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O veículo projetado pela Mobilis, o Li,  traz partida por login e sistema de manutenção online conectado com a fábrica, que analisa o perfil do condutor e prevê problemas no sistema antes de acontecerem. | Claudio Brandão/
O veículo projetado pela Mobilis, o Li, traz partida por login e sistema de manutenção online conectado com a fábrica, que analisa o perfil do condutor e prevê problemas no sistema antes de acontecerem.| Foto: Claudio Brandão/

Carro 100% elétrico é um luxo para poucos no Brasil. Pouco mais de oito mil unidades puramente elétricas circulam no país, incluindo carros, ônibus e caminhões – o que representa 0,02% da frota circulante total. Mas enquanto as grandes montadoras aguardam incentivos para trazer modelos elétricos ao país, têm startups brasileiras ajudando a pavimentar o caminho da eletrificação com modelos comerciais de nicho.

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A paranaense Hitech Electric saiu na frente em 2017 ao colocar no mercado quatro modelos de veículos totalmente elétricos para uso urbano e com preço popular: dois carros (de 2 e 4 lugares) e dois caminhões (modelo com caçamba e com baú), que trafegam com velocidade máxima de 60 km/h e autonomia de até 120 km com uma carga de energia. Todos estão homologados pelo Denatran e aptos a rodas na vias urbanas. Em março deste ano, o fundo de investimentos em startups KICK Ventures comprou uma fatia de participação na Hitech, que também está desenvolvendo o primeiro carro com energia fotovoltaica do Brasil e um modelo autônomo, como mostrou uma reportagem da Gazeta publicada em abril deste ano.

Agora, outras duas startups – Mobilis e a eiON – estão trilhando o mesmo caminho da Hitech e prometem, num futuro bem próximo, colocar seus veículos nas ruas brasileiras. Localizada no bairro mais tecnológico da Grande Florianópolis, Pedra Branca, em Palhoça (SC), a Mobilis trabalha para entregar até o final deste ano uma encomenda de dez unidades do Li, veículo totalmente elétrico e conectado de dois lugares, sem portas e com autonomia para rodar até 100 km.

A startup catarinense tirou do papel um veículo moderno que se conecta ao smartphone do cliente, com partida por login e sistema de manutenção online conectado com a fábrica. As células das baterias de íon-lítio estão entre os cerca de 30% de componentes do Li que são importados da China. Todo o restante é produção nacional, incluindo o motor de 10 Cv, feito pela conterrânea WEG, de Joinville, uma das maiores fabricantes de motores elétricos do mundo.

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A startup foi criada em 2013 pelas mãos de três engenheiros: dois mecânicos, Mahatma Marostica e Thiago Hoeltgebaum, e um eletricista, Paulo Bosquieiro Zanetti. O Li foi lançado quatro anos depois, no final de 2017, e está sendo vendido como um veículo de vizinhança, para rodar circuitos fechados e com velocidade limitada, como parques industriais, portos aeroportos, centros logísticos e resorts, por exemplo. O principal concorrente do Li hoje no Brasil são os carrinhos de Golfe.

O conceito da Mobilis é diferente das grandes montadoras. O Li foi desenhado para ser construído em pequenos espaços. Dependendo do grau de automação, a startup diz que consegue fazer cerca de 200 veículos por ano em locais de até 250 metros quadrados.

Li, o carro para rodar em circuitos fechados da Mobilis.Claudio Brandão/Divulgação

R$ 5 milhões para ganhar as ruas

Segundo Erico dos Reis, diretor comercial da Mobilis, “o Li nasceu com o propósito de ser um veículo urbano e conectado” – e este é o destino. A decisão da startup de mantê-lo fora das vias urbanas neste primeiro momento, contudo, está diretamente ligada ao custo. “Há um custo financeiro alto para adequar o Li para as ruas. Precisa homologar, colocar portas, ar-condicionado, itens de segurança”, destaca Reis. Além disso, como veículo de vizinhança, ele fica de R$ 10 mil a 15 mil mais barato para o consumidor.

Como o sucesso dessa empreitada depende de investimentos, a empresa planeja captar entre R$ 5 milhões e R$ 15 milhões no próximo ano. A maior porção do investimento é para capital de giro, homologação do veículo e estruturação fabril para produção de 50 unidades por mês, exatamente nesta ordem. A Mobilis quer vender pelo menos 100 unidades do Li em 2019.

O Li tem três versões diferentes: Trail, Confort e Work, todas com 50 ou 100 km de autonomia, considerando uma velocidade média de 40 km/h e uma carga de 6 horas. O preço varia de R$ 54,4 mil a R$ 65 mil, dependendo dos adicionais. A versão urbana, já automática, deve custar entre R$ 65 mil e R$ 69 mil. Mas com custo de manutenção baixo e eletricidade mais barata que a gasolina, a economia em dois anos é equivalente a compra de um veículo popular de R$ 35 mil, garante Reis. Mesmo sem uma data para chegar às ruas, mais de 300 pessoas já demonstraram interesse pela versão urbana do Li.

eiOn lança buggy elétrico e conectado

Assim como a Mobilis, a startup paranaense eiON também quer colocar o seu veículo elétrico vias urbanas no futuro. O primeiro passo foi dado no último dia nove, quando a startup lançou oficialmente o Buggy Power no evento de inauguração do Centro de Tecnologia de Veículos Híbridos e Elétricos, do Sistema Fiep.

O buggy elétrico e conectado da eiON é resultado de um projeto de dois anos do engenheiro eletricista Milton dos Santos Junior. Uma motivação pessoal o fez passar noites e noites estudando e desenvolvendo o projeto de um veículo elétrico, até topar com dificuldades na parte mecânica do projeto e buscar ajuda com amigos de uma empresa de Curitiba que fabrica buggys. Ali nasceu a parceria que deu origem ao Buggy Power, o MVP (produto mínimo viável) que validou a startup, segundo Junior.

O buggy à combustão passou por uma série de adaptações para receber um power train totalmente elétrico, com motor produzido também pela WEG e baterias de íon-lítio de três empresas distintas que estão sendo testadas para análise de desempenho, com potência de 12 kWh a 51 kWh.

O buggy da paranaense eiON, lançado na inauguração do Centro de Tecnologia de Veículos Híbridos e Elétricos.Divulgação

O Buggy Power chega ao mercado com quatro versões – Básica, Padrão, Econômica e Luxo – e autonomia para rodar 120 km, 150 km, 250 km e 500 km, no caso da versão luxo cujas baterias são de 51 kWh. Neste caso, o tempo estimado de uma recarga lenta é de 15 horas, com custo de R$ 36. Nas versões Básica e Econômica, a recarga total pode ser feita em cinco horas ao custo de R$ 9.

“Achamos que existe um nicho, mas o preço ainda é o nosso maior desafio”, afirma Junior. A versão mais top pode chegar a R$ 200 mil. O objetivo da eiON é ser uma fabricante de veículos elétricos nacionais, mas como isso demanda investimento pesado, a startup está mirando primeiro um mercado de nicho, para atender resorts, pousadas, locais voltados ao ecoturismo.

Como se faz ecoturismo com uma camionete à combustão? O Buggy Power significa turismo ecológico de verdade, sustentável, sem emissões em meio à natureza. São questões que têm um apelo forte hoje em dia, mas só isso não vende, tem que ter preço e competitividade

Baseado em pesquisas de mercado, Junior estima que a demanda deste mercado de buggys seja de mil unidades por ano no país. O próximo passo é buscar investidores para estruturar a empresa, desenvolver o produto e colocá-lo oficialmente no mercado.

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