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Etanol
Na semana encerrada em 19 de março, preço do etanol equivalia a 68% do preço da gasolina na média nacional.| Foto: Divulgação/Unica

Às vésperas do início da colheita da cana de açúcar, encher o tanque do carro com etanol hidratado está compensando em pelo menos quatro estados: Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo. É o melhor cenário para um início de safra desde 2019. Um ano atrás, usar o biocombustível não era vantajoso em nenhum estado.

Em geral, entende-se que abastecer com este combustível é mais compensador quando seu preço corresponde a menos de 70% do valor do litro da gasolina, devido à diferença da combustão no motor – esse porcentual, no entanto, pode variar para mais ou para menos, conforme o veículo.

Na média de mais de 4 mil postos pesquisados em todo o país pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na semana encerrada em 19 de março o preço do etanol (de R$ 4,94 por litro) equivalia a 68% do preço da gasolina (R$ 7,27). Essa relação, porém, varia conforme o local. Em regiões mais distantes de usinas de álcool, abastecer com esse combustível raramente compensa, dado o custo de transporte.

No ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o etanol foi o item que mais aumentou em uma cesta de 361 produtos e serviços que servem de base para o cálculo do IPCA, a inflação oficial. A alta para o consumidor foi de aproximadamente 62%, enquanto a gasolina subiu 47%. Segundo a analista de açúcar e etanol do Itaú BBA, Annelise Sakamoto, a alta no biocombustível em 2021 foi provocada por problemas climáticos que afetaram a safra de cana.

Neste ano, a realidade é outra. Desde o início do ano até a semana encerrada em 19 de março, o preço do etanol ao consumidor recuou 2,5% na média nacional, segundo pesquisas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). No mesmo período, a gasolina subiu 10% nas bombas, em média.

O recuo dos preços do etanol era ainda mais forte até o início deste mês, quando chegou a acumular queda próxima de 9% desde 1.º de janeiro. Porém, o derivado da cana subiu de preço – devolvendo boa parte da queda anterior – após a forte alta da gasolina.

Clima prejudicou a safra passada de cana

“Tivemos muitos problemas na última safra”, diz o diretor técnico da União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues. Geadas atingiram, no inverno, áreas de produção em São Paulo, Mato Grosso e Paraná. E a falta de chuva entre agosto e setembro complicou o cenário.

Os problemas climáticos contribuíram para diminuir a produtividade, que caiu para o menor nível da série histórica, iniciada na safra 2003/04. Segundo o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), até novembro, em média, tinham sido colhidas 67 toneladas por hectare. E o volume de açúcar total recuperável por tonelada (ATR) caiu 1,4%.

Dados da Unica estimam que houve uma redução de 13,3% na moagem de cana de açúcar na safra 2021/22. A produção de açúcar caiu 16,7% e a de etanol, 8,7%. Com essa queda, a produção de etanol hidratado teve de ir para o sacrifício para que as usinas fizessem mais anidro (usado na mistura com a gasolina) e assim assegurassem o abastecimento do derivado de petróleo.

Expectativas para a próxima safra

Apesar do cenário mais favorável neste ano, os problemas climáticos devem ter alguns reflexos. Rodrigues, da Unica, aponta que a produtividade deve se recuperar parcialmente. Dois fatores contribuem para isso, diz ele: as melhores condições dos canaviais e um clima mais favorável.

Um fator externo que também pode ajudar o etanol são as altas cotações do petróleo no mercado internacional. Nos primeiros dias da guerra na Ucrânia, chegou a US$ 140 por barril. No fim da tarde de sexta-feira (25), a commodity era negociada a cerca de US$ 119 por barril, segundo a plataforma de investimentos Investing.com. É uma variação de 92,48% em 12 meses.

Segundo o Itaú BBA. com a forte elevação dos preços da commodity, os preços da gasolina ficaram defasados no Brasil. No dia 10, a Petrobras anunciou um aumento de quase 19% no preço da gasolina nas refinarias.

“Mesmo com esse aumento ainda há espaço para reajustes considerando a forte alta do Brent”, apontam os analistas de agronegócio do banco. Segundo a Ativa Investimentos, na sexta-feira o preço da gasolina estava defasado em 7% em relação aos preços internacionais.

Apesar de os preços do etanol estarem mais favoráveis, Rodrigues aponta que 60% da safra está compromissada. Na última safra, 54,92% da cana colhida no Centro-Sul foi destinada à produção de etanol. “Tem pouco espaço para mudança de mix de produção”, diz Annelise Sakamoto, do Itaú BBA.

Um complicador é o cenário para os preços do açúcar, que podem levar os usineiros a destinar uma fração maior da cana para esse produto. A analista aponta que há uma tendência de preços mais sustentados, diante do balanço de oferta e demanda global deficitário para o período entre outubro de 2021 e setembro de 2022. A procura por açúcar é maior do que a disponibilidade.

Cenário poderia ser melhor para o etanol hidratado

O cenário poderia ser melhor para o etanol hidratado, diz Rodrigues. Segundo ele, 85% do etanol hidratado é consumido em cinco estados (SP, GO, MT, PR e MG). Dois fatores, segundo o diretor da Unica, impedem uma maior difusão do combustível: questões tributárias e falta de previsibilidade nas regras. “Esta falta faz com que muitos investimentos sejam postergados. O setor já se acostumou com a situação.”

Esse cenário de imprevisibilidade foi visto nas últimas semanas: diante do aumento nos derivados de petróleo, o governo estudou a concessão de subsídios para determinados grupos de motoristas – e se há subsídio, a gasolina fica mais atraente.

A guerra trouxe um componente adicional de preocupação: a incerteza sobre a questão dos fertilizantes, já que parte substancial vem da Rússia e de Belarus.

Segundo o Itaú BBA, para esta safra que será colhida não há problemas. A maior preocupação com o adubo se volta para a colheita de 2023-24. Muita cana será plantada neste ano para ser colhida no próximo. E, também, há a necessidade, no segundo semestre, de adubar a cana remanescente.

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