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Retomada depende de tributação brasileira

Na visão dos lojistas, a situação de Ciudad del Este só não é pior porque a desvalorização do dólar é favorável para os brasileiros comprarem no Paraguai. Em 1995, na época dos chamados "anos dourados", o comércio da cidade chegou a movimentar US$ 8 bilhões ao ano. Para este ano, a perspectiva é de que a cifra não chegue a US$ 1 bilhão. "Naquela época movimentávamos por mês o que hoje movimentamos por ano", diz o presidente do Centro de Importadores e Comerciantes de Alto Paraná (Cicap), Charif Hammoud.

Regime

Apesar das dificuldades, os comerciantes estabelecidos no Paraguai apostam as fichas na aprovação no Regime de Tributação Unificada (RTU) – que visa a estabelecer taxas de impostos diferenciadas para a importação de produtos do Paraguai em larga escala. Na visão de Hammoud, caso a medida seja aprovada pelo governo brasileiro, será possível a Ciudad del Este formalizar o comércio e voltar a movimentar volumes semelhantes aos do passado. "A pessoa que tinha duas ou três lojas prefere ter uma loja grande hoje. Quem não foi embora, vai ter que investir porque estamos entrando em um novo modelo de comércio", diz.

Foz do Iguaçu – O acirramento da concorrência e a queda de 70% nas vendas no comércio de Ciudad del Este, vizinha a Foz do Iguaçu, na última década, estão contribuindo para uma fuga de imigrantes da fronteira Brasil-Paraguai. Conforme estimativas do Consulado Geral da República da China (Taiwan), pelo menos 5 a 6 mil chineses de um universo de 10 mil abandonaram a região nos últimos cinco anos. Os árabes seguem o mesmo caminho. Apesar de não haver estatísticas oficiais, as lideranças libanesas calculam que no mínimo 4 mil lojistas, de uma colônia de 15 mil pessoas radicada em Foz do Iguaçu e Ciudad del Este, começaram a procurar outros destinos para viver desde o fim dos anos 90.

Jorge Chen, cônsul geral da China (Taiwan) na cidade paraguaia que divide a Ponte da Amizade com a brasileira Foz do Iguaçu, diz que os chineses que deixaram a fronteira partiram para o México, Estados Unidos, Canadá e São Paulo. Alguns retornaram a Taiwan. Aqueles que ficaram tentam se adaptar ao novo momento comercial do Paraguai, marcado por margens de lucro menores e industrialização. A luta dos imigrantes é cobrar do governo paraguaio mais facilidades e incentivos tributários.

Os chineses começaram a chegar à região de Foz do Iguaçu no início da década de 90, vindos na maioria de Taiwan. Boa parte abriu lojas em Ciudad del Este e fixou residência em Foz do Iguaçu, a exemplo dos árabes.

A imigração da colônia árabe-libanesa é mais antiga. Os primeiros imigrantes chegaram a Foz nos anos 50. O cônsul honorário da Síria em Ciudad del Este, Mijail Meskin, diz que alguns comerciantes árabes, a maioria libaneses, procuram abrir lojas na Venezuela, país que vem oferecendo oportunidades comerciais. Outros também buscam oportunidades em São Paulo, onde acabam se inserindo no mercado de confecções. Meskin ressalta que o setor de eletrônicos e bebidas, nos quais os libaneses têm presença marcante no Paraguai, foram duramente atingidos pela crise comercial de Ciudad del Este.

Conforme levantamento da prefeitura de Ciudad del Este, desde o início deste ano, 550 lojas foram fechadas na cidade. Destas, 330 reabriram com outra razão social e outras 220, cuja maioria pertencia a libaneses, não voltaram a funcionar. A estatística foi feita com base em um número de 16 mil lojas registradas na cidade.

Para as lideranças comerciais, parte das mudanças no chamado "paraíso das compras" de Ciudad del Este tem origem no Brasil. A abertura do mercado de importados, iniciada durante o governo do ex-presidente Fernando Collor de Melo, no fim dos anos 80, é apontada como a principal vilã do comércio paraguaio na última década, segundo o presidente do Centro de Importadores e Comerciantes de Alto Paraná (Cicap), Charif Hammoud. Outro fator é a forte fiscalização da Receita Federal (RF) aos sacoleiros nos últimos anos, considerados clientes assíduos do Paraguai.

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