Um colete salva-vidas no lugar do terno. Um remo substitui celular e caneta e, ao invés de encarar um computador, é preciso enfrentar um rio com fundo de pedras e correnteza forte. No mesmo bote, gerentes, analistas e profissionais das mais diferentes áreas precisam remar juntos e seguir em segurança para contornar obstáculos e obter sucesso ao final do percurso. Enquanto isso, gerentes regionais de uma multinacional estão reunidos em uma cozinha, elaborando cardápios, fazendo pizzas e interagindo com convidados. Ao levar profissionais de diferentes áreas para ambientes que, à primeira vista, em nada se parecem com o mundo corporativo, os treinamentos vivencias criam metáforas da vida real que impõem desafios e exigem atitudes e posturas muito semelhantes à maratona do dia a dia.
Diferentemente de palestras ou aulas em sala, esses treinamentos nada ortodoxos são reconhecidos por sua alta eficácia e poder de fixação justamente por colocarem o profissional no papel de protagonista das ações, inserido em contextos inusitados. Organização, relacionamento, autoconhecimento, criatividade e cooperação são alguns dos aspectos trabalhados na prática. “Não conheço ninguém que não consiga utilizar isso como referência nos mais diversos desafios e superações necessárias no dia a dia, tanto no âmbito pessoal como profissional”, diz o presidente do Isae, Norman de Paula Arruda Filho, que diz se lembrar até hoje de treinamentos que fez há mais de 20 anos.
Há 11 anos, Arruda Filho implementou na instituição o Perspectivação, programa focado em educação experiencial que oferece aos alunos oficinas, sessões de coaching e atividades como rafting e balonismo. “Vimos que o grau de reconhecimento de valor da aprendizagem por parte dos alunos tinha muito a ver com comportamento, e não só conhecimento”, diz.
Elaboradas por educadores e especialistas, as atividades contam com normas de segurança e acompanhamento de instrutores. A cada etapa, são feitas pausas para que os participantes discutam as lições aprendidas, dificuldades e superações, além da interação entre a equipe. “No rafting, senti a adrenalina na pele, a responsabilidade da liderança, como agir num momento de pressão e a importância do relacionamento. Lições que vou levar para a vida”, conta o engenheiro Marlon Pazinato, ex-aluno do MBA em Gerenciamento de Projetos.
Mão na massa
Anos depois de ser surpreendido positivamente ao ter que cozinhar com colegas de diferentes países em uma reunião da multinacional onde trabalhava, o engenheiro Oscir Zancan, sócio da OZ Consultoria, lançou a Forneria de Excelência. O projeto une gastronomia a conceitos comportamentais e integração de equipes, na dinâmica de uma pizzaria. “Não se trata simplesmente de fazer pizza. A atividade potencializa aquela equipe que esta hibernada por meio de um exercício lúdico que envolve planejamento, execução, inovação, organização e liderança”, explica. O trabalho ajuda a mostrar novos caminhos. “A cozinha, além de mostrar que podemos fazer as coisas de modo mais divertido, serve para nos conhecermos e criarmos uma postura de cooperação”, diz a gerente de marketing da Vinisul, Debora Hubner, que contratou o treinamento para uma reunião de gerentes.
Antes de contratar um treinamento, no entanto, é importante que a empresa identifique qual será o objetivo principal e os aspectos a serem trabalhados na dinâmica. “É preciso um diagnóstico interno para definição do objetivo maior e das estratégias para alcançá-lo. Por isso uma discussão em grupo após a dinâmica também é importante”, destaca Igor Cozzo, diretor de Comunicação da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento.
Caminhadas de orientação na mata, jogos de rugby e até pôquer, que deve ser lançado este ano, estão no catálogo da Catuetê Treinamentos. “Treinamos exatamente as competências que as pessoas usam na empresa, e o resultado é que a metodologia fica mais viva na pessoa”, diz o consultor organizacional Rômulo Santos, sócio da empresa.
Crise é oportunidade para investir em treinamentos
De acordo com os especialistas, o momento de instabilidade econômica por ser visto como uma oportunidade para se investir em treinamentos como uma estratégia de médio e longo prazo, já que motivam os funcionários e aproveitam o tempo de menor demanda. “As empresas que já têm a visão de que a crise é sazonal aproveitam para investir na capacitação de seus colaboradores pensando no futuro. É como um time em pré-temporada”, diz Rômulo Santos.
Para isso, é essencial que as consultorias e empresas de treinamento mostrem a eficiência e o resultado que podem ser alcançados, justificando o investimento. “Precisamos mostrar onde queremos chegar. Quanto mais as empresas tiverem profissionais alinhados com a performance exigida pelo mercado, mais vão se preparar para uma mudança no cenário. Quem esperar vai ficar para trás quando a crise passar”, explica Igor Cozzo. Segundo a ABTD, a expectativa é que em 2015 as organizações mantenham a média de investimentos feita nos últimos anos, de 0,83% do faturamento da empresa.
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