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Cansado de ser vítima de bullying na escola e na vizinhança, um menino de 9 anos, morador do estado de West Virginia, nos Estados Unidos, cometeu suicídio há poucos dias. Em Curitiba, um adolescente, aluno de um colégio tradicional da cidade, tirou a própria vida também vitimado pela violência dos colegas. Distantes por milhares de quilômetros, os dois casos têm uma triste realidade em comum: a persistência e o avanço dos casos de bullying no ambiente escolar.

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O que é bullying?

Para que seja caracterizada como bullying, e não como uma agressão ocasional, a ação praticada e sofrida pelos jovens deve responder a alguns critérios. Os primeiros deles referem-se à agressividade (física, verbal, social) e intencionalidade do ato, ou seja, o desejo de causar dor e constrangimento. A frequência da agressão, uma vez que o bullying é um ato repetitivo, e a desigualdade na relação de poder, manifestada pela diferença de força física ou social entre o agressor e a vítima, são outros pontos que caracterizam o bullying.

Dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNse) de 2015, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que 46,6% dos estudantes do nono ano do ensino fundamental no país disseram se sentir humilhados (em uma frequência que varia de sempre a raramente) por provocações realizadas pelos colegas. No levantamento de 2012, esse número era de 35,4%.

Sinais de alerta

As vítimas de bullying não costumam relatar os casos à família e aos professores, pois não acreditam que os adultos possam resolver o problema. Mesmo assim, todos os “personagens” envolvidos em situações de bullying demonstram sinais que podem auxiliar pais e educadores a identificá-lo. São eles:

  • Demonstrar medo ou falta de interesse em ir à escola.
  • Ter dificuldade ou se sentir constrangido em explicar cortes, arranhões e hematomas.
  • Apresentar sintomas como enxaqueca, dor de cabeça, insônia ou excesso de sono.
  • Ter queda no rendimento escolar.
  • Apresentar mudança de comportamento, como agressividade.
  • Ter roupas, livros e pertences danificados.
  • Demonstrar ansiedade ao falar sobre o tema.

Tal fato sinaliza que o avanço das discussões sobre a urgência em se encontrar meios para combater a prática pode não surtir efeito no dia a dia das escolas. “Ainda estamos muito [concentrados] na teoria, no discurso. Temos muitas pesquisas e sugestões de atividades publicadas, mas que não estão sendo colocadas em prática”, avalia a doutora em Educação Ivone Pingoello, professora do departamento de Teoria e Prática da Educação da Universidade Estadual de Maringá (UEM), pesquisadora e palestrante sobre violência escolar e bullying.

Outros pontos destacados por ela referem-se ao fato de muitos professores ainda desvalorizarem o sofrimento da criança e/ou pensarem que o bullying é uma “brincadeira” típica da idade, além de estarem sobrecarregados com as tarefas diárias, o que os impede de se informar e capacitar sobre o tema.

Consequências

Os prejuízos que a falta de programas de prevenção nas escolas e, consequentemente, a ocorrência dos casos de bullying podem causar para vítimas, agressores e espectadores são devastadoras, como lembra Benjamin Horta, filósofo, pedagogo, especialista em bullying escolar e diretor da Abrace Programas Preventivos. Entre eles estão a queda no rendimento escolar, insônia, depressão, síndrome do pânico, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) e tensão excessiva, a ponto de o estudante atentar contra a própria vida.

“A pior delas é a exclusão social. O aluno é excluído do grupo pelo agressor e as não vítimas não se aproximam dele por medo de se tornarem as próximas. Esse isolamento prolongado ocasiona a ‘morte’ social, que antecede a morte física”, diz Ivone.

O agressor, por sua vez, se priva da convivência prazerosa com os colegas, e de todos os benefícios que advém dela, pois precisa manter a “fama de mau”, como lembra Viviane Maito, da Coordenadoria de Atendimento às Necessidades Especiais da Secretaria Municipal de Educação e responsável pelo projeto “Bullying Não é Brincadeira”.

Tais consequências também têm seus reflexos estendidos para a vida adulta dos envolvidos nos casos de bullying. Horta conta que as vítimas das agressões podem desenvolver dificuldades profissionais ou de relacionamento, enquanto os agressores têm propensão a praticar violência doméstica, assédio moral e a abusar do uso de álcool e outras substâncias.

Tipos de bullying

O bullying pode se manifestar de diferentes formas no ambiente escolar. Por isso, além de saber identificar a prática, é importante que educadores, pais e alunos conheçam suas diversas “modalidades”.

Verbal

São agressões realizadas por meio de palavras, como xingamentos, insultos, fofocas e apelidos pejorativos.

Físico

Violências cometidas por meio do contato físico. Entre elas pode-se listar puxões de cabelo, chutes, socos, empurrões e impedimento de passagem, por exemplo.

Material

Formas de agressão que resultam em danos materiais à vítima, como destruir, furtar ou roubar pertences e rasgar roupas.

Relacional ou social

Este tipo de bullying tem por objetivo afetar a reputação social da vítima e pode, também, ter motivações étnicas, raciais ou de inclusão. Atitudes como excluir, isolar e denegrir a imagem da vítima estão entre as agressões.

Psicológico

Forma subjetiva de bullying, caracteriza-se por atos de humilhação, manipulação, chantagem, extorsão ou intimidação.

Sexual

O bullying sexual caracteriza-se por ações de assédio, abuso, indução ou realização de “brincadeiras” com conotação sexual.

Virtual ou Cyberbullying

É o bullying cometido por meio eletrônico. Entre as ações pode-se listar a depreciação da vítima, a criação de grupos a fim de prejudicá-la e a adulteração de fotos e dados que criem constrangimento.

Fonte: Bullying, Éticas e Direitos Humanos

Ações de conscientização contínuas são ferramentas para combater o bullying

Os especialistas são categóricos ao afirmar que ações pontuais, como palestras, não são suficientes para combater o bullying nas escolas. O caminho apontado por eles está na formação continuada dos professores (com leituras e estudos de caso) e na adoção de políticas de prevenção e conscientização que façam parte do cotidiano da escola.

“Os educadores [e a escola] têm que dar ferramentas e oportunidades para os alunos se comunicarem a respeito do tema”, pontua Benjamim Horta, diretor da Abrace Programas Preventivos.

Entre elas está o desenvolvimento de programas que incluam a temática em todas as disciplinas, como sugere a doutora em Educação Ivone Pingoello. Ela ilustra a questão com o caso de uma professora de matemática que utilizou uma pesquisa sobre bullying realizada pelos alunos para trabalhar o conteúdo de porcentagem.

Outro ponto destacado por Horta refere-se à importância de se enfatizar a mediação e a intervenção dos educadores e da família quando o ato de bullying for confirmado. Segundo ele, o direito da vítima e do agressor de serem ouvidos deve ser exercitado para que, a partir dele, a escola possa ensinar conceitos relacionados a direitos e deveres aos alunos. “O ambiente escolar em si é prejudicado pelo bullying. Onde ele prevalece o papel da educação está se tornando ineficaz”, completa.

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