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O mineiro Henrique Dutra trabalhou na aceleradora  GSVLabs e  agora está  na Automation Anywhere, no Vale do Silício | Arquivo Pessoal/
O mineiro Henrique Dutra trabalhou na aceleradora GSVLabs e agora está na Automation Anywhere, no Vale do Silício| Foto: Arquivo Pessoal/

Trabalhar em uma startup é o sonho de muitos jovens brasileiros, não somente pelo conceito de modernidade e por oferecem ambientes descontraídos e inovadores, mas em busca de carreiras sólidas, com oportunidades de crescimento. Um estudo da plataforma MindMiners, referência em pesquisa digital, aponta que 39% dos jovens brasileiros preferem trabalhar em empresas de tecnologia, como em startups, para alcançar esses objetivos. A preferência perde apenas para os planos de empreender e criar um novo negócio, sinalizada por 51% dos jovens.

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O Vale do Silício, na Califórnia, meca das startups, que concentra mais de 5 mil negócios inovadores, é o mais óbvio dos destinos. Logo após a graduação em Publicidade e Propaganda pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUCMG), o publicitário mineiro Henrique Dutra, de 27 anos, foi atrás de uma oportunidade, inicialmente acadêmica, na região da baía de São Francisco. “Sempre gostei de inovação e comecei a buscar formas de entrar neste universo”, conta.

Em 2014, Dutra foi aceito em cursos de pós-graduação nas áreas de administração e gerenciamento de projetos na Universidade da Califórnia, em Berkeley. Para garantir o canudo, fez estágio integral obrigatório de três meses na área de negócios na conceituada aceleradora de startups GSV Labs. A experiência que deveria durar no máximo um ano pelos planos dele já chegou a quatro, por conta das oportunidades que foram surgindo pelo caminho.

“O setor de marketing da GSV Labs estava defasado e fizeram uma oferta para eu ser gerente da área. Fiquei por dois anos”, conta. Dutra então recebeu uma oferta da multinacional HP, para criar um novo serviço, onde ficou por um ano. Há um mês, foi contratado pela Automation Anywhere, em San Jose, também no Vale do Silício, para o cargo de gerente de Marketing de Produto.

A startup de origem indiana desenvolve softwares de automação de processos robóticos e tem escritórios em 20 países, com cerca de 500 colaboradores espalhados pelo mundo. Avaliada em US$ 1,8 bilhões, a empresa passou pelo seu primeiro round de investimento em julho deste ano e recebeu um aporte de US$ 250 milhões, liderado pelo grupo financeiro Goldman Sachs.

Um incentivo a mais para o profissional mineiro, que foi contratado como acionista, modelo comum entre as startups como atrativo para a retenção de talentos. Além do horário flexível, ele tem o benefício de férias ilimitadas, outra prática bastante difundida no Vale, desde que apresente bons resultados e seja comprometido com a empresa.

“Para quem já tem o visto, é muito fácil trabalhar no Vale, porque a região tem muita oferta de emprego”, diz. Dutra está há quatro anos nos Estados Unidos e não tem planos de voltar ao Brasil por enquanto, mas não descarta um retorno. “Gostaria de abrir uma empresa aqui e levar para o Brasil. É difícil, mas se implementar por aqui, tenho condições de estar em qualquer lugar do mundo. O contrário não consigo fazer.”

A gerente de vendas da Real Trends, Michele Gonçalves, ao lado da colega brasileira (de preto) Tamylin Trevisan e dos colaboradores argentinos Diego Díaz e Victoria Gandini.Divulgação

Não só do Vale do Silício vivem as startups

Os negócios inovadores se espalharam pelo mundo e muitas empresas estrangeiras estão em busca especificamente dos talentos brasileiros em suas equipes, como é o caso da argentina Real Trends, com sede em Buenos Aires. Ela oferece suporte aos vendedores do Mercado Livre e enxerga a maior parte de seu mercado em terras brasileiras, que representam metade do faturamento. A equipe de 33 funcionários tem seis brasileiros e quer contratar mais sete.

Um desses colaboradores é a baiana Michele Gonçalves, 37, formada em Design e Gestão de Moda pela Universidade de Salvador (Unifacs). Ela chegou a Buenos Aires há 13 anos, para uma pós-graduação na área de marketing e tem experiência com o trabalho em startups há oito. Antes, Michele passou pelo setor hoteleiro e por outras três startups de tecnologia. Há quase dois anos, a profissional atua como gerente de vendas da Real Trends e lidera uma equipe de cinco pessoas no Brasil, México e Argentina.

Michele comanda um grupo no Facebook de oportunidades de trabalho para brasileiros em Buenos Aires, com sete mil membros. E foi de lá mesmo que chegou a oportunidade de candidatar-se à vaga na startup. “Tenho a página como forma de ajudar os brasileiros, para que tenham o mesmo sucesso na área profissional que estou tendo aqui. Apareceu uma oferta na área de vendas na Real Trends, que ainda não tinha uma gerente.”

Na época, a baiana estava trabalhando como consultora de startups na área de abertura de mercado, de forma autônoma, para poder dar mais atenção ao filho de três anos. O crescimento foi rápido. “A empresa ainda era pequena, com cerca de dez pessoas, hoje tem quase 40. Depois de seis de meses me tornei gerente”, conta. Diferentemente do Vale do Silício – e mesmo em relação à legislação do Brasil – pelas regras trabalhistas da Argentina ter direito a mais de duas semanas de férias é um grande benefício.

No país, é preciso trabalhar cinco anos para conquistar mais tempo de descanso, conta Michele. A Real Trends oferece três semanas em contrato. Apesar da questão das férias ser um retrocesso, se comparado à lei brasileira, e ganhar salário em um país que tem uma inflação de 40% ao ano, o que vale é a experiência. “É uma empresa horizontal. Por mais que tenha postos de gerência, todos sentam juntos para trabalhar e ninguém tem local específico. O prédio é grande e nos relacionamos com outras startups. A maior parte da minha experiência profissional foi com os argentinos e cresci muito trabalhando com eles.”

A Real Trends está com postos aberto no escritório de Buenos Aires, pelo realtrends.workable.com especialmente para contratação de brasileiros. Eles são nas áreas de vendas, marketing, tecnologia da informação, atendimento ao cliente, infraestrutura e gerente de produto.

O gaúcho Renato Oliveira da Silva é engenheiro de software da espanhola Glovo, em Barcelona.Divulgação

A milhares de quilômetros de distância está o gaúcho Renato Oliveira da Silva, 32, bacharel em Ciência da Computação. Desde 2017 ele é engenheiro de software do delivery multicategoria Glovo e atua na sede da empresa, em Barcelona. A experiência no exterior, ainda na época da faculdade, e o elevado nível de inglês facilitaram a contratação na startup espanhola. O brasileiro fez intercâmbio na Alemanha e na França e passou pelo centro de pesquisas e desenvolvimento mantidos pela HP em Porto Alegre mesmo.

Silva gosta de ser instigado e é o que o motiva a cada dia na Glovo. “Aqui encontramos desafios muito importantes. A empresa está em forte crescimento e o número de clientes aumenta todos os dias. Inevitavelmente o sistema sobrecarrega e aprender como resolver e contornar isso é fantástico”, relata.

Segundo o gaúcho, o ritmo é bastante puxado, o que é perfeito para ele e os colegas de trabalho. “A maioria dos colaboradores é muito jovem e todos estão no mesmo momento da vida, de dar um gás. Trabalhamos em um ritmo acelerado de querer crescer junto com a empresa e a maioria enxerga da mesma maneira.”

Pa ixão pelos idiomas leva poliglota à gerência de projetos didáticos da Babbel

O paulista Vitor Shereiber Nogueira, 30, fala alemão, inglês, francês e italiano e no momento estuda russo, indonésio e wolof (este último e pouco conhecido idioma é africano, falado principalmente no Senegal). Ao contrário do que jamais imaginou para a carreira, por ser da área de humanas, a habilidade levou o brasileiro ao cargo de gerente de projetos didáticos da alemã Babbel, que tem sede em Berlim.

A plataforma oferece 14 idiomas, por isso é um ambiente bastante internacional. Somente contratados brasileiros são cerca de 20. Isso porque o Brasil é um mercado importante, o quinto maior da plataforma, que está em 50 nações. “Mais de 50% dos assinantes da América Latina são do Brasil”, revela Nogueira. Nascido em São Carlos e formado em Letras Português – Alemão pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), ele mudou para Hamburgo em 2010, para aperfeiçoar os conhecimentos na língua germânica.

Após um ano, Nogueira fixou endereço em Berlim. Lá ele cuidou de crianças na casa de uma família alemã e aproveitou para fazer uma segunda faculdade, em História e Estudos de Gênero. Em 2014, foi contratado pela Babbel, quando a plataforma passou a oferecer a opção do curso de língua portuguesa.

O interesse por temas relativos à diversidade, inicialmente pessoal e acadêmico, agora é parte integrante de sua atividade profissional, seja buscando modos de representar a diversidade humana nos conteúdos didáticos da Babbel ou refletindo sobre como tornar o ambiente de trabalho mais igualitário e inclusivo. “Quando estudei gênero, pensei que não poderia usar profissionalmente, mas existe uma abertura muito maior para esse tema e desde o início me sinto muito bem-vindo na empresa”, conta Nogueira.

Nestes quatro anos, o brasileiro foi estagiário, editor, fez produção de vídeos e podcasts, análise de dados e programação, até chegar ao cargo atual, em 2016. “Uma das coisas que mais gosto é que tudo muda muito rápido. Quando comecei eram 200 pessoas (hoje são 600) e tive várias funções. Percebo muita possibilidade de crescer pessoalmente e profissionalmente.”

Na Babbel, Nogueira tem horários flexíveis. Desde que cumpra 40 horas semanais, pode fazer a carga que desejar entre as 6h e as 22h, além da possibilidade de fazer home office. “A cada dois anos posso tirar até três meses de licença não-remunerada, com a vaga garantida quando retornar.”

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