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O Fed e a economia abaixo de zero

Nos últimos 30 anos, desde que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) subiu drasticamente os juros para conter a inflação que acompanhou os choques do petróleo da década de 70, a função de uma autoridade monetária esteve ligada a expressões como austeridade, discrição e, claro, controle de preços. Ao baixar em dezembro sua taxa básica para uma banda entre 0% e 0,25%, o Fed deixou esse ambiente de paz e ordem.

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Ao mesmo tempo em que o Fed deu um passo histórico ao derrubar seu juro para perto de zero, o Banco Central do Brasil decidiu manter a Selic, a taxa básica brasileira, em 13,75% ao ano. Com isso, o BC foi contra um movimento que é majoritário no cenário econômico mundial. O relaxamento da política monetária ocorre em todos os países desenvolvidos e em boa parte do mundo emergente, incluindo China e Índia. Como descreve em um artigo recente o economista Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova Iorque que se tornou uma espécie de profeta da crise: neste momento, só não baixa os juros quem não pode.

Estão na lista dos que nadam contra a corrente nações com grandes déficits externos – como vários países do Leste Europeu –, que têm dívidas em moeda estrangeira ou cujas contas governamentais estejam em desarranjo. O Brasil não se encaixa em nenhum desses critérios, apesar de o déficit externo ser um fator que possa causar preocupação no médio prazo. O risco de inflação, que vinha sendo usado pelo BC para justificar os juros altos, virou coisa do passado com a retração violenta nos preços das matérias-primas.

"Eu não entendo por que o BC não baixou a Selic ainda. Era o momento de um corte de 0,5 ponto porcentual", avalia o economista André Paes, diretor da Infinity Asset Management. Na opinião de Paes, a inflação começa a ceder e há sinais de desaquecimento da atividade que justificariam a queda dos juros. "Pode ter sido uma reação do BC à pressão que foi feita em dezembro contra sua política. Em janeiro, os juros vão cair."

Para o economista Fernando Ferrari Filho, da UFRGS, é provável que a volatilidade do câmbio tenha sido a razão principal para o BC ter mantido os juros inalterados. Segundo a autoridade monetária, a intervenção feita para minimizar a desvalorização do real já chegou a US$ 53 bilhões, na maior parte através de trocas de títulos cambiais (o chamado swap). "Não há muito o que fazer com o câmbio. Seria preferível reduzir os juros, mesmo com uma oscilação maior do dólar. Em alguns momentos o BC poderia usar mais reservas para lidar com esse efeito", argumenta.

Escaldado

O cuidado do BC por causa do câmbio é compreensível. Em 2002, quando houve a última maxidesvalorização do real, os juros foram cortados em um momento de alta volatilidade. Não foi um ganho para a economia, pois o dólar continuou subindo, o Brasil foi ao Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação voltou para dois dígitos e no começo de 2003 a taxa básica subiu rapidamente. Desde então, a situação das contas externas melhorou muito, as reservas estão perto de US$ 200 bilhões e ainda há superávit comercial. O país fez o possível para entrar no clube dos que podem baixar os juros em momentos de crise. O risco é bem menor do que em 2002 e o governo parece disposto a corrê-lo. (GO)

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