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Escola Internacional de Curitiba: reciclagem de lixo, uso de garrafas individuais e reaproveitamento da água são algumas das atividades desenvolvidas para trabalhar o conceito de sustentabilidade com as crianças | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
Escola Internacional de Curitiba: reciclagem de lixo, uso de garrafas individuais e reaproveitamento da água são algumas das atividades desenvolvidas para trabalhar o conceito de sustentabilidade com as crianças| Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo

Exemplos

Sustentabilidade como lição

Tanto na rede pública como na particular, a educação ambiental é uma área que começa a ganhar destaque especial desde a estruturação do projeto pedagógico da escola. Na Escola Internacional de Curitiba, por exemplo, optou-se por uma ação voltada ao fomento da sustentabilidade. Já na rede municipal em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, uma escola da periferia adotou uma horta para mostrar aos alunos a importância dos hábitos saudáveis.

Quando o assunto é educação ambiental até o espaço físico da escola é educador. Pensando nisso, a Escola Internacional adotou medidas de otimização da energia e dos bens. Os copos plásticos, por exemplo, foram praticamente banidos da escola, dando lugar às garrafas plásticas de uso permanente e individual pelos alunos. As salas de aula e os departamentos administrativos ganharam cestos de coleta seletiva. Há ainda um projeto de reaproveitamento da água da chuva que será implantado em breve.

A escola atende a alunos estrangeiros (51%) e brasileiros (49%) na educação básica. E todos falam a mesma língua quando o assunto é preservação ambiental. "Estamos propondo medidas sustentáveis", lembra a diretora do programa brasileiro da escola, Cláudia Lebiedziejewsk. Recentemente, foi feita uma eleição simulada na escola, com direito à urna eletrônica emprestada pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE), onde as duas "candidatas" eram a sacola plástica e a sacola reutilizável, que ganhou com maioria de votos.

Já os alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental da Escola Municipal Eurico Batista Rosas, no Núcleo Pitangui, em Ponta Grossa, aprenderam a comer alface e a dispensar os salgadinhos na hora do recreio. Tudo porque desde setembro do ano passado é desenvolvido o projeto da horta comunitária, onde as crianças têm aulas no pátio e complementam o aprendizado no refeitório, comendo o que plantaram. A horta é aproveitada em todas as disciplinas. "O formato da horta é em figuras geométricas, além disso, os outros professores trabalham o tema meio ambiente em suas aulas", acrescenta a diretora Andreza Mara Beber Boaron. Atualmente, a terra está sendo trabalhada para receber as mudas que irão crescer neste segundo semestre.

Quem tem filho pequeno conhece bem a força da escola quando o assunto é consciência ambiental. Basta que a professora desenvolva um trabalho com a turma sobre a importância da reciclagem para que os pais se vejam em apuros sempre que misturarem papel com detritos orgânicos, como exemplo. Mas a experiência mostra que os resultados podem variar dependendo da forma como o assunto é tratado em sala de aula – e isso pode oscilar bastante.

A elaboração de uma lei estadual sobre educação ambiental é o caminho apontado por especialistas para permitir a formatação deste modelo. "A educação ambiental precisa ser transformadora, crítica, provocar a formação da cidadania, mudar hábitos de consumo", resume Neusa Helena Rocha Barbosa, assessora técnica do Ministério da Educação (MEC).

Neusa foi uma das palestrantes do treinamento realizado neste mês, em Faxinal do Céu, município de Pinhão, região Central do estado, com educadores, movimentos sociais, organizações não governamentais e servidores estaduais que tinham como objetivo traçar um esboço da nova lei. A expectativa é que ainda neste ano ela esteja aprovada para ser aplicada nas escolas, e também fora delas, a partir de 2011.

Há seis meses, representantes da Secretaria Estadual de Educação e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos estão discutindo a formatação da lei através do Conselho Estadual de Meio Ambiente. A minuta do projeto contempla contratações de pessoal para a política estadual de educação ambiental e a definição do órgão gestor, que inclui outras secretarias e empresas públicas para gerir a educação ambiental no Paraná. Depois de aprovado internamente pelo Conselho, o esboço segue para o governo estadual e os deputados estaduais. Depois de sancionada, a lei valerá para as escolas públicas e particulares da educação básica.

Formato

A educação ambiental defendida por quem participou do treinamento não fica centrada numa única disciplina, nem restrita a datas comemorativas. "Não pode ser algo pontual, como no Dia da Água, mas ser repassada nas aulas de Português, durante uma construção de texto, ou nas aulas de Matemática, para calcular os créditos de carbono", exemplifica a coordenadora do programa de capacitação de gestores municipais e assessora técnica da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Débora de Albuquerque.

Temas como sustentabilidade e preservação do meio ambiente estão tão presentes na sociedade contemporânea que a educação ambiental não cabe apenas nos bancos escolares. Por isso a educação não formal, desenvolvida por associações e organizações não governamentais e também pelo poder público, também está prevista na formatação da lei estadual. Para o professor de educação e política ambiental da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Sorrentino, "é até maldoso" esperar que apenas crianças e adolescentes aprendam a cuidar do meio ambiente. "É o papel de todos nós e por isso a educação não formal também é importante", comenta.

Lei nacional

O Brasil é um dos poucos países a ter uma lei nacional de promoção da educação ambiental. A lei foi aprovada em 1999 e regulamentada em 2002. Em julho de 2003 foi criado o órgão gestor da lei nacional, que envolve representantes do MEC e do Ministério do Meio Ambiente. Com base na lei nacional, o Paraná está desenhando sua lei estadual. O estado de Mato Grosso já possui uma lei estadual e o de São Paulo está discutindo sua aprovação. O mexicano Enrique Leff, especialista em educação ambiental, que esteve no seminário, considera que o Brasil está bem avançado no tratamento da educação ambiental, assim como a Argentina e a Colômbia. "Acho muito importante essa participação democrática para definir a lei estadual", destacou Leff.

União e estado fazem várias ações na área

Uma pesquisa do Ministério da Educação (MEC), realizada em 2004, verificou que 94% das escolas brasileiras trabalhavam a educação ambiental com seus alunos. No entanto, uma análise mais aprofundada mostrou que a maioria das aulas ocorria em datas comemorativas.

A partir desse quadro, órgão gestor da política nacional de educação ambiental passou a intensificar suas ações. A assessora técnica do MEC Neusa Helena Rocha Barbosa conta que foram feitas videoconferências que atingiram 56 mil escolas. E o trabalho ainda está em constante aprimoramento.

Se nas escolas a promoção da educação ambiental é difícil, imagine fora dela. A gerente de projetos de educação ambiental no Ministério do Meio Ambiente, Renata Rozendo Maranhão, confirma as dificuldades. Para tentar avançar nessa área, ela conta que são feitos encontros em telecentros e em comunidades com vulnerabilidade ambiental, além de estar se iniciando um trabalho voltado aos agricultores familiares e dentro das unidades de conservação ambiental. "Buscamos atores sociais e investimos nas propostas de promoção de educação ambiental", completa.

Algumas ações estaduais também já despontam nesse contexto. O governo estadual executa a Agenda 21 Escolar, que elenca problemas ambientais com a comunidade escolar para buscar soluções; realiza encontros periódicos e congressos para discutir o meio am­­biente; desenvolve um programa de capacitação de gestores municipais para aprimorar o atendimento na área; desenvolve um programa de preservação e recuperação ambiental em 27 microbacias do estado, além de programas de reciclagem e coleta seletiva. Para a coordenadora pedagógica da educação ambiental na Secre­taria Estadual de Educação, a lei estadual vai reforçar as medidas já existentes. "Nós não teremos os mesmos recursos naturais que temos hoje, se continuarmos no nível de degradação existente. Por isso o nosso papel é fundamental", aponta.

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Interatividade

Qual deve ser o papel da escola na formação de cidadãos preocupados com o meio ambiente?

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