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Operador trabalha na Bolsa de Nova York. Fatores financeiros podem contribuir para a próxima recessão na maior economia global
Operador trabalha na Bolsa de Nova York. Fatores financeiros podem contribuir para a próxima recessão na maior economia global| Foto: Drew Angerer/Getty Images/AFP

Uma recessão está chegando. Mas, apesar dos sinais de alerta da semana passada, não sabemos quando ela virá. Pode ser iminente, ou a economia poderia continuar avançando lentamente até a morte pelo calor do universo ou, como poderíamos chamá-lo, a Grande Depressão.

Quão ruim será a próxima recessão? Os prognósticos variam e não temos grandes dados sobre eventos futuros. Mas nós temos muita informação sobre o que aconteceu no passado e nela podemos procurar por pistas.

Cerca de 40 milhões de adultos dos EUA não viram uma única recessão em suas carreiras profissionais. Um número quase igual, incluindo a maioria dos millennials, viram apenas uma desde que completaram 18 anos. Esta recessão, a devastadora Grande Recessão de dezembro de 2007 a junho de 2009, não foi representativa.

Aconteceram 11 recessões desde a Segunda Guerra Mundial. Em média, duraram 11,1 meses, de acordo com o National Bureau of Economic Research (Escritório Nacional de Pesquisa Econômica - NBER). A mais curta durou apenas 6 meses (1980) e é frequentemente contabilizada com uma recessão que se seguiu entre 1981 e 1982, enquanto a mais longo durou 18 meses (2007-2009).

Os padrões da NBER são complicados, mas uma regra geral diz que estamos em uma recessão depois que a economia se contraiu por dois trimestres consecutivos. De fato, as médias mostram que a economia tipicamente encolhe cerca de 1,4%, em dois trimestres ,antes que o crescimento seja retomada.

Em média, após cerca de dois trimestres de recessão, o mercado de ações volta a se recuperar após uma queda de cerca de 7% (com base no valor médio mensal do S&P 500). Nas piores recessões, o índice de ações caiu pela metade. Em outras, apenas sofreu pequenas baixas - o tipo de perda que pode ser revertida com alguns bons dias ou semanas.

O nível de emprego demora mais a se recuperar. O desemprego tende a aumentar por 15 ou 16 meses antes que o mercado de trabalho chegue ao fundo do poço. A taxa de desemprego aumenta cerca de 2,4 pontos percentuais, em média, durante esse período. O efeito tem variado de um salto de cinco pontos durante a Grande Recessão até um aumento de dois pontos nas recessões que começaram 1961 e 2001.

Mulher corta carvão em pedaços durante a Grande Recessão, em 1937. Foto Lewis Hine/U.S. National Archives
Mulher corta carvão em pedaços durante a Grande Recessão, em 1937. Foto Lewis Hine/U.S. National Archives| Lewis Hine/National Archives

Então, para a maioria dos americanos, que talvez se lembrem dolorosamente da Grande Recessão, a próxima, se seguir um padrão mais comum, poderá parecer amena.

Em fevereiro, analistas da Goldman Sachs Research classificaram um século de recessões nos EUA em cinco categorias. Três delas, indústria, preço do petróleo e inflação, parecem menos prováveis ​​hoje, escrevem os analistas.

- Indústria: As provações e atribulações do setor manufatureiro causaram pelo menos três recessões na primeira metade do século 20, mas a indústria não causa ou quebra a prosperidade americana nos dias de hoje.

- Inflação: O crescimento descontrolado dos preços, que uma época era o flagelo das equipes econômicas, tem se mantido contido na atual expansão económica, que começou em 2009. Compare esta situação com o início dos anos 80, quando duas recessões se seguiram à bem-sucedida presidência do Fed (o BC americano) Paul Volcker, quando esforços dispendiosos para domar a inflação, que estava em dois dígitos, foram feitos por meio do aumento das taxas de juros.

- Petróleo: A indústria petrolífera evoluiu desde o embargo de 1973, feito pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) que ajudou a derrubar a economia norte-americana. A parcela da gasolina e outros produtos ligados à energia nos gastos do consumidor se tornou a menor da história. A revolução do fracking permite que os produtores dos EUA acelerassem rapidamente a produção e tirassem proveito do aumento dos preços antes que estes passem a oscilar dramaticamente.

Os analistas não descartaram tão rapidamente as questões financeiras e fiscais.

- Financeiro: Os fator mais consistentes em recessões recentes - bolhas e mercados de risco - continuam a representar uma grande ameaça, apontam os analistas do Goldman. Mas parecem estar contidas no momento, em parte por causa da cautela das famílias, empresas e órgãos regulatórios, induzida durante a crise.

- Fiscal: Os governos geralmente se esforçam para evitar a ocorrência de recessões. As recessões fiscais geralmente se seguem uma a grande guerra, quando os gastos militares caem e a economia passa para um ritmo de paz. Uma desaceleração relacionada ao fim de alguns dos cortes de impostos do Trump também pode se enquadrar nessa categoria.

"Com o aumento da polarização política e da incerteza, uma política fiscal mais ampla pode converter-se em um risco que, no mínimo, agrave uma recessão futura", disse Jan Hatzius, do Goldman, em fevereiro.

"Quando a próxima recessão ocorrer, a disfunção política associada a anos de déficits crescentes poderá tornar a política fiscal menos eficaz para estimular a recuperação econômica."

Hatzius observou, na quinta-feira, que o recente acordo orçamentário diminuiu significativamente o risco de uma recessão fiscalmente induzida.

A atual agitação nos mercados parece estar enraizada na guerra comercial do presidente Donald Trump com a China. Há pouco precedente recente para uma recessão autoinfligida causada pela política comercial protecionista, com uma exceção notável. As tarifas Smoot-Hawley, aprovadas em 1930, não causaram a Grande Depressão, mas provavelmente a agravaram.

As tarifas Smoot-Hawley foram a última vez em que tarifas norte-americanas estavam tão altas quanto as atualmente cobradas ou ameaçadas contra a China, segundo Chad Bown e Eva (Yiwen) Zhang, do Peterson Institute for International Economics.

É difícil saber o que acabará finalmente com a atual expansão. Poderia ser uma morte poor causas múltiplas: tarifas, desaceleração da economia global, uma ressaca posterior à bebedeira causada pelos cortes de impostos de Trump, um mercado de trabalho em desaceleração. Se tivermos esse lento declínio, isto pode acabar sendo sentido como uma recessão superficial, com um pequeno aumento no desemprego e um volátil, mas não aterrorizante, declínio nos valores das ações.

Mas se as empresas e os consumidores nos Estados Unidos e em todo o mundo começarem a entrar em pânico, ou se deixarem congelar pela incerteza sobre o que poderá acontecer em seguida no comércio ou em outros assuntos globais, o resultado poderá ser muito pior.

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