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Pra onde o vovô foi?

A morte está entre os temas mais delicados para ser tratado tanto pela família quanto pela escola. Pensando nessa dificuldade, a escritora Regina Chamlian traz uma solução literária. Neste ano, ela lançou, em parceria com a ilustradora Helena Alexandrino, Vovô virou árvore (Edições SM, R$ 21,50). Trata-se de uma fábula na qual a tartaruga Albertina precisar lidar com a morte do avô, que era muito próximo a ela. O livro é indicado para crianças a partir de 6 anos. Conversamos com a escritora sobre o seu trabalho mais recente. Ela fala sobre a importância da literatura na introdução do tema da morte e aconselha como se deve estabelecer esse diálogo com as crianças.

De que forma o livro pode ajudar as crianças a lidar com a morte?

A criança pode se espelhar na personagem Albertina, a tartaruga mais jovem da família, que, diante da morte do avô, de quem ela gosta muito, sente tristeza pela perda, o que é "humano", mas consegue elaborar essa perda através do sentimento e da reflexão. Ela consegue encontrar um sentido para isso, por meio da percepção de pertencimento a um grande ciclo cósmico da natureza, de que fazem parte tanto a morte quanto a vida, tanto a tristeza quanto a alegria.

Por que a escolha da fábula para falar em morte e superação?

A fábula permite à criança se identificar com os animais que vivem os dramas e conflitos, mas, ao mesmo tempo, permite distanciamento. A conjugação das duas coisas é muito saudável para as crianças, elas podem, desse modo, sentir e pensar problemas e assim superá-los.

Qual é o melhor momento para introduzir as crianças ao tema e como fazê-lo?

Deve-se falar do assunto quando a criança demonstra interesse por ele, quando ela faz perguntas, ou quando o tema se impõe pela vivência, com a morte de alguém na comunidade em que ela vive, ou a perda de um animalzinho. A curiosidade costuma se manifestar a partir dos 6 anos, mas nada impede que, com delicadeza, se fale do assunto para crianças mais jovens também.

Quais são os cuidados no tratamento do tema da morte?

Ao se falar de morte para as crianças não se deve mentir, a morte é inevitável e irreversível, e isso não deve ser falseado sob o pretexto de não traumatizar a criança. Mas pode-se, e deve-se, tratar a morte como uma transformação, como algo que faz parte do ciclo da vida. Para que a morte não seja uma ruptura absoluta, e daí traumática, se deve manter vivo na memória dos que ficaram o que era bonito, o que é digno de recordar naquele que partiu. Assim a vida pode continuar sem perda de sentido, e é possível transformar a tristeza em alegria.

Por que você escolheu escrever sobre morte e superação, que são temas mais pesados?

As crianças precisam lidar com esse assunto, estão expostas a ele a todo momento, seja através da morte de pessoas queridas, ou a de seus animais de estimação, ou mesmo através das notícias da mídia de modo geral, que noticia a morte de pessoas famosas, ou traz imagens de guerra, ou de tragédias... A morte é um assunto cotidiano. E acho que a literatura infantil é uma forma ideal de tratar este assunto tão importante, já que ela lida com símbolos, sejam eles verbais ou visuais, que conseguem transmitir o tema à criança de modo mais delicado, compreensível e significativo para ela.

Você consultou algum especialista antes de escrever o livro?

Sim, conversando com psiquiatras junguianos amigos meus, com quem sempre troco ideias sobre a psique infantil e seus dilemas, com professores nas escolas, que me falam de seus problemas em sala de aula, e também consultando a literatura especializada no tema. Outras duas fontes inestimáveis foram a tradição artístico-literária e as próprias crianças.

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