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 | Ilustração: Felipe Lima
| Foto: Ilustração: Felipe Lima

Serviço

Telegramática

Telefone: 3218-2425

Horário de atendimento: das 8 às 12 horas e das 14 às 18 horas

Números*

Atendimentos – 65.394

Consulentes – 32.558

Consultas via Portal Aprender (www.aprendercuritiba.org.br) – 262

Locais de origem dos consulentes: Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Amazonas, Rio Grande do Sul, Roraima, Pernambuco, Rio de Janeiro e Piauí e Distrito Federal.

*Dados de 2009

Imagine ligar para um telefone e em questão de segundos tirar, gratuitamente, dúvidas sobre se aquela palavra se escreve com x ou ch, se há crase em "às duas da tarde", qual o significado de "barraqueira" ou até mesmo – um luxo, di­­riam muitos – ter à disposição al­­guém para corrigir um texto inteiro e ainda ganhar sugestões de como redigir um bilhete para o namorado ou uma carta para o chefe. Para os curitibanos que ainda não ligaram para o 3218-2425 em busca de ajuda na hora de escrever um texto, informa-se: o número é o do Telegramática, tira- dúvidas mantido pela Secretaria Municipal de Educação, que completa 25 anos em 2010. Mesmo com a popularização da in­­ternet e as dezenas de sites e di­­cio­­nários on-line, o serviço é bem pro­­curado: no ano passado, 32.558 pes­­soas tiraram 65.394 dúvidas com os sete sabidos em língua por­­tu­­­­guesa que falam sem parar ao te­­lefone. Os consulentes vão de alunos e jornalistas a médicos e do­­nas de casa. Um deles, o funcionário do cerimonial do Tribunal de Con­­tas do Paraná, Osni Fa­­nini Silva, liga para os consultores há 20 anos. "Desde que conheci o serviço, nunca mais abri mão de­­le. Ligo toda semana, pois aqui emi­­timos muitas correspondências e telegramas, e conhecer a língua é fundamental. E mesmo assim, ainda escorrego." Para Silva, a internet não substituirá o serviço. "Ele tem um diferencial: a cre­­dibilidade."

Os sete consultores, todos concur­­sados pela prefeitura de Curi­­­­­­tiba (admitidos mediante um concurso interno) e formados em Letras, já fizeram de tudo: desde tirar dúvidas simples até dar conselhos para quem acabara de ler um termo médico em um exame e, após a explicação, entrou em pânico. Confira algumas histórias:

Concentração

Para não perder o fio da meada, é preciso concentração, diz Beatriz de Castro Cruz, coordenadora do Telegramática e consultora há dez anos. "Quando o telefone toca, a gente abre uma caixinha no cérebro, e quando ele desliga, é preciso fechar a caixinha, só que isso não é imediato. Já aconteceu de eu atender o telefone com um ‘telenovela’ ou ‘telegarrafa’, após ter citado garrafa ou novela em uma conversa."

Onde tem capeletti?

Certa vez, a consultora Sirlei Cavalli, no Telegramática desde abril deste ano, atendeu a ligação de alguém que queria saber como se escrevia capeletti. "Eu pedi para a pessoa esperar e perguntei: ‘Onde eu acho capeletti?’. Eu me referia ao dicionário, mas a Beatriz respondeu: ‘No supermercado!’. Todo mundo caiu na risada."

Para amanhã?

O consultor José Francisco Coelho, o Chico, há 22 anos no Telegramática, conta que certa vez um aluno ligou para tirar dúvidas para uma prova. "Ele me pediu para explicar o que era sujeito, adjetivo, verbo, predicado, ou seja, o programa de um semestre inteiro. Eu perguntei para quando ele precisava saber de tudo aquilo e ele me disse: ‘Para amanhã’. Claro que não foi possível, mas ainda fiquei uma hora no telefone para explicar o básico."

Política x português

A consultora Ladanir Millack, a Lalá, no serviço desde 1990, lembra de uma senhora que adorava escrever cartas para políticos que admirava – entre eles, Fernando Henrique Cardoso e Paulo Maluf. Após a consulente citar o texto da carta e receber sugestões, a conversa sempre caía no terreno da política. "Aí eu acabava dando minha opinião, perguntava como ela conseguia gostar do Maluf e ela ficava brava."

Vergonha

O Telegramática não soluciona apenas questões de português. Os consultores também estão preparados para tirar dúvidas a respeito de termos técnicos – no local há dicionários de Medicina, Direito, Aministração, gírias e... sexo. "Houve uma vez em que uma consultora supertímida teve de explicar um termo em meio ao silêncio da sala. Ela ficou vermelha, mas continuou a explicação, em tom sério", diz Beatriz. Os trotes são raros. "Na maior parte das vezes a pessoa realmente não sabe o que aquilo significa e quando nós explicamos, ela quer desligar, por vergonha."

Conselhos

Por também tirarem dúvidas de termos médicos, os consultores já se depararam com situações delicadas. Em uma ocasião, uma pessoa ligou com a voz chorosa querendo saber o que era carcinoma. "Eu disse que era um tumor e a pessoa perguntou se era maligno. Eu disse que só estava escrito que era um tumor e que ela procurasse o médico. Vai que a pessoa está no décimo andar e comete uma loucura achando que tem câncer?", questiona Beatriz.

Liberais

Quem procura o serviço buscando uma única resposta para certas questões pode ouvir de vez em quando um "tanto faz" ou "depende". "Uma vez uma senhora me perguntou se sobrenome poderia ter plural. Eu disse que sim e ela reclamou que éramos muito liberais, que o serviço já não tinha credibilidade. Disse que Camões deveria estar se revirando no túmulo", conta Lalá.

Antes do dicionário

No local também funciona um índice remissivo onde os consultores anotam as palavras citadas pelos consulentes que ainda não estão no dicionário. Mais de 11 mil já passaram por ali, entre barraqueira – antes, donas de barraca, agora, a presidiária que lidera as colegas de cela – e termos usados por viciados em drogas, caubóis e homossexuais.

Após a palavra ser incorporada oficialmente à língua, o termo sai do índice. "Mas se a nossa definição é mais ampla, mais completa, ela permanece", diz Beatriz.

A responsável por organizar o índice e os mais de mil livros e dicionários é a professora de Matemática Nely Janasievicz, que precisa correr quando os consultores não lembram algum termo de cor. "Tenho de deixar tudo à mão para eles não perderem tempo."

Inspiração veio dos EUA

A Telegramática curitibana surgiu inspirada em uma similar americana, Grammar Phone, um serviço de tira-dúvidas em inglês nascido no estado de Arkansas, nos anos 70. Uma colega de trabalho do fundador do serviço local, o professor Luiz Gonzaga Paul, leu uma matéria sobre o assunto na revista Time e sugeriu que ele, então funcionário do Palácio Iguaçu, criasse um serviço brasileiro. Três anos depois, em fevereiro de 1985, o serviço foi ao ar, com a ajuda da Telepar, que cedeu quatro aparelhos – as linhas eram caríssimas na época, diz Paul –, e oito funcionários que trabalhavam em dois turnos.

A divulgação começou aos poucos – o professor tinha receio de não dar conta da demanda –, com volantes distribuídos pelos consultores nas esquinas da Rua Barão do Rio Branco com XV de Novembro. Paul ri ao se lembrar das dúvidas mais comuns: "As pessoas queriam saber de termos de sexo e o significado de palavrões." Havia também as chamadas ‘dúvidas extrapolantes’: questão de Matemática, História e dúvidas sobre termos impressos em bulas de remédio e exames de laboratório. "Como não tínhamos condições de esclarecer algumas dúvidas, fazíamos parcerias com outros profissionais e encaminhávamos os consulentes para eles", relata Paul.

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