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Nas bombas de Curitiba, o valor do álcool recuou aproximadamente 30% em relação aos picos atingidos pelo combustível durante o mês de fevereiro | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Nas bombas de Curitiba, o valor do álcool recuou aproximadamente 30% em relação aos picos atingidos pelo combustível durante o mês de fevereiro| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Sonegação

Sindicato denuncia "valor irreal"

O Sindicato do Comércio de Combustíveis (Sindicombustíveis) aponta a existência de um comércio paralelo de álcool no estado, o que geraria um preço irreal praticado em algumas praças, baseado na sonegação fiscal. Panfletos estão sendo distribuídos em vários postos do Paraná para denunciar a prática. Segundo o sindicato, cerca de 30% do álcool brasileiro, ou aproximadamente 5,5 bilhões de litros, são comercializados com algum grau de sonegação. A perda de receita chegaria a R$ 1 bilhão.

O Sindicombustíveis afirma que o produto "é de longe o combustível mais afetado pela sonegação de tributos". Na prática, segundo o sindicato, os proprietários "sérios" são obrigados a baixar o preço na bomba, tentando acompanhar os preços de quem não paga adequadamente os impostos. A redução irreal se daria através da compra de álcool das usinas por distribuidoras fantasmas, que revendem o produto sem recolher os impostos devidos, ou que realizam a mesma operação várias vezes, utilizando a mesma nota fiscal. Os representantes do setor sugerem que a prática poderia ser contornada com a tributação sendo feita diretamente apenas nas usinas, e não partilhada com os distribuidores, onde haveria mais facilidades para a sonegação.

Usinas

Para a Alcopar, qualquer irregularidade, se existir, ocorre para fora dos portões das usinas. "Se ocorre, é nos outros elos da cadeia. Quem busca o álcool na usina é a distribuidora e todo o transporte é deles. Daí para frente não acompanhamos", diz o superintendente Adriano da Silva Dias. Ele aponta que toda carga possui uma nota fiscal eletrônica, totalmente rastreável pela Receita Estadual. "Não vejo como ter alguma informalidade no meio disso", afirma.

Petrobras quer disputar setor

Agência Estado

São Paulo - A Petrobras não assistirá passivamente à disputa de grupos privados no mercado de etanol brasileiro. Esse foi o recado dado ontem pelo presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli. "Já criamos a Petrobras Biocombustível, que está comprando participações para produzir etanol e vai construir usinas de produção de etanol. Vamos competir", afirmou Gabrielli, após brincar com José Carlos Grubisich, presidente da ETH Bioenergia.

A ETH foi uma das companhias do setor a se unir a uma concorrente para fortalecer a presença no ainda pulverizado mercado de etanol do país. No mês passado a companhia, controlada pela Odebrecht formalizou uma fusão com a Brenco, dando origem ao maior grupo global de etanol proveniente de cana de açúcar. Dias antes, a Shell oficializou um acerto para se unir à Cosan nesse mercado. Outras operações, como a compra da Equipav Açúcar e Álcool pela indiana Shree Renuka Sugars e do grupo Moema pela Bunge, reforçam a indicação de que a concorrência local deve ser intensa.

Depois da forte alta registrada no início do ano, o álcool voltou a cair de preço e se transformou novamente na melhor opção para os motoristas de carros bicombustíveis. Após ultrapassar a casa de R$ 2,00 em fevereiro, o etanol já recuou em média 25% – e pode ser encontrado por menos de R$ 1,20 em alguns municípios paranaenses. Segundo um levantamento informal feito pela Gazeta do Povo, a cotação média em seis das maiores cidades do estado recuou 25% desde fevereiro, passando de R$ 1,93 para R$ 1,45.

O preço médio está próximo de R$ 1,30 em Curitiba e Foz do Iguaçu e, em Londrina, é de R$ 1,19. Nessas três cidades, a queda dos preços foi de mais de 30% desde fevereiro. Em Maringá, Ponta Grossa e Cascavel, o recuo foi mais fraco, entre 15% e 20%, e os preços médios oscilam entre R$ 1,59 e R$ 1,68.

Para a Associação dos Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar), as razões para a queda estão na desova do estoque das distribuidoras, que tomaram essa decisão devido à iminente safra de cana-de-açúcar. "Com a nova safra, a pressão sobre o preço diminuiu. O produto estocado começou a ser vendido e houve o movimento inverso. Agora a oferta pressiona os preços para baixo", explica o superintendente da Alcopar, Adriano da Silva Dias.

O sobe-e-desce acaba confundindo os motoristas, que reclamam da variação. "Se você for conhecedor das cidades onde vai, pode fazer o cálculo. Se não, quem viaja às cegas, se perde. É preciso fazer as contas constantemente", afirma o professor universitário e radialista Jorge Nunes, que abastecia ontem em Ponta Grossa. A motorista Vera Almeida, por sua vez, resolveu deixar as contas para o marido. "Abasteci apenas meio tanque com álcool e vou deixar para ele ver se vale a pena completar depois ou colocar gasolina. Não sei mais se compensa ou não", diz. Estima-se que, quando o valor do álcool fica abaixo de 70% do preço da gasolina, o derivado da cana seja mais vantajoso.

Conforme o vice-presidente do sindicato do setor varejista, o Sindicombustíveis, em Cascavel, Roberto Pelizzeti, o produto já está 40 centavos mais barato nas bombas. "Chegou a R$ 2,10 e hoje está em R$ 1,68. Estamos na expectativa das usinas, mas parece que vai ficar nessa faixa de preço", acredita Pelizzeti. Em 40 dias, o preço na cidade havia passado de R$ 1,78 para R$ 2,10. No mês passado, numa tentativa de conter os preços do etanol, o governo reduziu a proporção de 25% para 20% de álcool na gasolina. "Na gasolina praticamente não houve variação recente. Existe uma pressão para que se retorne aos 25% na mistura de imediato, mas quem ganha com isso são os usineiros. Esperamos que o governo fique do lado do consumidor desta vez, já que a volta do porcentual anterior está prevista para 1º de maio", diz Pelizzeti.

Sem mercado

Em algumas cidades, a venda do etanol havia praticamente zerado nas bombas, durante o aumento do preço do produto. "O preço está caindo e vai cair ainda mais. Já está compensando abastecer com álcool e os motoristas já estão voltando", aponta o presidente do Sindicombustíveis em Ponta Grossa, Djanusi Fontini Reis.

Quando os preços do álcool estão baixos, o combustível chega a responder por 80% das vendas nos postos. No recente auge dos preços do etanol, no entanto, a gasolina chegou a responder por 90% do volume vendido. "Já tivemos um incremento de 50% a 60% na venda do álcool. Com a queda, devemos chegar entre 70% e 80%, voltando ao patamar anterior", acredita Reis. Antes dos aumentos, o combustível custava em torno de R$ 1,50 em seu menor valor em Ponta Grossa, mas bateu em cerca de R$ 2,10 em fevereiro. Ontem, o preço médio na cidade era de R$ 1,59.

A Alcopar acredita que haverá uma estabilização nos preços nas usinas a partir dos próximos dias. "A oferta e a demanda deverão se equilibrar", prevê Silva Dias, superintendente da associação. Ele aponta ainda que muitos postos ainda não reduziram tanto os preços por terem comprado o combustível com o valor antigo. Segundo a Alcopar, a indústria brasileira produzirá algo próximo de 27,6 bilhões de litros de etanol na safra 2010/2011, cuja colheita começou há poucos dias – cerca de 3 bilhões de litros a mais do que na safra anterior.

Se a queda no preço é um bom sinal para os consumidores, uma queda muito abrupta é sinal de irregularidades para o sindicato do setor. Em Londrina, o dirigente Durval Garcia Júnior aponta que o baixo valor do produto na bomba é fruto de sonegação fiscal. O valor do etanol em Londrina chega a R$ 1,19. "Estão todos acompanhando quem trabalha no ilícito fiscal", dispara. "Quem trabalha com sonegação, trabalha com um preço menor. É um mercado irreal, porque quem trabalha certinho tem que acompanhar quem não paga imposto, senão não vende", diz.

Interatividade

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