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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (esq.), o presidente Lula (dir.) e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (segundo à dir.): indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deu o voto decisivo pela redução menor dos juros.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (esq.), o presidente Lula (dir.) e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto (segundo à dir.): indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deu o voto decisivo pela redução menor dos juros.| Foto: André Borges/EFE

A ata da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) da semana passada, que decidiu pelo corte de 0,25 ponto percentual da taxa Selic, revela as razões das divergências entre as “alas bolsonarista” e “lulista” do órgão.

Cinco diretores indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) votaram a favor de um corte menor nos juros (0,25 ponto), em contraste com os quatro indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que defendiam uma redução maior, de meio ponto percentual.

O voto decisivo por corte menor na taxa Selic foi dada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, que é alvo frequente da ira de Lula e de seus aliados. Logo após a reunião, no dia 8, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que a direção bolsonarista do BC faz "política e oposição ao governo eleito pelo povo."

O argumento da maioria: sinalização anterior sobre a Selic era condicional

A maioria do comitê decidiu que era apropriado reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual. A justificativa principal é que o cenário anterior não se confirmou devido à desancoragem adicional das expectativas, ao aumento das projeções de inflação, ao cenário internacional mais adverso e à atividade econômica mais dinâmica do que o esperado.

Eles também levaram em consideração que a sinalização dada pela reunião do Copom em março, que previa mais um corte de meio ponto percentual, era condicional e que houve alteração no cenário em relação às expectativas iniciais.

“Muito mais importante do que o eventual custo reputacional de não seguir um "guidance" (sinalização em relação às reuniões futuras), mesmo que condicional, é o risco de perda de credibilidade sobre o compromisso com o combate à inflação e com a ancoragem das expectativas”, cita a ata da reunião do Copom.

Motivo da divergência: o custo de não seguir a sinalização anterior

Os integrantes que defendiam um corte maior, de meio ponto percentual, compartilharam da percepção do aumento das incertezas internas e externas entre as reuniões de março e de maio e do firme compromisso com o atingimento da meta e da reancoragem das expectativas.

O ponto de divergência entre as duas alas da diretoria do BC foi sobre o custo de oportunidade de não seguir o guidance. Eles avaliaram se o cenário prospectivo divergiu significativamente do esperado, a ponto de valer o custo reputacional de não seguir o guidance, o que poderia levar a uma redução do poder das comunicações formais do comitê.

Eles argumentaram que era mais apropriado seguir, como em reuniões anteriores, a expectativa assinalada em março, mas reafirmando o compromisso com a meta e com a taxa final de juros requerida para que o objetivo de alcançar o centro da meta de inflação, fixado em 3% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), seja alcançado.

Outra sinalização dada pela minoria é de que definir a tendência da dinâmica inflacionária em um ambiente incerto é mais difícil. “Isso não deveria, de forma alguma, ser confundido com leniência com relação aos indicadores divulgados no período, em particular às expectativas de inflação”, afirmaram.

Para reforçar a análise, eles destacaram que as projeções de inflação eram fortemente influenciadas pela determinação da taxa de juros terminal. “Uma redução de 0,50 ponto percentual ainda manteria a política monetária em um estado suficientemente contracionista”, argumentaram.

Além disso, enfatizaram a necessidade de flexibilidade nas decisões a partir de junho. Segundo eles, isso permitiria, com base em um novo conjunto de informações, ajustar a trajetória da taxa Selic de maneira mais adequada.

Questões fiscais e economia aquecida influenciaram na decisão

O dinamismo da economia e as questões fiscais são cruciais para o Copom. O órgão destaca que, no ambiente doméstico, os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho têm apresentado um dinamismo maior do que o esperado.

O comitê enfatizou que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento no crédito direcionado e as incertezas em relação à estabilização do endividamento público têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra (aquela que não tem impactos positivos ou negativos sobre a economia). Isso pode ter impactos danosos sobre os efeitos da política monetária e sobre a redução da inflação.

As mudanças nas metas do resultado primário para 2025 e 2026, anunciadas em abril pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foram citadas pelos diretores do BC. Segundo eles, uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida ajuda na ancoragem das expectativas de inflação e na redução dos prêmios de risco sobre os ativos financeiros.

“Ainda que as projeções de resultado primário e de trajetória da dívida não tenham se alterado significativamente, observou-se, no período, um aumento do prêmio de risco e uma percepção de piora da situação fiscal”, cita a ata.

De acordo com o Copom, a recente desancoragem das expectativas de inflação pode ser atribuída à piora do cenário externo, aos recentes anúncios de política fiscal e à percepção dos agentes econômicos sobre o compromisso de atingir a meta ao longo dos anos.

“O Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira”, também destaca a ata.

Cenário externo está mais adverso

O comitê aponta que o cenário externo está mais adverso devido à incerteza elevada e persistente em relação ao início dos cortes de juros nos Estados Unidos e à velocidade com que ocorrerá a queda da inflação, de forma sustentada, em diversos países.

“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes”, cita o Copom na ata.

Os diretores do BC mostram que o cenário de redução da inflação nos Estados Unidos é mais custoso, o que requer mais cautela por parte da política monetária. Eles classificam que o cenário para redução dos juros na maior economia global está mais aberto. “Houve uma reprecificação do ciclo de cortes nos Estados Unidos, com redução da sua extensão e postergação de seu início”.

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