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 | Marcos Filho Sandes/Ascom.
| Foto: Marcos Filho Sandes/Ascom.

Aos 60 anos de idade, Manoel Castro dos Reis voltou à sala de aula mesmo após passar quase cinco décadas sem frequentar a escola; aos 13 anos, Manoel precisou abandonar os estudos para ajudar os pais e, quando tentou retornar, um problema de saúde o impediu.

Mas nada disso fez com que ele desistisse. Há pouco mais de um ano, ele fez o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) e em seguida o ENEM. A nota para ingressar no curso de História na Universidade Federal do Tocantins (UFT) foi alcançada com sobras e agora ele corre em busca de outro sonho: se tornar professor e lecionar na escola onde trabalha como vigia, a Escola Municipal Tereza Hilário Ribeiro em Araguaína, no Tocantins. 

Hábitos 

Manoel conta que, mesmo longe das salas de aula, sempre teve apreço pela leitura, conservado pelo hábito de assinar jornais e revistas. Aliás, o fato de se manter sempre bem informado pesou na opção por cursar História. 

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“Acredito que nasci com o dom de escrever. Escrevo crônicas, causos, algumas poesias não rimadas. Sempre procurei me manter atualizado, mesmo na época em que não podia frequentar a escola. E história sempre foi algo que me fascinou”, afirma. 

Vivi inúmeros momentos marcantes da história brasileira... a guerrilha do Araguaia, presenciei como adolescente e vi pessoalmente todos os guerrilheiros, que eram considerados subversivos pelo regime militar, quando morei na região sul do Pará. Vivi também a queda do Collor e muitos outros acontecimentos que me marcaram.

Em busca do sonho 

Em seu primeiro dia de aula, pediu a palavra a um professor e se dirigiu aos colegas, pedindo paciência, já que estava há quase 50 anos sem pisar em uma sala e por isso precisaria de tempo para pegar o ritmo dos mais novos. Foi aplaudido pela classe. 

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Outro fator que auxilia Manoel é a presença de seu filho, com quem sempre esbarra nos corredores da faculdade – Ítalo Silva Castro, de 17 anos, está no segundo semestre de Química. “Ele fez o ENEM junto comigo e ambos conseguimos ingressar na UFT”, conta, sem esconder o orgulho. 

Com a formação universitária, pretende continuar na escola onde trabalha, mas em outra função. 

Meu desejo é ser professor. Quero, daqui a quatro anos, lecionar, levar conhecimento para as crianças e adolescentes, passá-lo para frente, não ficar só comigo. A intenção é contribuir com o próximo. E será muito bom pra mim se conseguir ser professor onde hoje trabalho como vigilante. 

Manoel também acredita que seu exemplo pode ser encarado como incentivo para aqueles que querem estudar. E, claro, a idade não deve ser encarada como um obstáculo. 

“Isto é um recado para jovens, pessoas de 30 ou 35 anos, que já se acham velhos, dizendo que não tem mais idade de estudar, que já passou do tempo. Eu estou aqui com todo o pique. Quero participar, quero ministrar aula, aprender algo novo a cada dia. Curso superior é um sonho e, se eu estou aqui, você também pode”, conclui. 

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