Os investidores voltaram a sacar recursos (diferença entre depósitos e retiradas) da tradicional caderneta de poupança em março deste ano, revelam números divulgados pelo Banco Central nesta segunda-feira (6).
De acordo com o BC, houve a saída líquida de R$ 846 milhões da poupança em março, o pior resultado desde a retirada de R$ 1,84 bilhão em abril de 2008. No mês passado, os depósitos somaram R$ 81,70 bilhões e as retiradas totalizaram R$ 82,54 bilhões.
A saída de recursos da caderneta de poupança acontece em meio à crise financeira internacional, que tem gerado demissões, ou suspensões de contratos de trabalho, no Brasil e no mundo.
Em fevereiro deste ano, o saldo da poupança havia ficado positivo em R$ 751 milhões. Entretanto, o resultado positivo do mês passado veio após uma retirada líquida de R$ 486 milhões em janeiro de 2009.
Primeiro trimestre
No acumulado do primeiro trimestre de 2009, houve a saída líquida (retiradas superando os depósitos) de R$ 582 milhões da caderneta de poupança. Esse é o pior resultado desde os três primeiros meses de 2006, quando a modalidade de investimentos perdeu R$ 5,44 bilhões em recursos.
Atratividade da aplicação
A caderneta de poupança tem perdido recursos mesmo com a melhoria de sua competitividade frente a outros investimentos de renda fixa. Isso é reflexo do cenário de queda dos juros básicos da economia, que diminui a rentabilidade dos fundos de renda fixa ofertados pelos bancos.
Os juros básicos da economia brasileira, que terminaram 2008 em 13,75% ao ano, já recuaram para 11,25% ao ano em março deste ano - o menor patamar da história. A expectativa do mercado financeiro é de novas quedas na taxa de juros, que chegaria ao fim de 2009 em 9,25% ao ano. Ou seja, abaixo de 10% também pela primeira vez na história do país.
Na poupança, cuja correção é determinada pela variação da taxa referencial (TR) mais 0,5% ao mês, não é cobrada taxa de administração e nem Imposto de Renda (IR), ao contrário dos fundos de renda fixa oferecidos pelas instituições financeiras. A aplicação ainda é vantajosa para quem precisar do dinheiro no curto prazo.
Mudanças na remuneração da poupança
O governo, entretanto, admite que está avaliando mudanças na remuneração da caderneta de poupança, com o objetivo de diminuir a sua rentabilidade. Isso porque, com o rendimento da poupança concorrendo com os fundos de renda fixa dos bancos, haveria mais dificuldade de o Tesouro Nacional vender seus títulos públicos. O problema é que o governo depende da emissão de novos títulos para pagar aqueles papéis que estão vencendo. É a chamada "rolagem" da dívida pública.
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva já admitiu que há estudos para mudar a rentabilidade da poupança. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou recentemente que a remuneração da caderneta de poupança é um "problema" e um "desafio" para o governo.