Usar a Economia para formular e aplicar leis mais eficientes. Esse é o objetivo de uma área do Direito que vem crescendo no país, também conhecida como análise econômica do direito. No Brasil, a Associação Brasileira de Direito e Economia (ABDE) lidera a empreitada para disseminar o estudo da interseção entre os dois campos do conhecimento. Desde a última semana, uma paranaense está à frente da instituição. A procuradora do estado e professora da Universidade Federal do Paraná Marcia Carla Pereira Ribeiro conversou com a Gazeta do Povo sobre o uso das ferramentas econômicas para auxílio do Judiciário, como a área está se desenvolvendo no país e o seu objetivo à frente da associação. Confira os principais trechos da entrevista:
Qual é o trabalho da associação hoje?
A associação é voltada a estudos que conciliem conceitos de Direito e Ciências Econômicas. A gente procura difundir a possibilidade de usar as ferramentas econômicas como uma das ferramentas auxiliares do Direito. Promovemos simpósios e eventos relacionados a esse tema e devemos lançar em breve o primeiro número de uma revista especializada, chamada Law and Economics.
A senhora pode citar um exemplo de uma legislação brasileira que se ampara em conceitos econômicos?
Um exemplo é o Código de Defesa do Consumidor, que dá um tratamento privilegiado ao consumidor. Há um motivo para isso, herdado da economia: chama-se assimetria informacional. O consumidor tem menos conhecimento e acesso à informação do que o fornecedor. Para que ele não fique numa posição de prejuízo, a lei reconhece a assimetria e traz o instrumental para minimizar essa desiguladade.
Há alguma lei em vigor que seria mais eficiente caso tivesse tido assessoria econômica?
A lei de recuperação e falência, de 2005. É uma lei voltada à recuperação da empresa, mas tem uma estrutura que faz com que quem defina se as empresas vão se recuperar ou não são os credores. Nem sempre, porém, os credores estão preocupados com a recuperação das empresas: muitas vezes só querem receber seus créditos. Há estudos de economistas que demonstram que o quórum que a lei exige de aprovação do plano de recuperação vai acabar matematicamente fazendo com que boas empresas não obtenham a recuperação. Exatamente o contrário do que a lei queria. Se a lei tivesse tido maior assessoria econômica nessa formatação, na criação dessa fórmula, poderia chegar a um quórum que fosse mais adequado ao seu propósito.
O auxílio da Economia se aplica a todos os ramos do Direito?
Ela se aplica mais aos ramos ligados ao comércio e aos negócios. Mas posso citar um exemplo do Direito Penal. Por exemplo, se você tem uma multa penal que é muito baixa, ela pode funcionar como estímulo à criminalidade. Então até na dosimetria da pena a Economia pode ajudar.
Esse tipo de análise deve crescer no país? Há um ambiente favorável a isso?
A Escola da Magistratura Federal está trabalhando expressamente com os novos juízes os aspectos da análise econômica. Então isso é visto de forma mais evidente no Brasil na Justiça Federal. É muito importante que conste que a ideia não é que o Direito fique submetido à Economia, mas que ambos andem juntos para o aprimoramento do Direito. Tanto na elaboração como na aplicação das leis, por meio de ferramentas herdadas da Economia.
Qual é seu plano à frente da presidência da associação?
A ideia é seguir com aprimoramento de estudos na área e elevar o conhecimento das pessoas interessadas no assunto. Na medida em que tivermos mais patrocínio, também queremos oferecer bolsas para estimular pesquisas sobre o assunto.
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