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Educação dominada pela esquerda: onde alunos conservadores devem procurar ajuda?
| Foto: Reprodução / Unsplash

Não é segredo que os campi universitários se tornaram um bastião do ativismo e do pensamento progressista. Com tantas universidades se esforçando para empurrar a agenda de esquerda sobre os jovens, o trabalho do Intercollegiate Studies Institute (ISI) é desafiador.

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Em entrevista, Charlie Copeland, presidente e CEO da ISI, conta como sua organização está trabalhando em campi universitários dos Estados Unidos para oferecer aos alunos uma formação educacional baseada no pensamento conservador. Copeland fala sobre a situação atual do ensino superior e quais tendências ele tem notado nos campi universitários.

Como vocês desenvolvem seu trabalho nos maiores centros de pensamento progressista dos EUA?

Estamos em atividade desde 1953, portanto temos uma boa experiência. Sempre começamos com os nossos colegas professores. Contamos com uma rede de professores conservadores e libertários em universidades de todo o país. Sim, curiosamente, eles existem. Estão em desvantagem numérica, mas existem.

Desde o início dos anos 60 oferecemos bolsas de pós-graduação. Cerca de 600 professores universitários dos EUA são mestres ou doutores formados pela ISI.

Além disso, existem outros quase 2.400 professores que trabalham nas universidades com os quais temos alguma forma de contato, e nos comunicamos regularmente com eles para discutir conteúdo, currículo e outras informações sobre ideias conservadoras e o espaço educacional em círculos conservadores. Em troca, esses professores nos dão acesso a alguns dos seus alunos.

Estamos realmente à procura de estudantes universitários conservadores e libertários que sejam intelectualmente dedicados e curiosos, e que realmente entendam que existe algo além daquilo que é pregado por 90% do corpo docente, e esses estudantes procuram e encontram isso por meio de nossos professores associados.

Também temos em nossa equipe diretores regionais, geralmente recém-formados, que visitam os campi universitários para se reunir com os alunos e ajudá-los a desenvolver sociedades ISI. Eles auxiliam esses alunos a se organizar e a sediar palestras e debates.

Também trabalhamos com alunos para criar programas de jornalismo estudantil e jornais estudantis.

Em quase 60 universidades norte-americanas já existem jornais investigativos, focados em ideias conservadoras, por assim dizer, que escrevem notícias sobre o campus. É um movimento robusto, e está por toda a parte.

Como eu disse, temos professores e diretores regionais que ajudam a identificar os alunos. Também acontece de outros alunos nos procurarem, dizendo: “Tenho um colega (ou uma colega) e acho que ele adoraria fazer parte do ISI”, então nós entramos em contato com essa pessoa. Por último, fazemos muita divulgação nas redes sociais.

Qualquer pessoa pode acessar join.isi.org para se registrar e obter um kit de iniciação intelectual, que inclui um livro de Russell Kirk e alguns outros materiais, bem como Modern Age, que é nossa revista intelectual, além de atualizações regulares sobre o pensamento conservador, tanto em economia quanto em política e filosofia.

Depois de uma carreira na política e nos negócios, você é presidente do ISI desde 2016. Você pode falar sobre a fundação do ISI e por que seus antecessores viam a necessidade de uma organização que promovesse o pensamento crítico entre os estudantes universitários?

O Instituto existe há muito tempo. Ele foi fundado em 1953, e o primeiro presidente foi William F. Buckley Jr, ou seja, é uma grande responsabilidade manter o alto nível ao longo desses muitos anos.

Buckley fundou o ISI, ou se tornou o primeiro presidente, após escrever Deus e o homem em Yale: As superstições de liberdade acadêmica, no qual apontou – só lembrando, isso foi 1953 – que a cultura universitária estava sendo cada vez mais dominada por um corpo docente progressista, secular e esquerdista. Então ele começou esse trabalho, que continuamos desenvolvendo desde então.

Hoje, como mencionei, temos quase 3.000 professores associados com quem trabalhamos, temos 100 sociedades espalhadas por campi universitários e organizamos quase 200 palestras e debates todos os anos.

O que buscamos, novamente, é o aluno brilhante e intelectualmente curioso, conservador ou libertário, que continuará esse trabalho quando se formar e será um líder em algum lugar. Ele será líder na sua comunidade, no seu estado, no país, e talvez seja um líder nos negócios, até na política, ou mesmo na área jurídica.

Todos os fundadores da The Federalist Society, que fizeram um ótimo trabalho identificando e promovendo o trabalho de juízes conservadores, eram ex-alunos do ISI. Dois membros da Suprema Corte, Sam Alito e Neil Gorsuch, participaram dos programas do ISI quando eram universitários. Eu poderia continuar citando o número de pessoas que todos nós conhecemos, que já passaram pelos programas do ISI.

Queremos identificar esses estudantes porque acreditamos firmemente que uma pessoa com coragem e intelecto faz a diferença. Sabemos que são corajosas e brilhantes, e queremos ter certeza de que essas pessoas entendem de onde vêm a origem desse pensamento, desses princípios fundamentais, e por que eles ainda são oportunos na cultura atual, na sociedade atual, no mundo atual – na verdade, hoje mais do que nunca; e por que continuarão a fazer os americanos – e, francamente, o resto do mundo – prosperar e crescer.

Quando você fala com os alunos ou, em certos casos, com alguns professores, de quais problemas você toma conhecimento?

Há um punhado de questões e, como você deve imaginar, elas giram em torno de tópicos como liberdade de expressão, diversidade intelectual e o sentimento de que você deve ser capaz de defender e debater as ideias que acredita estarem corretas. Talvez descubra que não, elas não estão corretas, mas têm medo de até mesmo levantar essas questões.

Não é apenas um receio de parecer que “só eu penso assim”, mas, em muitos casos, chega-se a temer pela própria segurança. No ano passado identificamos o que acreditamos ser as cinco atividades mais coercitivas de supressão da liberdade de expressão, e que tais atividades partiam não só de colegas, de forma menos frequente, mas de professores ou dos próprios coordenadores e reitores.

Acho que essa é uma tendência hoje, que veio crescendo nos últimos 20 anos, em comparação com o que era visto anteriormente nas universidades: a reitoria e o próprio corpo docente promovendo dogmas e uma percepção de que, se você não repetir, como papagaio, tudo o que dissermos, isso vai se refletir nas suas notas, nos cursos que você pode fazer e até na moradia estudantil e outros benefícios para alunos, porque a reitoria e o corpo docente têm poder considerável sobre os alunos.

É uma estrutura de poder, e os nossos alunos estão do lado mais fraco. Então a gente acaba tendo que enfrentar grupos como os Antifas, e outros que agridem os alunos fisicamente, mas na verdade são as próprias universidades que criaram as burocracias que estão tentando acabar com o pensamento conservador, libertário ou simplesmente livre.

Um dos principais temas em debate entre os jovens nos Estados Unidos é o controle de armas. Quando você fala com os alunos sobre esta questão, quais são as preocupações deles?

O aluno comum, com o qual trabalhamos, não está muito preocupado com o controle de armas, embora acredite na Segunda Emenda [da Constituição Americana] e no direito de portar armas. Obviamente, tanto quanto nós, eles são bastante afetados por esses casos de tiroteios em massa, que ganham tamanha repercussão.

Novamente, nossos alunos são muito inteligentes e perspicazes, e eles sabem que isso não é mera questão de politicagem. Sempre que alguém diz: “Bem, eu sou apenas a favor de uma reforma na lei de armas de bom senso”, o que isso significa? Quando alguém começa dizendo: “Ora, devemos fazer isso ou aquilo”, de repente todo aquele bom senso desaparece e nossos alunos reconhecem isso.

Mesmo durante as férias, alguns alunos escreveram em nossos editoriais, que são baseados em pesquisa, e levantaram questões sobre os tiroteios, por exemplo, “isso é uma problema de saúde mental ou da nossa cultura?” Deveríamos ter leis vermelhas? Não deveríamos? Qual é o impacto desses tiroteios versus o impacto do tiroteio acontecer num campus universitário?

Todos os anos, em todas as universidades, acontecem atos de violência que não têm a cobertura que um único ato grotesco tem, como os tiroteios de Dayton ou El Paso.

E tanto em Dayton quanto em El Paso, como todos sabemos, os tiros foram disparados por indivíduos que tinham visões de mundo muito diferentes, embora ambos acreditassem na agenda verde. Mas não foi isso que os motivou. Foi uma espécie de raiva, até onde posso constatar, da cultura americana.

Acho que os nossos alunos entendem isso muito bem, até certo ponto, porque estão em uma área de cultura universitária que não é a “cultura preferida” do corpo docente e da reitoria. Eles percebem essa perversidade, e como as mídias sociais criam uma mentalidade de efeito manada.

Eu acho que eles estão muito atentos e chateados, mas não acreditam que vamos resolver isso estalando os dedos e dizendo: “Bem, se tivéssemos leis de alerta e identificássemos pessoas com problemas de saúde mental”, porque muita violência decorrente de armas não é cometida por pessoas com problemas de saúde mental, mas por pessoas que estão desconectadas da sociedade. Nossos alunos conseguem fazer essa associação de forma tão direta quanto qualquer um porque estão em desvantagem numérica no campus.

Que conselho você daria aos pais que podem estar pensando em procurar o ISI – ou você pessoalmente – para obter orientações sobre o que ouvem dizer que acontece nos campi, e como os valores refletidos por essas universidades contrastam de forma tão gritante com os da sua própria família? O que você poderia a dizer a eles?

Em primeiro lugar, eu recomendaria que seu filho ou filha acessasse join.isi.org e se filiasse a uma comunidade intelectual de âmbito nacional, composta por jovens brilhantes, e também por nossos professores associados em todo o país.

Também envolvida nessa comunidade é a nossa base de ex-alunos, que remonta há décadas. Temos ex-alunos em quase todas as comunidades do país. Mas o primeiro passo seria mesmo acessar join.isi.org.

A próxima coisa que eu faria é nos procurar no próprio campus. Nosso corpo docente associado está presente em 37% das universidades, e a maioria delas são faculdades de alto nível, as grandes faculdades estaduais, mas também algumas das pequenas faculdades de artes e humanidades.

Então, existem membros conservadores no corpo docente, e o aluno pode nos procurar e obter o nome de tais professores e falar com eles. Além disso, uma das perguntas que eu faria a esse professor é: “Quem são os outros membros do corpo docente dessa faculdade, que podem não ser conservadores, mas que valorizam a diversidade de pontos de vista e são bons professores?” Porque há bons professores à esquerda que reconhecem que nenhuma ideologia ou conjunto de crenças tem todas as respostas para todos os problemas enfrentados pela sociedade. Se tivessem as respostas, já teríamos resolvido esses problemas.

Então, quem são os bons professores que desafiarão o aluno e o farão pensar, mesmo que esses professores venham da esquerda? Porque é importante ouvir e debater esse tipo de ponto de vista. Por último, identifique outros alunos que não são radicais, dogmáticos ou inclinados à esquerda (que não estão lá para aprender, mas para ameaçar e persuadir).

Você pode se sair bem em quase todas as universidades do país, mas se for conservador ou libertário, e quiser investigar e se aprofundar nessas formações intelectuais, terá de estudar mais, terá de estar muito focado e evitar os cursos inúteis que fazem parte da maioria dos currículos universitários hoje em dia.

Outra coisa: é preciso ter senso de humor. É muito comum ficar indignado com algumas das coisas infantis que outros alunos, professores e, por incrível que pareça, até coordenadores e reitores, podem fazer. Se você se deixar se afetar, jogará o jogo deles.

Roger Scruton vai discursar no nosso jantar anual. Ele gravou uma mensagem de vídeo para nós. Ele está doente, mas falará sobre a beleza no mundo e de como encontrá-la. Acho que isso é algo que os conservadores fazem muito melhor do que os liberais – olhar e identificar a verdadeira beleza, não apenas essa moda passageira. Acho que se você for um bom soldado e identificar quem são os professores certos e os alunos certos, você será bem-sucedido.

Você mencionou as mídias sociais e falou sobre como o ISI está se adaptando à forma como os alunos obtêm informações hoje em dia. De que maneiras os conservadores podem se comunicar com mais eficácia?

Acho que todo mundo está no Twitter, e o Twitter é uma fábrica de revoltas. Ele foi concebido para ser assim. Não se pode travar um debate intelectual profundo com 280 caracteres, ou menos. É divertido participar desse tipo de coisa, mas se você quiser realmente aprofundar a conversa, as mídias sociais não são o lugar para isso.

Se você analisar algumas das pessoas que fundaram as empresas de mídia social, elas claramente não são muito boas em relacionamentos interpessoais, e provavelmente foi por isso que criaram programas de computador para lidar com seus relacionamentos interpessoais.

Se quiser mesmo ter uma conversa de verdade, terá de fazer isso pessoalmente. Terá de ir a uma eleição. Terá de ir a um debate. Terá de participar de um grupo de discussão ou um grupo de leitura.

Eu usaria as mídias sociais para tentar criar esses eventos e essas oportunidades para conversar com uma, duas, cinco, vinte outras pessoas, e falar sobre ideias profundas e de como aplicá-las à comunidade e à cultura dos dias de hoje.

Você também está tendo sucesso no ISI com jornalismo conservador, através de publicações universitárias que ensinam às pessoas os princípios e as práticas que enriquecem essas discussões e conversas. Fale mais sobre esse programa de jornalismo e que tipo de trabalho os alunos estão desenvolvendo com apoio do ISI.

O programa de jornalismo estudantil existe há mais de 20 anos, e hoje temos 57 ou 58 publicações. São jornais investigativos. Se um estudante quiser começar um desses jornais, ele pode acessar o nosso site, onde há uma área para isso.

Temos um funcionário que dirigiu um jornal estudantil quando estava na faculdade, alguns anos atrás, e se trata de um jovem muito inteligente, e coisas incríveis estão acontecendo por lá. Vamos oferecer algumas aulas durante o ano para ajudar os interessados a começar, e também algumas conferências, para as quais convidamos estudantes jornalistas para que eles possam saber “Como faço isso? Como tocar, um ‘jornal’ estudantil?”

Eu digo ‘jornal’ entre aspas porque apenas alguns ainda imprimem os jornais. Hoje a maioria dos jornais é publicada na web. Uma coisa é colocar conteúdo na web. Outra coisa é: “Como ir atrás das notícias? E que tipo de notícia devo buscar?”

Ajudamos a divulgar essas notícias noutros meios de comunicação, para que, em alguns casos, elas possam ser captadas pela mídia nacional e até mesmo colocar em pauta um problema específico que possa ter ocorrido em um campus – seja sobre liberdade de expressão ou diversidade de pontos de vista, ou até mesmo o comportamento inadequado de um membro do corpo docente, ou qualquer outra coisa. Queremos realmente encorajar e promover essas publicações.

Todos os anos oferecemos aos nossos estudantes jornalistas dez vagas de estágio de verão nos principais meios de comunicação – Raleigh News & Observer, National Review –, e quando o aluno se forma, oferecemos dez estágios remunerados de um ano em agências de notícias nacionais ou regionais, como o USA Today e até mesmo o The Wall Street Journal. Estamos muito conscientes do nosso papel de tentar colocar esses jovens brilhantes, que são muito talentosos, nesses jornais – porque eles fazem um ótimo trabalho. No último ano, 70% dos nossos associados que queriam permanecer no jornalismo conseguiram empregos na área, e alguns dos nossos ex-alunos são: Marc Thiessen, colunista do The Washington Post; Jonathan Karl, da ABC News; Laura Ingraham, da Fox; e Katrina Trinko, do The Daily Signal.

Leia também: Por que os jovens ignoram os dados e a história e insistem em ser de esquerda

© 2019 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.

Tradução: Ana Peregrino

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