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Abdullah Mamun, de Bangladesh, no College of the North Atlantic, em St John’s Newfoundland | ANDREW TESTA/NYT
Abdullah Mamun, de Bangladesh, no College of the North Atlantic, em St John’s Newfoundland| Foto: ANDREW TESTA/NYT

No College of the North Atlantic, uma jovem chinesa discutia sobre seu futuro com dois outros estudantes, um de Bangladesh e outra da Coreia do Sul, em meio a dezenas de jovens de pele clara, naturais da Terra Nova, vestidos com casacos pesados e moletons de capuz a caminho da sala de aula. “Aqui o ambiente é muito bom, então acho que vou ficar pelo bem da minha saúde”, afirmou Fei Jie, da província chinesa de Shandong, no leste do país. Os outros dois também disseram que planejam ficar no país após a graduação e, eventualmente, se tornarem cidadãos canadenses.

Sua trajetória não é acidental. Existem 300 mil estudantes universitários estrangeiros no Canadá como parte de uma estratégia do governo canadense para mudar a demografia do país, trazendo trabalhadores bem formados e habilidosos por meio do sistema universitário. Essa é a resposta do país ao envelhecimento da população e à baixa taxa de natalidade, além de um esforço para melhorar sua base fiscal.

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Em novembro do ano passado, o governo federal modificou seu sistema eletrônico de seleção de imigração, conhecido como Express Entry, para facilitar a obtenção de cidadania por parte de estudantes internacionais. Além disso, um projeto de lei que foi submetido ao Senado vai reestabelecer uma lei que conta metade do tempo que os estudantes passam nas universidades canadenses como o período exigido para a obtenção da cidadania.

O país precisa de imigrantes talentosos para preencher as lacunas deixadas por uma população pequena, esparsa e envelhecida. De acordo com a Secretaria de Imigração, Refugiados e Cidadania do Canadá, o departamento de imigração do país, os imigrantes já são responsáveis por 75% do crescimento anual da mão de obra do país e, em 10 anos, serão responsáveis por 100%.

A estratégia, que se baseia em uma tendência de dez anos, foi formalmente criada em 2014 e parece estar funcionando. No ano escolar de 2015-16, a população internacional das universidades do Canadá cresceu 8%, chegando a mais de 350 mil estudantes – o que equivale a cerca de 1% da população do país. O número de estudantes internacionais nos Estados Unidos é de menos de 0,3% da população.

O Canadá espera chegar a quase meio milhão de estudantes estrangeiros matriculados no país nos próximos 10 anos. E mais da metade dos alunos estrangeiros espera ficar no país e obter a cidadania canadense, de acordo com uma pesquisa do Escritório de Educação Internacional do Canadá.

“Todas as peças já estão no lugar, desde a boa reputação do nosso sistema educacional, até a fama do país como um lugar tolerante e seguro, passando pela acessibilidade da educação no Canadá e as oportunidades de permanência que oferece aos estudantes estrangeiros”, afirmou Karen McBride, presidente do Escritório de Educação Internacional do Canadá, associação de instituições de educação.

A internacionalização da educação canadense promete um efeito profundo e duradouro no país, conectando-o a outros países e culturas por meio de laços familiares e da perspectiva de cidadania oferecida aos estudantes internacionais. Alguns desses estudantes podem até mesmo alcançar posições de poder nacional. O novo ministro da imigração do Canadá, por exemplo, chegou ao país como refugiado da Somália e se formou em direito pela Universidade de Ottawa.

Contudo a estratégia também pode levar a tensões similares às vistas nos Estados Unidos e na Europa, à medida que a constituição da sociedade canadense se transforma e setores menos educados de segmentos da classe trabalhadora de maioria branca se sentem deixados de lado.

Eun Young, da Coreia do Sul, também é estudante do College of the North AtlanticAndrew Testa/The New York Times

Desde o início dos anos 1970, quando o Canadá adotou o multiculturalismo, o porcentual das “minorias visíveis” chegou a 20% da população total. O órgão de censo e estatística canadense prevê que esse número chegará aos 30% em 2030. Nessa altura, as pessoas de pele branca serão minoria nas populações de Toronto e Vancouver.

Até o momento, os canadenses demonstraram uma abertura impressionante ao influxo de estrangeiros, uma das maiores taxas de imigração per capita do mundo desenvolvido. Embora as pesquisas demonstrem um crescimento gradual da preocupação com o fluxo migratório, em sua maioria ligado a migrante sírios sem qualificação, o país como um todo continua aberto aos estrangeiros.

Contudo, os estudantes internacionais já estão superando os canadenses em algumas das principais faculdades do país. Os estudantes estrangeiros da McGill University, em Montreal, correspondem a 25% das matrículas. Na Columbia Britânica, onde os estrangeiros respondem por 18% das matrículas, as pessoas começam a se queixar pelo fato de que os estudantes locais são deixados de lado em favor de estrangeiros que pagam mensalidades mais altas.

A Universidade da Columbia Britânica criou uma controvérsia com seus planos de gastar US$ 95 milhões para construir uma escola, o Vantage College, para estudantes estrangeiros – em sua maioria chineses – que precisam melhorar o inglês antes de se matricular na universidade.

Tensões similares também surgiram em faculdades dos Estados Unidos, que cada vez mais dependem das mensalidades pagas pelos estrangeiros para equilibrar os orçamentos.

Os estudantes internacionais geralmente pagam mais do que os canadenses e muitos, especialmente da China, vêm de famílias ricas ansiosas por se instalar na América do Norte. O dinheiro que esses alunos trazem ajuda a subsidiar a educação dos canadenses, mas também distorce a economia local.

Cerca de metade dos estudantes internacionais do Canadá vêm da China, e o governo quer ainda mais. O ex-ministro da Imigração John McCallum, recentemente escolhido como embaixador do Canadá na China, se reuniu com autoridades chinesas em agosto do ano passado, esperando dobrar ou até mesmo triplicar o número de centros de pedidos de visto para o Canadá no país. Atualmente, a China conta com quatro centros desse tipo, excluindo Hong Kong.

Amit Chakma, reitor da Universidade de Western Ontario, foi chefe de um painel formado em 2012 pelo governo para desenvolver a estratégia educacional do país e afirmou que ainda há muito espaço entre as instituições de pequeno porte e alta qualidade do Canadá, que têm dificuldades para encher as salas de aula, após uma queda geral no número de matrículas de estudantes canadenses.

Não são apenas as cidades grandes que atraem estudantes estrangeiros. Colégios de ensino médio, técnico e superior de todo o país estão sentindo o influxo de estudantes internacionais. O crescimento mais rápido do último ano foi registrado na pequena Ilha do Príncipe Eduardo, a menor província do Canadá. Enquanto isso, o site do Yukon College foi traduzido para o chinês, o japonês, o coreano e o português.

Até mesmo as regiões centrais do país estão recebendo estudantes. O Instituto Saskatchewan de Ciências Aplicadas e Tecnologia em Regina, por exemplo, expandiu seu Sistema Internacional de Teste de Língua Inglesa para atender à demanda, que dobrou em função dos estrangeiros que precisam ser aprovados no exame de proficiência em inglês exigido pela imigração.

Jack Wu, que veio da China, é gerente de projetos de sistemas de proteção de circuitos para linhas de transmissão hidrelétrica. Ele estudou no College of the North Atlantic, em St. John’s, antes de receber o diploma de engenharia elétrica em 2005 na Universidade Lakehead, em Ontario. Ele e a esposa imigraram por meio de um programa estadual para pessoas que haviam estudado em Terra Nova e Labrador. O processo para ir de estudante a cidadão levou um total de dois anos e meio para o casal. “Nossas filhas nasceram aqui”, afirmou Wu com orgulho.

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