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| Foto: Kelsen Fernandes/ Fotos Públicas/

Operando no vermelho, os Correios vão precisar recorrer a um empréstimo neste ano para conseguir honrar seus compromissos, incluindo salários de empregados e encomendas de fornecedores. As projeções são de que o dinheiro no caixa da empresa termine no segundo semestre. No ano passado, as indicações são de que a empresa tenha terminado com prejuízo de R$ 2,1 bilhões - o balanço ainda não foi publicado. Este ano, até maio, a perda já chega a R$ 700 milhões.

Mais de dez anos após ser o palco inaugural do escândalo do mensalão, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) ainda sofre, segundo quem acompanha o dia a dia da companhia, as consequências do aparelhamento político-partidário a que foi submetida nos últimos anos.

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A atual direção, composta na maior parte por indicados do PDT, partido do ex-presidente Giovanni Queiroz e do ex-ministro das Comunicações André Figueiredo, tem apenas um membro que é funcionário de carreira, com experiência em logística.

O valor de R$ 2,1 bilhões de perda em 2015 já passou pelo crivo do conselho de administração da estatal, mas ainda não é oficial porque tem de ser submetido a uma assembleia geral ordinária, que não tem data para ocorrer. Procurados, os Correios disseram apenas que “adotam as melhores práticas de governança corporativa” e que só iriam se manifestar sobre o balanço após a aprovação pela assembleia.

Tarifas

Fontes consultadas pelo jornal O Estado de S. Paulo apontam o represamento do preço das tarifas de serviços, para evitar impactos na inflação, como um dos principais fatores desse prejuízo recorde. Mesmo com o reajuste de 8,89% dado pelo governo em dezembro de 2015 para s tarifas de entrega de cartas e telegramas, a defasagem retirou cerca de R$ 350 milhões dos Correios no ano passado.

Apesar do reajuste, os cálculos são de que as tarifas ainda continuam defasadas em torno de 8%, o que retira R$ 40 milhões, em média, do caixa da empresa todo mês. O aumento deste ano, previsto para abril, ainda não foi autorizado.

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As despesas dos Correios crescem em ritmo superior às receitas. Em 2015, enquanto as despesas aumentaram 18,3%, as receitas cresceram 6,5%, abaixo da inflação. Só as despesas médicas dos funcionários subiram mais de R$ 500 milhões. A Postal Saúde, plano de assistência médica dos funcionários, foi criada para reduzir as despesas com assistência médica, hospitalar e odontológica. Mas o resultado foi o contrário.

Antes de apresentar os prejuízos de R$ 313 milhões em 2013, de R$ 20 milhões em 2014 e de R$ 2,1 bilhões em 2015, os Correios fecharam 2012 com R$ 6 bilhões em aplicações. Mas os resultados deficitários dos anos seguintes e os fortes repasses de dividendos para o Tesouro Nacional, para ajudar no fechamento das contas do governo, fizeram com que os recursos investidos fossem minguando nos anos seguintes. No ano passado, fechou em menos de R$ 2 bilhões.

Indicação política é regra nos Correios

Experiência em logística passou longe dos critérios para a distribuição dos cargos da direção dos Correios pelo PDT, partido do ex-presidente da estatal Giovanni Queiroz, médico e fazendeiro, e do ex-ministro das Comunicações André Figueiredo. O presidente interino, Heli Siqueira de Azevedo, também fazendeiro e do mesmo partido, já foi autuado por irregularidades trabalhistas em sua propriedade rural em Minas Gerais, antes de assumir cargo de superintendente do Ministério do Trabalho.

Na cúpula da estatal, todos têm indicação de um partido, até mesmo o único que é funcionário de carreira. Dois advogados, sem nenhuma experiência na área, comandam as áreas de encomendas e negócio postal. Um dentista, indicado pelo PT, era responsável pela área de tecnologia há até pouco tempo.

Manoel Dias, ex-ministro do Trabalho da gestão Dilma Rousseff, assumiu em janeiro a presidência da CorreiosPar, subsidiária que seria responsável pelos novos negócios que a estatal foi autorizada a entrar, como companhia de transporte aéreo de carga, telefonia virtual móvel e até um banco.

Quando assumiu o cargo, Giovanni Queiroz decidiu cortar o próprio salário e dos demais diretores em 30%, mas a direção da empresa voltou atrás da medida no mês passado. O presidente voltou a ganhar R$ 46 mil e os vices, R$ 40 mil cada um. O ex-presidente dos Correios tinha tomado a iniciativa depois que se sentiu pressionado com o corte do salário da presidente afastada Dilma Rousseff e dos ministros.

O argumento para a volta é que a nova direção, que ainda vai assumir, precisa de salários semelhantes aos de mercado para atrair bons executivos para a estatal.

Regras

Nesta semana, o presidente em exercício, Michel Temer, suspendeu as nomeações para estatais e fundos de pensão até a aprovação pelo Congresso dos projetos que endurecem regras para barrar a nomeação de políticos para os cargos.

No entanto, os partidos da base do governo na Câmara devem afrouxar as regras que foram aprovadas pelo Senado. Por exemplo: a exigência de um intervalo de três anos, no mínimo, para que um dirigente partidário ou sindical assuma uma vaga de presidente, diretor ou conselheiro de administração de uma estatal. Com as mudanças, bastaria aos indicados deixar as funções antes de serem nomeados.

A regra do Senado inviabilizaria a posse do ex-deputado Guilherme Campos, escolhido pelo ministro de Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, para a presidência dos Correios. Campos, que tem larga experiência como comerciante em Campinas, está no exercício da presidência do PSD.

Também deve ser retirada a exigência de que os indicados tenham dez anos de experiência no setor, assim como não será mais preciso cumprir todas as exigências, mas apenas uma delas. Com as alterações, o texto deve voltar ao Senado.

Campos terá dois testes de fogo logo após assumir o cargo. Terá de comandar a renegociação dos salários dos quase 120 mil funcionários. A data-base da categoria é em agosto. Os servidores são representados por 36 sindicatos. A estatal ainda é responsável por toda a logística dos Jogos Olímpicos, também em agosto.

O novo presidente também precisará dar solução para outros dois problemas: o Postalis, fundo de pensão dos funcionários da estatal, que também fechou nos últimos anos com rombos bilionários, e a Postal Saúde, plano de assistência médica dos servidores, que está sendo investigada pela Operação Lava Jato.

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