”, diz.

“A grosso modo, a Petrobras responde por cerca de 80% dos combustíveis que a gente consome aqui, ou seja, ainda dependemos de 20% de importação. Se a Petrobras não segue uma lógica de preços orientada pelo mercado, os outros refinadores privados e as empresas importadoras de combustíveis quebram. E você pode gerar o risco de desabastecimento em algumas regiões do Brasil”, afirma.

Além disso, explica, o principal acionista da Petrobras é a União, de modo que um bom desempenho da companhia é revertido em recursos para o próprio governo.

A União possui, diretamente, 28,67% das ações da Petrobras, mantendo o controle por ter 50,3% dos papéis ordinários da empresa. Participa ainda por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que detém 1,04% da companhia, e da BNDES Participações, que detém outros 6,9%. Os dados são referentes ao mês de abril.

Assim, cerca de R$ 17,76 bilhões, dos R$ 48,5 bilhões que a empresa pretende distribuir em dividendos, irão para o governo. Em 2021, dos R$ 106,6 bilhões que a Petrobras lucrou, R$ 37,3 bilhões foram pagos à União em dividendos. Todo esse recurso vai para o Tesouro Nacional e não tem destinação obrigatória.

“É fundamental para a União que a companhia se mantenha saudável, que ela continue gerando recursos e cabe à União fazer o melhor proveito disso. É muito mais jogo você sentar e formular uma política para melhor utilização dos grandes dividendos que são pagos do que vociferar contra a geração de riqueza do próprio país”, diz Ilan Arbetman, analista de petróleo e gás da Ativa Investimentos.

Fora os dividendos, apenas no primeiro trimestre do ano, R$ 69,9 bilhões, o equivalente a 57% da geração de caixa operacional, foram pagos em impostos a União, estados e municípios. “Nesse 1º trimestre, a Petrobras pagou, somente em tributos para União, estados e municípios, 1,5 vez o valor de seu lucro líquido. Então, um bom resultado da Petrobras repercute também para a sociedade como um todo”, disse o presidente da estatal.

Do restante que não é distribuído a acionistas, a estatal estabeleceu, em seu Plano Estratégico 2022-2026, a área de exploração e produção como foco prioritário de investimento, concentrando 84% do Capex no período.

No primeiro trimestre de 2022, foram investidos US$ 1,37 bilhão no segmento, sendo aproximadamente 61% em growth (crescimento). Desse montante, cerca de US$ 500 milhões foram para o desenvolvimento da produção em águas ultra-profundas do polo pré-sal da Bacia de Santos, US$ 200 milhões para novos projetos em águas profundas e US$ 100 milhões em investimentos exploratórios no pré e pós-sal.

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