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Bruna Klassman conquistou o emprego no último mês da faculdade | Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
Bruna Klassman conquistou o emprego no último mês da faculdade| Foto: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Dependendo da área, vagas são mais escassas

Formada em Relações Internacionais, Bruna Klass­mann, 21 anos, conseguiu o primeiro emprego no último mês de faculdade, em dezembro passado, após mais de um ano de procura e cerca de 20 tentativas. Ela está trabalhando na agência de intercâmbio World Study, onde é responsável pela parte operacional dos cursos, cuidado da documentação, vistos e outras burocracias do processo de intercâmbio. O caso dela reflete a dificuldade dos jovens mais bem qualificados de se posicionarem no mercado – com a agravante de o mercado para internacionalistas ser ainda restrito no país. Segundo ela, da sua turma da faculdade, a maioria foi trabalhar com comércio exterior e alguns optaram por fazer duas graduações, combinando a formação com curso de Direito, com o objetivo de trabalhar na área de Direito Internacional. "Também tem aqueles que estão estudando para o Instituto Rio Branco, mas, de maneira geral, o mercado para formados nessa área é bem difícil", acredita ela.

A cena clássica que se imagina quando uma pessoa vai procurar emprego – olhar os classificados, esperar por entrevistas – não condiz com a história de Leandro Justin. "Não fiz nem currículo", conta o professor de inglês de 21 anos. E foi contratado há algumas semanas pela primeira empresa em que bateu à porta em busca de trabalho, numa escola de idiomas.

Leandro faz parte de uma juventude brasileira que, desde 2003, viu o desemprego cair praticamente à metade. Em 2011, a taxa de desocupação dos jovens de 18 a 24 anos, nas seis principais regiões metropolitanas do país, fechou em 13,4% – ainda elevada, mas bem distante dos 23,4% vistos em 2003. Cenário que contrasta com o que se nota nos países desenvolvidos, onde a crise atormenta os jovens europeus com taxas de desemprego próximas a 50%.

"Quem procura encontra trabalho. Pode não dar muito para escolher. Mas minha opção foi levar dinheiro para casa. Estou satisfeito", diz Leandro.

A percepção dele se observa em números da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. Segundo Cimar Azeredo, gerente da PME, o nível de ocupação dos jovens de 18 e 24 anos cresceu 11,7% nos últimos oito anos – acima da dos adultos, que aumentou 8,9%. De um lado, o bom momento da economia brasileira nos anos recentes tornou mais dinâmico o mercado de trabalho, e esse movimento favoreceu os mais novos também. Por outro, os jovens fizeram a sua parte e aumentaram a escolaridade. Dados da Pnad de 2009 indicam que mais da metade desses jovens cursa ou possui nível médio.

"A mão de obra brasileira está mais qualificada e, por isso, parte em busca de ocupações que exigem mais formação. Não é à toa que serviços domésticos ficaram mais caros justamente por falta de gente. Hoje, funções que surgiam por falta de oportunidade, como emprego doméstico, já não são mais a primeira opção do jovem que sai da escola. Isso é uma mudança na estrutura do mercado de trabalho e o jovem, certamente, é um dos protagonistas desse processo", aponta Azeredo, acrescentando que faltam a esse jovem políticas de inserção no mundo do trabalho. "O pesadelo de terminar uma faculdade e ficar sem trabalho ainda existe."

Qualificação é preocupante

Na avaliação de Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), a taxa de desemprego dos jovens é tradicionalmente acima da média do mercado. Contudo, para ele, no Brasil a distância entre os indicadores é maior do que deveria ser. "Ainda assim, o jovem brasileiro é o mais otimista, numa comparação feita em 132 países. Há, sem dúvida, uma melhora e uma perspectiva de que as coisas vão melhorar."

Mais velhos

Na outra extremidade, as estatísticas também trazem um cenário mais positivo. De 2003 para 2011, a taxa de desocupação dos profissionais com mais de 50 anos saiu de 5,3% para 2,3%. "É pleno emprego", conclui João Sabóia, professor do Instituto de Economia da UFRJ.

Após quase 30 anos na área de saúde, Rosana Maia, 58 anos, decidiu recomeçar. Fez cursos de gastronomia e hoje dá aulas, presta consultoria e ainda organiza eventos. "É como se eu estivesse com 15 anos: me sinto apaixonada novamente pela vida. O diploma da atual profissão mais a minha experiência me garantiram um recomeço feliz", diz a chef de cozinha.

Bem qualificados têm menos oportunidades

Um mercado de trabalho mais dinâmico que o de outros países não traz necessariamente os melhores empregos, afirma o economista Naércio Menezes, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa. Muitos jovens estão ocupando funções abaixo de sua formação.

"A oferta de vagas que exigem mais qualificação não cresce no mesmo ritmo da demanda dos jovens com mais anos de estudo. Além disso, os ganhos das ocupações com pouca qualificação cresceram mais que aquelas que exigem, por exemplo, nível superior", afirma Menezes.

Essa é mesma opinião da economista Mõnica de Bolle, da Galanto. Para ela, a qualificação do jovem brasileiro ainda é muito baixa quando comparada a outros países, inclusive a China. "Apesar das vagas que se abrem numa economia com uma dinâmica de crescimento razoável, é bastante preocupante o tipo de qualificação dos jovens brasileiros. O Brasil está pessimamente colocado em competições internacionais de matemática ou ciências. Já a China aparece em primeiro lugar em muitas delas", diz.

Se na Europa — e também nos EUA — as famílias se ressentem de um mercado de trabalho em retração, no Brasil os jovens conquistaram o direito de adiar a entrada no universo do emprego. Uma possibilidade que veio com o crescimento da renda dos brasileiros e políticas sociais que permitiram que muitos jovens optassem pelos bancos escolares em detrimento a um posto em uma empresa.

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