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Preço das commodities
Ciclo 2020/21 do milho ficará marcado na memória do produtor pela forte alta nos preços do cereal: variação chegou a 90%.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

O preço das commodities agropecuárias deve continuar elevado nos próximos meses, impulsionado pela reabertura depois dos piores momentos da pandemia da Covid-19 e a presença de elevados estímulos fiscais e monetários. “Isto resulta em uma recomposição da demanda e se alia, em maior ou menor escala, a uma série de restrições de oferta”, afirma Pedro Renault, analista de macroeconomia do Itaú.

Mas a inflação oficial – que atingiu 8,06% nos 12 meses encerrados em maio – tende a ser menos pressionada pelas matérias-primas agropecuárias. Renault diz que não há tendências de novos aumentos de commodities, porque a China deve voltar a padrões sustentados de crescimento. Para este ano, de acordo com o banco, a segunda maior economia global deve ter uma expansão de 8,5% em seu PIB.

A preocupação passa a ser outra. “A tendência é de que a pandemia seja controlada à medida que a vacinação avança. É um movimento mais forte nos países desenvolvidos e que vem ganhando tração nas economias emergentes.”

Agora, os olhos estão voltados para quando os Estados Unidos vão começar a retirar os estímulos à sua economia. O Fed (o BC americano) já deu sinais, na reunião desta semana, de que não vai ficar parado. O mais provável, de acordo com o analista, é de que eles comecem a ser retirados em 2022 e os juros voltem a aumentar em 2023.

Esse movimento tende a ter impacto sobre as economias dos países emergentes, fazendo uma pressão para que o dólar se valorize frente às moedas locais.

No Brasil, pelo menos até o final do ano, a tendência é de que o real fique mais apreciado, por causa da alta na Selic, da economia melhor e do alívio nos riscos fiscais. A instituição financeira projeta que a moeda americana chegará ao final do ano valendo R$ 4,75. A desvalorização deve ser retomada em 2022.

Foco na rentabilidade e atenção aos custos

Com isso, as preocupações dos produtores passam a ser outras. “Tivemos um ano historicamente bom e vai ser difícil ser melhor”, diz Guilherme Belloti, da área de agronegócio do Itaú BBA.

O foco agora é na rentabilidade. Produtos como soja e milho continuarão com preços elevados. Mas, atrás da porteira, a atenção aos custos vai ser redobrada. O cenário é menos favorável para a pecuária, especialmente para os produtores de suínos e os focados na engorda de bovinos.

Fora da porteira, o destaque deve ser as empresas do setor sucroenergético, diante dos bons preços projetados para o açúcar e o etanol. Mas o ambiente mais desafiador será enfrentado pelas empresas de proteínas animais. Segundo o Itaú, o mercado doméstico ainda preocupa, apesar da melhora da economia, mas empresas voltadas à exportação devem ter melhor performance.

Os analistas do Itaú lembram que a melhor vacina contra novos choques é a preservação de bons níveis de liquidez e cautela na decisão de investimentos e expansão das atividades.

Os cenários para a soja

Mesmo com o cenário de aumento na produção de soja – 5% no mundo, segundo o Itaú BBA –, os preços devem continuar bons. A justificativa é um balanço de oferta e demanda bastante apertado em escala global e, particularmente, nos Estados Unidos.

Por trás de tudo isso está a firme demanda pelo grão a reboque da recomposição do rebanho suíno na China e dos elevados preços dos óleos vegetais, que por sua vez, têm sido estimulados pelo aumento da produção de biodiesel no mundo e a oferta limitada de outros tipos de óleos. As vendas norte-americanas para a China no acumulado safra 2020/21 até o fim de maio totalizaram 35 milhões de toneladas, quase três vezes mais que o exportado no ano anterior.

Outro fator que contribuiu para esse cenário foi a quebra de safra na Argentina, devido ao clima seco e à redução na velocidade nas exportações de farelo e de óleo, seja por causa da greve nos portos ou pela redução da capacidade de navegabilidade dos rios.

Segundo Belloti, por mais que haja uma expectativa de aumento de custos por causa da elevação dos preços em dólares dos defensivos e fertilizantes e crescimento de despesas com diesel e pessoas, o balanço apertado deverá deixar pouco espaço para quedas nas cotações de soja. Porém, a variação em relação aos resultados obtidos na safra 2020/1 estará sujeito ao momento da aquisição dos insumos e da fixação dos preços.

A situação do milho

Situação similar à da soja vive o produtor de milho. O ciclo 2020/21 ficará marcado na memória do produtor pela forte alta nos preços do cereal. Entre setembro do ano passado e o mês passado houve uma variação de 90%. O motivo: redução da produção em importantes produtores e exportadores, como Argentina, Ucrânia e Brasil. “Fomos afetados pela crise hídrica”, diz o especialista do Itaú BBA.

Outro agravante que contribuiu para a pressão nos preços foi o aperto no balanço de oferta e demanda nos Estados Unidos, diante do forte avanço nas exportações.

A perspectiva da instituição financeira é de que os preços do milho continuem firmes, particularmente no Brasil, embora em níveis menores do que os vistos neste ano. “Haverá pouca disponibilidade de grão, pelo menos até a safrinha 2021/22. E caso tenhamos algum problema em um importante país produtor, a relação de oferta e demanda poderá voltar a ser deficitária e abrir espaço para um novo aumento de cotações.”

O comportamento das carnes

Apesar da oferta de gado continuar baixa, a situação é um pouco mais complicada para os pecuaristas. “Os altos preços das reposições de boi devem desafiar a rentabilidade mais adiante”, diz César Alves, analista do Itaú BBA.

Para os frigoríficos, o cenário é um pouco mais complicado em função de alta do boi, principalmente no mercado interno. As melhores oportunidades estão com os exportadores, que contam com perspectivas favoráveis diante do apetite chinês. “Só haverá acomodação nos preços se houver bloqueio às exportações ou inibição do crescimento nos mercados.”

Os altos custos, principalmente com ração, e os repasses de preços mais difíceis no mercado doméstico devem se refletir em uma rentabilidade menor para o suinocultor. A expectativa é de que as exportações à China continuem fortes, em meio ao atraso na recuperação do rebanho daquele país, atingido pela peste suína africana.

“O momento é de pensar no futuro. Dada a elevada concentração nas exportações, o risco é a redução das compras chinesas com a produção crescente no Brasil.”

Quem também vem sendo impactado negativamente com a alta nos preços de soja e milho são os avicultores. Segundo especialistas do Itaú, os elevados custos da ração devem seguir desafiando as margens, o que exigirá ampliar as transferências de preços no mercado interno, mesmo com a produção crescente.

Mas o baixo preço relativo do frango, frente a outras proteínas animais, deve favorecer o repasse ao consumidor. A recuperação econômica global e dos preços do petróleo tendem a estimular uma alta no preço de exportação. Mas um alerta persiste no setor, diante do descredenciamento de plantas brasileiras por parte da Arábia Saudita, um dos maiores consumidores do frango nacional. “O importante, no momento, é preservar a liquidez.”

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