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Imagem: Reprodução | Pixabay.
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O mal de Alzheimer atinge 1,2 milhão de brasileiros, de acordo com a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). No mundo, são cerca de 35 milhões de pacientes. A doença não tem cura. Mas uma pesquisa desenvolvida com a participação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) lança uma esperança para quem sofre com a doença.

Já se suspeitava que a prática de exercícios físicos ajudasse a prevenir o Alzheimer e atenuar os efeitos da doença. Faltava explicar como. Os pesquisadores brasileiros conseguiram demonstrar que o hormônio irisina era a chave para compreender essa relação.

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A pesquisa, publicada no começo do ano na conceituada revista Nature Medicine, demonstrou que a irisina é produzida não só pelos músculos, mas também pelo cérebro quando o paciente pratica exercícios físicos.

Os pesquisadores também comprovaram que a aplicação do hormônio tem resultados semelhantes aos da realização de atividades físicas.

Em testes feitos com camundongos, por exemplo, os animais que receberam uma aplicação de irisina demonstraram ter uma maior capacidade de memorização. Por outro lado, os animais que tiveram a irisina bloqueada não apresentaram os resultados positivos, mesmo depois de terem praticado atividade física.

Nos testes com as cobaias, o hormônio foi o responsável não só por prevenir a perda da memória, mas também por recuperar parte da memória que havia sido perdida.

“O fato é que os avanços das últimas décadas ainda não se traduziram em medicamentos eficazes para prevenir ou tratar a doença. O nosso trabalho abre a perspectiva de que a irisina ou algum medicamento dela derivado venha a ser usada para uma terapia futura no tratamento do Alzheimer”, explica o professor Sergio Ferreira, que participou da pesquisa.

O fato de a substância ser produzida naturalmente pelo corpo humano aumenta as chances de sucesso no desenvolvimento de medicamentos, já que os riscos de rejeição ou de efeitos colaterais são reduzidos.

Enquanto o medicamento não chega, uma conclusão da pesquisa pode ter consequências mais imediatas. “Uma possibilidade que surge do nosso estudo é o emprego da atividade física regular como uma forma de prevenção ou até mesmo de tratamento da doença de Alzheimer”, afirma Ferreira.

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O trabalho envolveu parcerias com outras entidades, como a Fundação Oswaldo Cruz e a Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Mas a UFRJ esteve à frente dos trabalhos.

Como é regra nas pesquisas científicas, especialmente na medicina, os avanços são graduais porque dependem de testes abrangentes, replicáveis em diferentes ambientes e condições. Por isso, apesar do otimismo sobre as descobertas até aqui, os estudos sobre a irisina precisam prosseguir antes que os cientistas possam tirar conclusões mais seguras.

Mas nem mesmo a realização de um trabalho de impacto, em uma área de extrema complexidade e relevância como a neurociência, assegurou a permanência do financiamento do trabalho exercido na UFRJ.

De início, a pesquisa chegou a ser financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do Instituto Nacional de Neurociência Translacional, ambos ligados ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Também houve apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj). Hoje, com a crise orçamentária que afeta os cofres federais e estaduais, o que restou foi apenas o pagamento de bolsistas pela Capes, entidade do Ministério da Educação (MEC). É muito menos o que o necessário.

“Não adianta ter bolsa e não ter dinheiro para o custeio das atividades de pesquisa, como a compra de reagentes”, lamenta Ferreira.

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