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Peça teatral escrita pelos alunos da escola estadual jornalista David Nasser combate o bullying | Arquivo Pessoal/Victor Morais Filho
Peça teatral escrita pelos alunos da escola estadual jornalista David Nasser combate o bullying| Foto: Arquivo Pessoal/Victor Morais Filho

Giovana tinha os cabelos diferentes e se vestia de forma pouco convencional. No ensino médio, precisou mudar de colégio e, ao chegar na nova escola, virou motivo de piada dos novos colegas. Este é o enredo da peça teatral escrita pelos alunos da escola estadual jornalista David Nasser para combater o bullying. 

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“O teatro tem a função de fazer com que alunos pensem: quem comete esses atos se coloca no lugar do outro e quem sofre fica sabendo que não está sozinho”, diz o professor Victor Morais Filho, de 46 anos. 

A encenação já foi montada mais de 150 vezes em igrejas e outras escolas da região do Capão Redondo, bairro da capital paulista, como forma de conscientização contra a prática do bullying. 

Origens

A ideia nasceu há quatro anos quando o professor de matemática decidiu integrar o Sistema de Proteção Escolar da Secretaria do Estado da Educação de São Paulo. Entre as funções do novo cargo, estava a mediação de conflitos no ambiente escolar e orientação de alunos e comunidade – além de sugestões de novas atividades pedagógicas complementares. 

“Não temos como erradicar o bullying, mas podemos amenizá-lo. Além disso, desenvolvemos uma importante ferramenta: o diálogo. Claro que, se percebemos que precisamos resgatar alguém, pedimos ajuda a um psicólogo ou um especialista, porém muitas vezes crianças e adolescentes não tem com quem conversar”, explica.  

A grande sacada do projeto foi misturar em uma mesma equipe quem praticava o bullying e quem sofria. “Cometia muito bullying, zoava mesmo. Mas com as conversas vi que era muito prejudicado”, diz Washington Wendel, de 20 anos. 

“Com as conversas e o diálogo, percebi que também me machucava e, no fim, não ganhava nada”, completa o jovem. Hoje ele é braço-direito do professor Victor. E também ajudou a escrever a peça.  

Além dele, outra integrante fundamental é a atriz e ex-aluna Giovana Oliveira Silva, de 19 anos. “Para mim é muito fácil interpretar o papel da Giovana [personagem homônimo] porque já passei por isso. Quando cheguei achei que tinha que aturar as piadas e as brincadeiras e agora vejo que não precisava passar por isso”, relembra a ex-aluna. “O bullying pode rapidamente passar para a violência física”, completa.

Primeiros passos

“Comecei com uma roda de conversa mesmo, bem informal, para me integrar na rotina deles. Muito do que acontece não chega nos adultos”, relembra o professor. 

As secretarias estaduais de educação controlam casos de bullying pelo ROE (Registro de Ocorrências Escolares), espécie de boletim de ocorrência escolar. No entanto, é muito complicado medir se os casos crescem ou diminuem porque ocorrências são notificadas apenas quando um aluno que sofre humilhações constantes pede ajuda para a direção – o que nem sempre acontece.

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“O interessante de mostrar algo tão denso para alunos maiores é que causa um impacto, eles têm noção da magnitude que uma simples ‘zoeira’ pode se tornar. Já com os pequenos, claro, utilizamos uma abordagem mais light”, explica o professor Victor.  

Por isso, o mesmo grupo produziu uma peça para alunos de 7 a 10 anos sobre o bullying, abordada de forma lúdica através de uma fada: o ato conta a história da aluna Cleidovânia, que além de ter um nome incomum também é mais velha que os companheiros de sala – a personagem tem 12 anos. Mais de 40 escolas já estão na fila para receber a apresentação.

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