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Aline Rodrigues (segunda da esq. para dir.) com colegas da Arbotec: 80% dos cargos de direção são ocupados por mulheres. | Antônio More/Gazeta do Povo
Aline Rodrigues (segunda da esq. para dir.) com colegas da Arbotec: 80% dos cargos de direção são ocupados por mulheres.| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Gisele Meter e Aline Rodrigues vivem uma situação no mercado de trabalho que destoa das estatísticas: ocupam cargos na diretoria e atuam em empresas que têm maioria feminina na liderança. Para efeito de comparação, apenas 10% dos CEO’s no Brasil são mulheres, segundo pesquisa conduzida pelo Great Place to Work.

Gisele, diretora de desenvolvimento na BM pré-moldados, conta que a parte estratégica em sua empresa tem 13 mulheres e 12 homens. Já na Construtora Arbotec, onde Aline é gerente, o índice é ainda mais expressivo: 80% dos cargos de direção são ocupados por mulheres.

Os dados

Entre gerentes e supervisores, 43% são mulheres.

Entre executivos e gestores sênior, este número cai para 25%.

Dentre os diretores-executivos (CEO’s), 10% são mulheres.

Salários

Em média, o salário da mulher representa 84% do que os colegas recebem.

Em cargos de média liderança, essa diferença chega a 81% . Entre a alta liderança, a 73%.

Para fazer com que cenários como esses se multipliquem, o Great Place to Work vai reconhecer as empresas que valorizam a mão de obra feminina e colocam em prática ações que promovem a equidade de gênero. A pesquisa será aplicada ao longo deste ano e o resultado apresentado no dia 8 de março de 2017.

Qualquer empresa com mais de cem funcionários pode participar, mas apenas as que tiverem a taxa mínima de presença feminina (35% no total de funcionários, 30% em cargos de liderança) serão consideradas.

Segundo Tânia Datti, diretora de consultoria e capacitação do Great Place, a diversidade no ambiente de trabalho está ganhando o reconhecimento que merece. Com essa pesquisa, que será aplicada todos os anos, ela afirma que será possível trazer números, dados e fatos atualizados para catalisar as ações de empresas engajadas na causa.

Diversidade

O Great Place trabalha em parceria com a ONU Mulheres. Para Tânia, a diversidade por si só já favorece os negócios. “Existe uma diferença nos pensamentos feminino e masculino. As questões de negócios são racionais, mas você tem vários mapas mentais para analisar uma situação.”

Gisele Meter (ao centro à frente) com profissionais da BM pré-moldados: parte estratégica da empresa tem 13 mulheres.Antônio More/Gazeta do Povo

Preconceito no mercado

Se na maioria das empresas as mulheres têm menor expressão, as dificuldades que Aline Rodrigues e Gisele Meter encontraram foram ainda maiores. É que, segundo elas, o mercado da construção civil ainda é muito machista. Rodrigues conta que, quando sai do escritório para visitar as construções, ela e suas colegas sentem a ironia de quem diz que “chegaram as meninas de salto na obra”, mas não se intimidam. “Se a gente se importar com esse comportamento, a gente desestabiliza, fragiliza e deixa eles passarem por cima de nós”. Para a gerente da Arbotec, o preconceito é uma questão cultural que ela supera demostrando conhecimento sobre o trabalho. “A gente consegue descontruir essa imagem porque mostramos que estamos ajudando a pessoa a crescer”, afirma.

Meter conta que, no começo, foi difícil explicar a importância da equidade de gênero para os outros diretores. “Foi algo que teve de ser ensinado e praticado. Quando contratamos a primeira mulher, não tinha nem banheiro feminino no parque fábril. Eu procurei em grandes empresas, que são referência, ações semelhantes ao que a gente queria implementar aqui. Tive que mostrar dados e resultados que sustentassem o programa”. Hoje, as mulheres da empresa são reconhecidas como um grupo, mas ainda lutam para que essa visão seja atribuída a cada uma delas individualmente. Para isso, elas investem em capacitações para poder fazer seu trabalho sem precisar depender de terceiros. “É para não depender de pessoas que acham que, só porque somos mulheres, precisamos de ajuda”, afirma Meter.

Esse também é o perfil profissional das mulheres que atuam na Construtora Arbotec. “A gente consegue descontruir esse aspecto frágil da mulher porque aqui não tem ‘mimimi’. Tem que viajar, virar a noite, deixar marido em casa com os filhos, porque a gente está na rua assumindo as broncas”, afirma Rodrigues. Segundo ela, a rotina intensa faz com que haja abertura para todo tipo de serviço, sem distinção de cargo. “A gente carrega tapume, pega o pano para tirar o pó da obra. E se estragar o carro a gente empurra também”, diz.

Ações de empoderamento

Na BM pré-moldados, todo mês, as mulheres se reúnem com o objetivo de trabalhar a questão da sororidade (união entre mulheres, baseada na empatia e companheirismo). Construindo uma visão sistêmica, elas se ajudam nas dificuldades encontradas no trabalho. Segundo Gisele Meter, a medida veio para dar voz ao público feminino da empresa. Muitas não se conheciam, muito menos se sentiam parte do grupo. Hoje, elas se sentem à vontade para trazer ideias e contribuir com o crescimento da empresa.

Já no caso de Aline Rodrigues e suas colegas da Arbotec, primeiro veio a noção da força de trabalho que elas tinham, depois, a responsabilidade de manter a união feminina. “Tem muito do perfil da empresa. A equipe feminina se formou porque não encontrou barreiras para entrar aqui, mas não foi proposital. Hoje não, já pensamos em dar uma visão de futuro para mulheres que estão saindo da condição de donas de casa ou frágeis. Promovemos mulheres fortes”, conta.

Para Ana Malvestio, sócia da PwC Brasil e líder em diversidade e inclusão, trabalhar a diversidade nas empresas traz dois principais benefícios. Primeiro, os funcionários se sentem confortáveis e seguros em ser eles mesmos, trazer suas ideias e referências para o ambiente de trabalho. Segundo, o auxílio ao modelo de meritocracia, que se torna mais justo quando todos têm oportunidades iguais.

Sobre as políticas para ascensão de mulheres no mercado de trabalho, Malvestio afirma que elas são uma forma de combater julgamentos feitos com base em valores construídos até agora, mas que precisam ser revisados. “Quando se escolhe dar ou não oportunidade para uma mulher, muitas vezes é um viés inconsciente que te faz tomar essa decisão. E é exatamente isso que inviabiliza oportunidades iguais. Não se quer o favorecimento de um em detrimento de outro. O que a gente quer são homens e mulheres presentes da mesma maneira e essas ações estão aí para construir esse cenário”, afirma.

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