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Pré-sal brasileira deve deslanchar com o fim da regra do operador único e esforço dos países membros da Opep para manter preços competitivos. | Geraldo Falcão/Agência Petrobras
Pré-sal brasileira deve deslanchar com o fim da regra do operador único e esforço dos países membros da Opep para manter preços competitivos.| Foto: Geraldo Falcão/Agência Petrobras

Um rearranjo na geopolítica mundial do petróleo deve dar novo fôlego ao pré-sal brasileiro. A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e as grandes petroleiras se uniram para tentar equilibrar o jogo no mercado da commodity, cujos preços despencaram no último ano em decorrência de um excesso de oferta. É uma boa notícia para o pré-sal brasileiro, que deve entrar em nova fase com a volta dos leilões de blocos e, sobretudo, com a abertura para a operação de outras empresas que não apenas a Petrobras.

Enquanto os grandes produtores mundiais tentam segurar o preço do petróleo controlando a oferta mundial do combustível, o Brasil corre por fora e deve ganhar participação no mercado com abertura para a operação de outras petroleiras e a previsão de novos leilões de blocos do pré-sal em 2017. Como não é membro da Opep, o país não é obrigado a limitar a produção interna e, de quebra, ainda se beneficia do esforço da organização para manter os preços mais competitivos.

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A cotação do petróleo abaixo de US$ 50 inviabiliza a produção de pré-sal, que tem custos mais elevados do que em reservas tradicionais. De acordo com as projeções do plano de negócios da Petrobras (2017-2021), a cotação média prevista para o petróleo tipo Brent é de US$ 48 em 2017, US$ 56 em 2018, chegando a US$ 71 em 2020. Hoje a cotação está na faixa dos US$ 56, realidade bem diferente de quando o primeiro campo do pré-sal foi leiloado, em 2013, e o barril do petróleo era cotado acima de US$ 100.

“Com o preço acima de US$ 50 dólares o barril, o pré-sal já é viável. Menos lucrativo, mas viável”, afirma Walter De Vitto, analista de energia da Tendências Consultoria. De acordo com De Vitto, contudo, apostar num cenário de preços muito elevado como um fator de viabilidade do pré-sal não é sustentável. “Todo aumento de preço favorece a produção de petróleo, mas, dado o endividamento da Petrobras, a abertura para outras empresas traz uma perspectiva de maior capacidade financeira para alavancar investimentos”, avalia De Vitto.

Para não depender da Petrobras

O fim da regra do “operador único” deve acelerar a exploração de campos do pré-sal brasileiro e, como consequência, elevar a arrecadação de royalties, avalia o professor Edmar de Almeida, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). De acordo com um estudo feito por Almeida, a abertura da operação para outras empresas deve antecipar o pico da arrecadação com o pré-sal para 2034, 11 anos antes do projetado caso a exclusividade da Petrobras na exploração fosse mantida. Ainda de acordo com o estudo, a receita proveniente do pré-sal até 2030 pode chegar a R$ 205 bilhões com a abertura para outras empresas – contra R$ 21 bilhões com a regra do “operador único”.

Hoje, a Petrobras é um gargalo para o investimento no setor de Petróleo, mas isso não elimina a possibilidade de investimentos futuros por parte da estatal, segundo De Vitto. Por ora, a empresa precisa resolver o problema da sua dívida. A alta das cotações do petróleo ajuda a melhorar a receita da estatal e reduzir o seu endividamento, mas isso não significa que ala empresa poderá ampliar investimentos.

Medidas da Opep para elevar preço têm efeito limitado

Após meses de intensas negociações, os 12 países produtores de petróleo membros da Opep, a maioria do Oriente Médio, fecharam, no fim de novembro, o primeiro acordo para o corte de produção de petróleo desde 2008. Até a Rússia, que não é membro da Opep, aceitou reduzir sua produção para elevar as cotações da commodity. O corte de 3,7% na produção foi suficiente para fazer os preços subirem, ultrapassando US$ 50 por barril depois de aproximadamente um ano abaixo desse patamar.

A medida da Opep, contudo, tem mais efeito no curto prazo, avalia Walter De Vitto, analista de energia da Tendências Consultoria. “A alta do preço vai estimular o aumento da produção”, diz. No outro lado da balança, por exemplo, os produtores de óleo de xisto dos Estados Unidos devem aproveitar o avanço das cotações para reativar poços, limitando a atuação da Opep e das petroleiras. Segundo analistas, embora existam realidades muito diferentes de produção, acima de US$ 50 já viabiliza um volume de produção de petróleo de xisto suficiente para atender a demanda.

A política anterior da Opep de cortar totalmente a produção para fazer os preços subirem tem uma limitação. Para segurar os preços no futuro, terão de cortar muito a produção, e isso não parece viável, pois, embora eles tenham poder de mercado, não são monopolistas e correm o risco de perder mercado, avalia De Vitto. Para ele, a principal vantagem dos membros da Opep é que eles são detentores das reservas de menor custo, e isso permite que façam movimentos que outros países não podem fazer.

“O principal recado que a Opep deu, além de mostrar que pode mudar as regras do jogo a qualquer momento, é mostrar para o produtor de óleo de xisto que está no limite do seu custo para pensar duas vezes antes voltar a produzir”, diz De Vitto.

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