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Será que ainda precisamos de sindicatos - que mentem lutar por nossos direitos - ou podemos negociar por nós mesmos? | Pixabay
Será que ainda precisamos de sindicatos - que mentem lutar por nossos direitos - ou podemos negociar por nós mesmos?| Foto: Pixabay

Anualmente, a secretaria de educação do meu distrito realiza um encontro, no começo do ano, com todos os funcionários. Entre as pompas do evento, 15 minutos são destinados à fala do chefe do sindicato local de professores. Ele não fala muito, faz um discurso vago e genérico. Diz que a associação trabalha com o conselho escolar e outros líderes na luta pelos professores e estudantes.  

Ele também passa algum tempo na sala dos professores distribuindo panfletos. Recentemente, uma nota em defesa dos sindicatos, que detalha as realizações das agremiações sindicais e os males das corporações, foi deixada em uma das mesas. A nota e o discurso são uma boa revisão de um curso cívico do ensino médio, mas eles têm uma falha gritante: se concentram totalmente no passado.  

Os contextos, no entanto, mudam. A necessidade de bases militares americanas na Alemanha, por exemplo, mudou desde a Guerra Fria. O mesmo vale para os sindicatos em geral, já que os EUA atingiram níveis históricos de prosperidade. Podemos apreciar as realizações do passado enquanto reconsideramos a utilidade dos sindicatos atualmente. Existem, é claro, defesas de sindicatos dentro de um contexto moderno. Dito isto, eles estão falhando ultimamente.  

Aqui estão sete razões pelas quais deveríamos apoiar a dissolução dos sindicatos de professores em 2019:  

1. Eles são grupos de defesa tanto quanto sindicatos  

Há dois anos, quando eu era professor do primeiro ano, entrei por engano em uma reunião destinada exclusivamente para sindicalistas, na biblioteca da escola. Antes de ser expulso e me negarem um bolinho com café, vi pilhas de panfletos ao lado dos aperitivos. No topo de um dos montes havia a imagem de Donald Trump carrancudo sobre um fundo vermelho escuro, parecendo um Lorde Sith – guerreiro do Lado Negro da Força; em outro, estava a imagem de Hillary Clinton sorridente.

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Enquanto há um estereótipo de que os professores são progressistas, uma pesquisa realizada pela organização de notícias independente Education Week revelou que 43% dos educadores se definem como moderados, e um número quase igual se identifica como conservador ou progressista. Em 2016, 50% dos professores votaram em Hillary Clinton enquanto 29% escolheram Donald Trump. Os professores são um grupo moderado e politicamente diversificado.  

Nos últimos 28 anos, os sindicatos de professores doaram 96% de seus fundos a candidatos democratas. Na agenda da última reunião anual da Associação Nacional de Educação (NEA), há tópicos que determinam os seguintes compromissos:  

  • Contestar às políticas “cruéis, racistas e discriminatórias de tolerância zero [imigração] da administração Trump” 
  • Apoiar o Black Lives Matter, movimento ativista contra a violência a pessoas negras 
  • Opor-se ao armamento de professores nas escolas 
  • Conseguir a remoção dos monumentos dos líderes confederados (da Guerra Civil Americana) nas escolas 
  • Divulgar publicamente uma lista de indivíduos que recusaram serviço a pessoas LGBTQ 
  • Apoiar o adiamento da votação para a confirmação de Brett Kavanaugh ao Supremo Tribunal dos EUA 
  • Lutar contra a privatização das prisões 
  • Opor-se às escolas charter (modelo de escola pública que adota a lógica da gestão privada) e programas de voucher escolar (espécie de “ProUni” para a educação básica) 
  • Desconstruir “a proliferação sistêmica de uma cultura de supremacia branca e seus elementos constitutivos de privilégio branco e racismo institucional” 

Independentemente de sua opinião sobre tudo isso, há uma clara disparidade entre as preocupações do maior sindicato de professores do país e educadores. Mais preocupante ainda é que muitos dos interesses dos sindicatos têm uma relação superficial com a educação - se houver. Enquanto eles falam em ‘defesa dos professores’, grande parte de sua energia é gasta defendendo iniciativas políticas não educacionais.  

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2. Eles investem mais dinheiro na política do que quase todo mundo  

Tanto republicanos quanto democratas reclamam de verbas na política, e ambos os lados têm seu ‘bicho-papão’. À direita, George Soros. À esquerda, os irmãos Koch. Além disso, de acordo com o instituto de pesquisa Center for Responsive Politics , em 2014 o NEA foi o segundo maior contribuinte para campanhas políticas do que qualquer outro indivíduo, corporação ou sindicato. Em 2016, a Federação Americana de Professores (AFT) e o NEA doaram US$ 64 milhões a campanhas políticas, enquanto os irmãos Koch e George Soros forneceram US$ 11 milhões e US$ 28 milhões, respectivamente.  

3. Seus ideais não estão gerando resultados significantes  

Os sindicatos lutam pelo aumento de fundos, com a intenção de aumentar o salário dos professores e comprar melhores materiais acadêmicos. Algumas pesquisas mostram que isso é benéfico. Outras, não. Uma análise da Universidade Johns Hopkins encontrou uma síntese entre os dois, argumentando que a definição do desempenho escolar e a maneira como o dinheiro é gasto determinam se o financiamento está diretamente associado à melhoria. Até que sejam implementadas reformas estruturais, qualquer aumento de financiamento será desperdício. 

Na primeira escola em que trabalhei, a biblioteca tinha milhares de livros, que valiam milhares de dólares, e eu era um dos únicos professores que os usava. Meu departamento tinha um armário cheio de brinquedos e aparelhos que ninguém usava também. Existem equipes curriculares e os funcionários coletivamente pagaram centenas de milhares de dólares para criar um currículo que seja seguido sem fidelidade ou totalmente ignorado. Existem equipes curriculares e funcionários que receberam centenas de milhares de dólares para criar um currículo que seja seguido de maneira desleixada, ou seja, totalmente ignorado.  

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Os gastos por aluno, o desempenho escolar e o salário dos professores fornecem dados para fundamentar essa afirmação. Na cotação do dólar atual, os gastos escolares aumentaram em cerca de US$ 3 mil por aluno desde o início dos anos 90. No entanto, a remuneração dos professores diminuiu ou permaneceu a mesma na maioria dos estados, enquanto o desempenho dos alunos nos testes permaneceu estagnado ou até mesmo regrediu em alguns estados. O dinheiro está aumentando, mas não está gerando resultados.  

De maneira geral, os sindicatos de professores promovem um plano de carreira que recompensa qualquer professor por anos lecionados – sejam os professores excepcionais, medíocres ou ruins –, incentivando a longevidade, não o desempenho. Eles também tornam quase impossível demitir professores, com um processo que pode levar até dois anos e custar US$ 200 mil, de acordo com o professor da Universidade de Stanford Terry Moe.  

Posicionamento social, aumento de fundos públicos para a aposentadoria e planos de carreira rígidos não são eficientes para enfrentar uma educação que está em apuros.  

4. Sindicatos bloqueiam uma reforma significativa  

Os sindicatos bloqueiam reformas que podem mudar estruturalmente um sistema quebrado e, em troca, prometem aumentar os fundos para a aposentadoria, que, por sua vez, serão esgotados pelo sistema quebrado. Sobretudo, eles se opõem à School Choice (termo usado nos Estados Unidos para se referir às alternativas ao sistema de educação no país, como o voucher escolar e o homeschooling), remuneração baseada em mérito, testes padronizados e o Praxis, um exame de admissão para professores nos Estados Unidos.  

O school choice, embora não seja a solução, é uma opção que tem um enorme potencial para melhorar a situação das escolas. Uma pesquisa mostra que a influência que esse tipo de modelo exerce nas escolas aumenta o desempenho dos alunos, promove economia de dinheiro e melhora a saúde mental dos alunos.  

A reforma educacional foi frustrada. Em toda a linha, republicanos conseguiram avanços significativos de escolas charter/ escolas públicas independentes para avaliações mais rigorosas de professores e remuneração baseada em mérito. Depois de uma ‘onda azul’ democrata, muitos temem que os avanços conquistados possam estar próximos do fim.  

5. Eles criam uma cultura de privilégio

Eu permito que meus alunos definam algumas regras de sala de aula para criar neles um sentimento de propriedade. Um dos alunos disse que não queria uma estrela ou um doce simplesmente por seguir instruções. É compreensível elogiar um aluno pelo mínimo, ele disse. Isso pressupõe que você só espera o mínimo. 

Vejo muitos professores ensinarem, e nem todos merecem, necessariamente, uma estrela. Eu ouvi professores dizerem a seus alunos para fazerem menos perguntas. Tenho visto professores comemorarem quando estudantes ficam grávidas. Eu ouvi professores falarem de estudantes usando a linguagem que se esperaria do vilão em um filme de Martin Scorsese. Enquanto isso, os professores difamam qualquer teste que mostre pontuações estagnadas ou alguém que questione sua eficácia.  

Os sindicatos dizem que nós, professores, merecemos nosso trabalho e melhores salários, independentemente do desenvolvimento de nossos alunos. Mas, na realidade, merecemos mais dinheiro e reconhecimento apenas se fizermos bem o nosso trabalho. Sugerir qualquer outra coisa é um desserviço à profissão.  

6. Eles negociam por benefícios medíocres  

Eu era novo professor e me sentei frente à diretora da escola para conversarmos sobre o 403 (b) – plano de aposentadoria dos educadores nos EUA. Perguntei se o distrito escolar pagaria minha contribuição. Ela disse que não, pois o distrito já contribuía com isso. Eu fiquei com uma cara de desgosto, e ela também.  

Chad Aldeman, ex-analista do Departamento de Educação dos EUA, explica bem o problema. Ele diz que “os estados estão pagando uma média de 12% do salário de cada professor apenas pelos custos da dívida. Se os estados não enfrentassem essas grandes dívidas, eles poderiam devolver o dinheiro aos professores em forma de salários mais altos – uma média de US$ 6.801 para cada professor de escola pública nos Estados Unidos.  

Sob o plano de aposentadoria conhecido como 401 (k), qualquer funcionário pode optar por ser econômico e investir mais, além de receber mais de seu empregador e, dessa forma, mais de seu plano de aposentadoria. Na educação, os professores recebem benefícios de aposentadoria com base em uma fórmula, sem a possibilidade de investir mais do que o valor predeterminado.  

Esses US$ 6,8 mil dólares poderiam ser usados de maneira muito melhor. Para aqueles de nós que optam por poupar, acabaríamos com um saldo de aposentadoria que superaria a maioria das de outros professores. Alguns podem argumentar que não têm um salário suficiente para economizar, mas, mesmo neste caso, esses professores deveriam poder manter o seu dinheiro e gastá-lo com custos médicos ou cuidados infantis que necessitem.  

7. Nós podemos negociar por nós mesmos  

Durante a Revolução Industrial, trabalhadores de fábricas eram dispensáveis. Eles não tinham habilidades especializadas ou educação com as quais pudessem negociar em um mercado farto de mão de obra. Diferentemente, os professores são uma força de trabalho altamente qualificada e instruída em um mercado onde eles são escassos.  

Um amigo meu, um dos melhores professores da nossa escola, foi falsamente acusado de bater em um aluno. Sob regras distritais rígidas, o diretor quis demiti-lo. O professor, então, entrou na sala de direção com resultados de testes, depoimentos de alunos, projetos demonstrando seu domínio sobre um dos alunos mais complicados da escola e registros em vídeo que provaram que ele era inocente. Nós podemos negociar por nós mesmos.  

Como regra, eu tento não me opor às coisas. Isso gera ressentimento em vez de mudar a mente e não lança uma visão para um caminho a seguir. Eu não sou contra sindicatos. Sou a favor dos professores. Para que possamos florescer financeiramente e profissionalmente, precisamos da liberdade para barganhar por nós mesmos, o respeito que vem com a responsabilidade e uma reforma significativa. Por fim, eu permaneço com os professores – não com os sindicatos.  

*Daniel Buck é educador em uma escola em Wisconsin. Tem mestrado em Currículo e Instrução pela Universidade de Wisconsin, em Madison, e também escreve para o Lone Conservative.

©2018 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês.

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