• Carregando...
 | /Reprodução
| Foto: /Reprodução

O cruzamento mais movimentado do estado de Wyoming fica na esquina da Broadway com a Cache, na minúscula cidade-resort de Jackson, na região dos Rockies. São duas faixas em cada sentido. A única razão para que alguém de fora da cidade tome conhecimento desta esquina é que é preciso pegar à esquerda para chegar aos parques estaduais.

Mas, ultimamente, esse cruzamento tem desfrutado de uma certa fama. Milhares de pessoas assistem em tempo real ao seu tráfego diário pelo YouTube, e é difícil imaginar a propósito de quê. Os caminhões, minivans e pedestres passam, todos aparentemente sem saber que estão sendo observados.

O que há para ver na transmissão ao vivo, afinal? Nas palavras de um aficionado: “minha coisa favorita no mundo”.

Facebook Messenger copia Snapchat e adiciona transmissão de vídeo ao vivo

O recurso Instant Video permite aos usuários do Messenger gravarem vídeos em tempo real nas trocas de mensagens de texto

Leia a matéria completa

Este pode ser o ápice da “slow internet” [“internet lenta”] -- um gênero que está ganhando força viral, não importa o quão paradoxal seja seu nome. Um desdobramento da “slow TV” [“TV lenta”], o entretenimento da internet lenta se revela no indeterminável, em cenas tão banais que dificilmente seriam gravadas.

Pense em transmissões ao vivo de ruas pacatas ou recipientes de alimentação de aves vazios; calçadas na cidade ou equipes de limpeza trabalhando. Os temas são cotidianos, monótonos, maçantes -- e, subitamente, muito populares.

“Ninguém sabe realmente por que tantas pessoas estão acompanhando”, diz Bob Strobel, marketeiro digital de 41 anos que lançou o streaming de Jackson em 2014. “Foi muito surpreendente.”

Surpreendente, talvez -- mas não imprevisível. Apenas alguns dias após o livestream de Strobel se tornar viral, o Museu Americano de História Natural começou a promover uma “transmissão especial on-line” dos trabalhadores lavando uma baleia azul. Em alguns momentos, mais de 200 espectadores podiam estar acompanhado o streaming com imagens de alimentadores de pássaros ao ar livre no Laboratório de Cornell; bem como 3.700 pessoas estão registradas para acompanhar a movimentação em um cruzamento de via férrea em Bergenfield, New Jersey.

Há transmissão de exposição de zoológicos. Aquários, igrejas, centros urbanos, organizações sem fins lucrativos e com fins lucrativos transmitindo seu dia a dia (que frequentemente não tem nada de especial) para toda a Internet para ver.

Mas por que esses ‘voyeurs’ têm tornado os vídeos virais? Esse é o verdadeiro mistério. Parte do apelo, sem dúvida, é semelhante ao que alimenta a slow TV: imagens meditativas e de qualidade arrastada; a facilidade de desligar quando quiser e a facilidade de simplesmente deixar o vídeo rolando em segundo plano.

Thomas Hellum, o produtor pioneiro em slow TV na Noruega teorizou, no passado, que esta forma de transmissão faz sucesso porque exige pouco de telespectadores: “você pode estar com um laptop, se não dois, no seu colo”, disse ao Washington Post, “e se você piscar por 10 segundos, não perderá nada” .

Mas ‘internet lenta’ é diferente da ‘TV lenta’ -- em muitos aspectos, é um gênero próprio. Como a internet lenta transmite em tempo real, muitas vezes acompanhada de chats, é uma forma inerentemente social: aqueles que querem se envolver mais podem fazer perguntas ou brincar com outros espectadores.

Fãs do livestream de Jackson fizeram disso um esporte: celebram quando um cão ou um caminhão vermelho passa. Cada vez que surgem; os internautas vão à loucura.

“Há, definitivamente, a sensação de uma atividade em conjunto”, diz Richard Rippon, que ficou famoso por fazer o streaming de uma poça d’água no Reino Unido para um público de mais de 500 mil pessoas, em janeiro. “Estávamos todos assistindo à poça e comentando. É como se você estivesse assistindo a um jogo de futebol. Quando começa, não dá perder nada. Mesmo que nada esteja acontecendo... Há o sentimento de que algo possa acontecer”.

Mas, a popularidade recente da internet lenta pode ter mais a ver com os locais onde são encontradas do que qualquer outra coisa: os vídeos ao vivo se tornaram, recentemente, uma prioridade para maiores redes sociais do mundo, como YouTube e Facebook.

Strobel, por exemplo, não acha que alguém estaria assistindo ao centro de Jackson se o YouTube não desse aos vídeos ao vivo algum tipo de impulso algorítmico; ele não encontra outra razão para explicar por que, depois de dois anos de obscuridade, seu streaming se tornou tão popular.

Apesar disso, Strobel não se diz apegado à fama recém-adquirida -- ele sabe que a atenção vai, inevitavelmente, passar. Para ele, a internet lenta sempre foi mais do que uma moda cultural de curta duração. Ele instalou suas webcams com o objetivo de mostrar Jackson para o mundo e, mesmo quando o buzz passar, ele continuará a fazer isso.

E assim segue o trânsito na esquina da Broadway com a Cache.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]