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 Em um ano marcado por eleição presidencial e turbulências no mercado externo, a Bolsa brasileira encerra 2018 com valorização de 15%, desempenho muito superior aos principais índices mundiais e também na comparação com os pares emergentes. 

O mercado acionário brasileiro se descolou da turbulência externa na esteira do otimismo eleitoral e com a perspectiva de recuperação da economia brasileira após anos de recessão, dizem analistas. Eles projetam mais um ano de alta para a Bolsa em 2019 -as estimativas apontam o Ibovespa entre 112 mil a 150 mil pontos, dependendo do otimismo do analista. 

 A confirmação de cenário dependerá, porém, da aprovação de reformas, especialmente a da Previdência, e também de uma acomodação nos mercados internacionais. 

 O Ibovespa, que reúne as ações mais negociadas, saltou de 76 a 87 mil pontos ao longo do ano, mas ficou abaixo da máxima histórica atingida logo após a eleição de Jair Bolsonaro (PSL), que toma posse na terça-feira (1º). 

 Fechou nesta sexta-feira, o último pregão do ano, cotada a 87.887 pontos, com alta de 2,83%. No ano, a valorização acumulada foi de 15,03%. Na máxima do ano, o índice renovou recordes perto de 90 mil pontos, mas não conseguiu superar esse patamar. 

 "A Bolsa chegou a 90 mil pontos, uns 5% acima do patamar atual. Ela subiu bastante rápido e chamou realização [venda de ações para embolsar lucro]", diz Martin Iglesias, especialista em Investimentos do Itaú. 

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 "Eu acho que, no Brasil, a tese de investimento foi correta", afirma Victor Candido, da Guide Corretora, sobre a alta da Bolsa. A casa projetava que o Ibovespa terminaria o ano ao redor dos 95 mil pontos, o que não se confirmou. 

 A escalada da Bolsa brasileira e o descasamento do cenário externo ficou evidente a partir de outubro. Por aqui, a Bolsa disparou, reflexo do otimismo dos investidores locais com a consolidação de Bolsonaro na preferência dos eleitores. 

 Sem propostas concretas e afastado dos debates por causa da facada que sofreu durante a campanha, o então candidato arrebanhava votos calcado na oposição ao petista Fernando Haddad e com promessas de uma agenda liberal e reformista na economia, simbolizada pela indicação de Paulo Guedes para ministro da Economia. 

 Para além do otimismo macroeconômico, o mercado embutiu nos preços das ações melhores resultados das empresas, diz Ronaldo Patah, estrategista do banco UBS. "A Bolsa começar a entregar resultado com crescimento de lucros das empresas. Apesar da economia ter crescido pouco, as empresas tiveram resultados muito bons porque, depois de anos sem crescimento, elas enxugaram gastos e tiveram ganhos de produtividade", afirma. 

 O movimento de alta foi puxado, porém, pelos investidores locais, enquanto estrangeiros deixavam o país receosos da piora no cenário externo. Dados da B3 mostram que investidores estrangeiros sacaram mais de R$ 11 bilhões da Bolsa no acumulado do ano, fluxo evidente a partir de outubro. 

 Foi quando esses investidores começaram a projetar desaceleração mais brusca da economia global, turbinada pelo receio de uma piora na disputa comercial travada entre Estados Unidos e China. 

 O petróleo recuou mais de 40% desde então, e as Bolsas americanas rumaram ao terreno baixista -o bear market, jargão do mercado que indica queda de mais de 20% após um pico recente. "A Bolsa americana tem um movimento de alta de 10 anos, essa correção de 20% desde o pico de setembro também é uma consequência de valorização acumulada muito forte", afirma Patah. 

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 Ao cenário já conturbado somou-se um posicionamento do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) pouco empático com o mercado financeiro no final de dezembro. A decisão de elevar os juros na última reunião do ano era amplamente esperada pelos analistas, que queriam do Fed uma indicação de que poderia mudar a direção de altas em caso de piora no cenário externo. 

 Isso ocorreu após investidores já terem experimentado turbulências causadas pelo Fed ao longo do ano. O processo começou em maio, quando o banco central indicou uma aceleração do ritmo de alta de juros nos Estados Unidos. 

 Desde então, moedas emergentes passaram a se desvalorizar, ajudando a explicar a subida do dólar do patamar de R$ 3,30, no começo do ano, para os atuais R$ 3,90. A moeda fechou o ano a R$ 3,8770, valorização de 17%. 

 Quando juros sobem nos Estados Unidos, investidores tendem a resgatar recursos aplicados em países emergentes para investir em títulos da dívida americana, considerados mais seguros. 

 O efeito se disseminou entre países emergentes: de uma cesta de 24 moedas desses países, o dólar ganhou força sobre 22 e terminou o ano praticamente estável sobre outras duas. O real foi a quarta mais afetada, atrás de peso argentina, lira turca e rublo russo. 

 O Banco Central chegou a atuar no mercado para conter movimentos de alta mais bruscos, ações que foram mais expressivas em junho e agora no final do ano -que refletiu a saída de investidores da Bolsa e o tradicional movimento de envio de lucros de multinacionais para matrizes no exterior. 

 O BC se recusou, porém, a usar a alta de juros para evitar uma saída de recursos. A Selic caiu para 6,5% ao ano, no menor patamar histórico e em nível considerado capaz de estimular a economia, que cresce ainda de forma considerada muito tímida. 

 Mesmo para o próximo ano, em que o otimismo pauta o mercado, a expectativa é de que, se ocorrer, uma alta de juros ficará para o final de 2019, confirmando o mais duradouro ciclo de baixa da taxa básica de juros da economia. 

 A Selic baixa puniu investimentos em renda fixa no ano, assustando investidores até então acostumados com ganhos polpudos em aplicações de baixo risco. A inflação em patamares igualmente baixos -deve fechar o ano, a 3,70%, abaixo da meta de 4,5%- ajudou, porém, a garantir ganhos reais nas aplicações.  Diferentemente do exterior, o ano foi de ganhos distribuídos a todos os perfis de investidores.

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