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O valor pago aos médicos é um dos pontos centrais na discussão entre a classe médica e as empresas de encaminhamento. Como as consultas custam, em média, R$ 35, e uma parte do valor fica com as instituições, o profissional recebe menos do que prevê a tabela da classe, que estabelece um valor mínimo de R$ 35 para o procedimento.

"Se a empresa está pagando ao médico R$ 25, alguém está ganhando aí. Ela está fazendo uma concorrência desleal e ferindo o código de ética médica, usando a medicina como comércio", diz o cirurgião Ricardo Baptista, conselheiro do Conselho Federal de Medicina (CFM).

O presidente da Abra Saúde, Celso Miranda, é categórico na resposta: "Nós não procuramos os médicos. Eles é que nos procuram". Para Miranda, se não valesse a pena para os profissionais, eles não recorreriam a nenhuma empresa. "Os médicos precisam de pacientes. Ou você vai se formar, montar um consultório e ficar sem paciente? Nem todo médico é medalhão; nem todo mundo acha que R$ 35, R$ 40 é ninharia. A maioria entra no mercado precisando recuperar aquilo que foi investido em oito anos de estudo."

Melhor que plano de saúde?

Para o consultor da ProVitae, José de Carvalho Filho, a lógica é simples: o que compensa é a quantidade. "Eles deixam de ganhar mais por consulta, mas, em compensação, o consultório está lotado."

Carvalho Filho compara as empresas de encaminhamento com os planos de saúde, e também conclui que elas são vantajosas para os médicos. "Tem convênio que paga R$ 22 por uma consulta e demora 40 dias, no mínimo, para repassar o valor ao médico. Aqui, o médico que atendeu 20 pacientes essa semana pode vir e receber no ato."

O clínico geral Paulo Bevilaqua Luz, médico há 18 anos, confirma a tese: ele trabalha em dois locais além de seu consultório particular e atende por cinco convênios – todos pagam menos de R$ 42 por consulta, dinheiro que só cai em sua conta no mínimo 45 dias após o atendimento.

"Paciente particular é muito raro. Semana passada tive dois; nessa, não tive nenhum", diz Bevilaqua Luz. Para ele, ser médico já não é financeiramente compensador como antigamente. "Se você considerar tudo que investe na sua profissão, não compensa. Aí, entre ganhar pouco e não ganhar nada, você prefere ganhar menos."

O ortopedista mineiro Gustavo Magalhães, que recebe cerca de 100 pacientes por mês encaminhados por empresas de intermediação, cita um estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) que mostra que o custo médio para manutenção de um consultório padrão é de R$ 5,2 mil por mês. "Se você transformar isso em consultas de plano de saúde, um médico iria precisar fazer 300 consultas por mês só para se manter. Se for atender particular, ele está perdido, porque não consegue demanda. Então, o médico tem de partir para essas variáveis."

Intrometidas

Para José Fernando Macedo, presidente da Associação Médica do Paraná (AMP), ainda assim vale o questionamento às empresas. "Se elas pagam bem ou mal, não nos interessa; o fato é que elas não estão dentro do contexto médico, não são éticas; são empresas que se intrometem em uma profissão." (EHC)

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