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Pais brancos de cinco crianças negras, Deanna e Aaron Cook estavam acostumados a ensinar sua família a resistir ao preconceito. Eles recebiam olhares estranhos na mercearia em Malden, Massachusetts, e ignoravam comentários maldosos nas idas ao supermercado.

Mas nada preparou-os para a batalha sobre o cabelo de suas filhas que travam há um mês com a Mystic Valley Regional Charter School.

Em 14 de abril, as gêmeas Deanna e Mya Cook, 15, disseram a seus pais que queriam ter seus cabelos trançados profissionalmente. As meninas sempre tinham trançado ou alisado os cabelos em casa, mas queriam experimentar algo novo.

Logo depois, foram para a escola com cabelos longos e trançados.

Proibição no uniforme

No dia seguinte, as meninas foram chamadas à diretoria por “desrespeitarem o uniforme escolar.”

As extensões de cabelo são proibidas no manual do aluno da escola charter pública, assim como esmaltes, maquiagem e cabelos tingidos, tidos como desviadores de atenção. Um administrador da escola disse a Deanna e Mya que suas tranças novas – que combinam cabelo artificial e natural – violavam a regra.

As meninas foram instruídas a remover as tranças, mas recusaram. Para elas, a regra era discriminatória contra estudantes afrodescendentes e aplicada de forma desigual.

Como as punições da escola aumentaram, Aaron Cook disse que ele e sua esposa decidiram procurar orientação da NAACP, da Liga Anti-difamação e da União Americana das Liberdades Civis. Deanna, corredora que se classificou para as finais estaduais, foi expulsa da equipe da escola. Mya foi removida da equipe de softball e informada de que não poderia participar do baile.

Apoio

A semana passada terminou com as meninas no noticiário local e manifestações de apoio à família emitidas pela associação estadual de escolas charter e pelo Comitê de Advogados de Direitos Civis e Justiça Econômica.

“Negar às jovens negras a oportunidade de expressar sua identidade cultural não tornará a escola mais segura, mais ordeira ou menos ‘desatenta’”, disse o comitê em um comunicado. “Fazer isso com alunos do ensino médio, em um momento em que aprendem sobre como se expressar e defender, é particularmente preocupante.”

Em resposta, o diretor interino da escola, Alexander Dan, enviou uma carta a todos os pais da Mystic Valley defendendo a política. Ele sustenta que a instituição “promove a equidade” com regras de vestimenta que reduzem “lacunas visíveis entre aqueles de diferentes classes”.

Escola alega razões sociais

“A proibição específica para extensões de cabelo, que são caras e poderiam servir como um fator diferenciador entre estudantes de diferentes contextos socioeconômicos, é consistente com o nosso desejo de criar um ambiente educacional que celebra tudo o que nossos alunos têm em comum e minimiza aspectos e distrações materiais”, escreveu Dan. “Sugerir que a regra se baseia em outras razões é um equívoco.”

Cook recusou-se a divulgar quanto a família pagou pela trança, mas disse que o cabelo artificial custou US$ 5. De acordo com uma análise do jornal Boston Globe, extensões de cabelo trançadas podem custar, na região, entre US$ 50 e US$ 200 e durar até três meses. Esse preço, disse Cook, não seria mais alto do que o alisamento dos cabelos que Deanna e Mya tinham feito anteriormente.

Alunos disseram ao Boston Globe que haviam experimentado preconceito racial na escola, que fica a cerca de 10 quilômetros ao norte de Boston.

O corpo discente tem bastante diversidade, o que motivou os Cook a escolherem a escola para seus cinco filhos adotados. Dos 1.500 estudantes da 12ª série, 43% não são brancos e, desses, 17% são negros.

Mas apenas um dos 170 professores e funcionários do Mystic Valley é negro, informou o Boston Globe, e Cook disse que não há afrodescendentes no conselho de curadores da escola. “Isso tem que mudar”, disse ele. E acrescentou: “A escola precisa de um treinamento sério sobre diversidade.”

Outros casos

Outras jovens já usaram extensões de cabelo antes, mas os Cook afirmam que houve uma repressão aos alunos após as férias de primavera deste ano. Outra mãe da escola, Annette Namuddu, disse ao Globe que sua filha foi parar na diretoria por usar tranças na escola. Quando ela se recusou a removê-las, foi suspensa.

“É discriminação”, disse Namuddu. “Eu vejo crianças brancas com cabelos coloridos, o que supostamente não é permitido, e nada acontece.”

Outra mãe, Kathy Granderson, disse ao Globe que sua filha estava entre cerca de 20 meninas que foram chamadas à diretoria e questionadas se usavam cabelos “falsos”. Metade delas recebeu advertência formal.

Agora, as punições por insubordinação às irmãs Cook estão se acumulando. Na sexta-feira, elas foram enviadas para casa com outra carta dizendo que tinham que servir seis horas junto à orientadora para compensar as sessões que perderam.

Cook disse que considerou tirar suas filhas da escola. Mas as gêmeas frequentam a Mystic Valley desde o jardim de infância e querem se formar ao lado de seus amigos.

Então, agora, o objetivo é mudar a política e responsabilizar a escola, disse ele. “No final disto, queremos uma escola melhor para nossos filhos.”

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