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Carlos Brito, presidente-executivo da AB Inbev: ficou  sem bônus em 2016 depois que o lucro anual da companhia despencou  mais de US$ 7 bilhões. | Photographs by Ben Baker and Sam Kaplan/Divulgação
Carlos Brito, presidente-executivo da AB Inbev: ficou sem bônus em 2016 depois que o lucro anual da companhia despencou mais de US$ 7 bilhões.| Foto: Photographs by Ben Baker and Sam Kaplan/Divulgação

Ser executivo dos níveis de direção e presidência não está nada fácil no Brasil: um em cada cinco não recebeu pagamento de bônus em 2016, segundo pesquisa da consultoria Korn Ferry - Hay Group. A culpa, em grande parte, é da crise, que comprometeu a entrega de resultados das empresas. Na linha de frente, o alto escalão também “pagou o pato”.

O contracheque dos executivos encolheu. Veja alguns exemplos

Participação nos lucros também foi afetada pela crise

Marcado pela crise internacional, o ano de 2008 havia sido o último em que o presidente da AB InBev não embolsou o benefício. Neste mês, a companhia belga-brasileira anunciou que seu presidente-executivo, Carlos Brito, vai ficar de “mãos abanando”. O motivo é uma redução no lucro anual superior a US$ 7 bilhões, de US$ 8,3 bilhões em 2015 contra US$ 1,2 bilhão em 2016.

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O corte não é exclusividade da AB InBev. Levantamento da consultoria Mercer mostra que, em 2014, os presidentes das empresas receberam o equivalente a 6,5 vezes os seus salários em remunerações de curto prazo. O número caiu para 5,4, em 2015, e 4,6, em 2016. “Quanto mais alto na organização, mais o bônus está atrelado ao resultado geral”, afirma Rogério Bergamos, coordenador da área responsável pela pesquisa da Mercer.

A tendência é verificada também para vice-presidentes e diretores. Nesse nível corporativo, as companhias tinham como objetivo uma compensação equivalente a 4,2 salários, em média, segundo a Mercer. Mas ao final do ano pagaram “apenas” 2,9 salários em bônus. Para presidentes, a meta geral era de 7 salários.

Enquanto profissionais de níveis sênior e pleno têm a maior parte da remuneração atrelada ao desempenho individual, no corpo executivo acontece o contrário, explica Bergamos. Para ele, em períodos de crise, é natural que a remuneração da diretoria caia. “Quem paga o pato é o executivo”, esclarece.

Políticas inalteradas

É de se imaginar que, em momentos de turbulência econômica, as empresas revejam seu método de remuneração variável, certo? Errado. A Mercer pesquisou 478 empresas. “Apenas em algumas percebemos revisão. Isso reforça que a redução do bônus aconteceu pela crise”, explica o coordenador. Ele constata que, mais do que pressão de acionistas ou de conselhos, existe uma política de remuneração inalterada.

De acordo com Bergamos, reduções de bônus não são novidade. Em 2008, quando estourou a “bolha imobiliária” nos Estados Unidos, várias empresas cortaram os bônus. “O que vimos de lá para cá foram mudanças nos formatos dos incentivos, com políticas atreladas ao longo prazo”, recorda. Essa tendência é observada no modelo nacional de benefícios a executivos.

Ao receberem ações da companhia, ao invés de “dinheiro vivo”, os diretores podem ter maior comprometimento nos resultados futuros. “Muitos executivos manipulavam os resultados de curto prazo para receberem bônus milionários”, diz Bergamo.

No Brasil, a quantidade de executivos que recebeu bônus acima de R$ 1 milhão caiu pela metade no ano passado, estima a Korn Ferry. Neste sentido, Silva faz um alerta para quem espera colher frutos futuros: “Resultados ruins de um ano podem deteriorar o bônus de longo prazo”.

Multinacionais pagam mais bônus

Apenas 24% dos diretores receberam bônus acima das expectativas em 2016, redução de 12 pontos percentuais comparado a 2012, conforme o levantamento da Korn Ferry.

Apesar dos baixos resultados, as multinacionais foram as que mais “seguraram o rojão”. Apenas 6% não pagaram bônus no ano passado, segundo a pesquisa. Entre as brasileiras, são 23%. Segundo Carlos Silva, diretor de análises da Korn Ferry, dois fatores podem estar ligados a essa diferença.

“O primeiro é que as empresas internacionais não dependem exclusivamente do mercado brasileiro, e isso pode ter impulsionado o bônus dos executivos locais. Outro fator que pode ter impactado é as multinacionais terem vislumbrado um cenário mais conservador ao estabelecerem as metas”, esclarece.

O porcentual total de executivos sem bônus em 2016 é o dobro do período entre 2008 e 2015.

Participação nos lucros também foi afetada pela crise

Não são apenas executivos que andam“pagando o pato” por resultados abaixo do esperado nas empresas. Após registrar prejuízo de R$ 372 milhões, a Brasil Foods S.A. (a BRF) anunciou que, além de não pagar ao“alto escalão” da empresa o valor total aprovado pelos acionistas para 2016, não haverá Participação nos Lucros e Resultados (PLR) em 2017.

CEO da BRF, Pedro Faria gravou um vídeo aos funcionários, divulgado no dia 7 de março no qual diz: “O PLR não é uma obrigação da companhia. Ele simplesmente simboliza que estamos juntos nesta jornada, e que quando somos capazes de produzir resultados diferentes, eles merecem ser divididos com todos. Estamos em um cenário difícil por uma situação que não controlamos. Tivemos pressão forte em nossas matérias-primas”, reportou no vídeo.

Não convenceu

Entidades representantes dos trabalhadores da empresa, como a Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação e Afins (CNTA Afins), tentam reverter a decisão. “No Brasil é fato que os sindicatos têm influência forte. Nos últimos dois anos, muitos conseguiram aumentos de quase 10% por conta da inflação. Por outro lado, muita gente foi demitida”, destaca Rogério Bergamos, consultor sênior da Mercer Consultoria de Talentos.

Procuradas pela redação da Gazeta do Povo, tanto a BRF quanto a Ambev (braço local da InBev) informaram que não iriam se pronunciar.

O contracheque dos executivos também encolheu lá fora. Veja alguns exemplos:

No que se refere a cortes de bônus, o mundo executivo está “de cabelos em pé”. Diversos são os casos de companhias globais que cortaram incentivos:

Apple: após as receitas caírem pela primeira vez em 15 anos, o CEO Tim Cook teve seu salário cortado. Somados bônus e salário mensal, ele recebeu US$ 8,75 milhões no ano passado, contra US$ 10,3 milhões no período anterior. Levando em conta um aumento salário base de 50% ano passado, o bônus foi amplamente afetado.

Citibank: após o Citi apresentar queda no lucro, o salário anual do CEO do Citigroup, Mike Corbat, foi cortado em 6,1%. Somados remuneração fixa, bônus em dinheiro e pagamentos em ações, o total recebido em 2016 caiu US$ 1 milhão, para US$ 15,5 milhões. A redução aconteceu justamente devido ao corte no valor do bônus.

Volkswagen: anunciou em fevereiro que os principais executivos tiveram cortes no valor máximo da compensação, após a Volks passar por um caso de corrupção no ano passado. O valor máximo de pagamento para o “alto escalão” foi reduzido, em média, em 40%.

Wells Fargo: por votação do conselho de administração, oito executivos não receberão bônus pelo trabalho de 2016, além da retenção do pagamento em ações – incluindo o CEO da companhia e o diretor financeiro, respectivamente, Timothy Sloan e John Shrewsberry. A medida foi tomada devido a suspeitas sobre práticas comerciais irregulares.

Goldman Sachs: especula-se que cerca de cem banqueiros que realizam consultorias de fusões e subscrição de ações junto ao grupo financeiro não receberam bônus em 2016, conforme informações da agência de notícias Bloomberg.

Viacom Inc: novo CEO do grupo de mídia Viacom, Bob Bakish tem meta de remuneração 50% menor do que seu precursor, Philippe Dauman. Enquanto Bakish pode alcançar remuneração total de US$ 20 milhões (incluindo salário, bônus e ações) se atingir os objetivos da companhia, Dauman teve meta de compensação de US$ 39 milhões no ano passado.

Unilever: Paul Polman, CEO da empresa de bens de consumo, recebeu 20% menos em 2016. Enquanto em 2015 havia obtido o equivalente a 10,4 milhões de libras (R$ 40,2 milhões), a renda total de Polman em 2016 foi de 8,4 milhões de libras (R$ 32,4 milhões).

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