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Imagem de Tbilisi, capital da Geórgia
Imagem de Tbilisi, capital da Geórgia. O país um dos que deu um salto na produção científica nas últimas três décadas| Foto: Unsplash

Perto dos últimos lugares nos rankings que medem o impacto da produção científica, o Brasil talvez possa aprender com o exemplo dos países que integravam a União Soviética. Um levantamento sobre a evolução da ciência nessas nações encontrou uma clara correlação entre liberdade econômica e o impacto da pesquisa científica: quanto mais livre o país, mais próspero e cientificamente relevante ele se tornou. O estudo foi feito pelo professor Marcelo Hermes-Lima, da Universidade de Brasília, que está na lista dos 100 mil cientistas mais citados do mundo, em levantamento feito pela Stanford University.

A pesquisa (veja infográfico abaixo) considera o critério de CPP (Citações por Publicação). O critério adotado no estudo leva em conta o quão próximo os países estão do primeiro colocado na lista. Em uma primeira etapa, o pesquisador considerou os 10 países da Europa Oriental com maior impacto em sua produção científica - muitos dos quais têm uma renda per capita semelhante à do Brasil. A conclusão é de que, em oito deles, a qualidade da produção científica acompanhou o aumento no PIB per capita. As duas exceções foram Azerbaijão e Bielorrússia, justamente os dois que têm quantias significativas de petróleo e gás natural - cuja extração não depende de inovação tecnológica constante. O levantamento analisou os dados entre 1995 e 2019.

Uma segunda etapa da pesquisa analisou também os dados dos outros 10 países da Europa Oriental. Desta vez, o recorte foi a produção científica e o crescimento econômico entre 2004 e 2018. Mais uma vez, oito dos dez integrantes do grupo avançaram no período: enquanto a economia cresceu, o impacto da produção científica aumentou. “A ciência estimula melhoras na economia, a economia cresce e aí é possível dar mais dinheiro para a ciência. E o dinheiro usado de forma responsável gera avanços”, resume Marcelo Hermes-Lima.

Se fosse um membro desse grupo de 20 países da Europa Oriental, o Brasil ficaria à frente apenas de Ucrânia e Rússia no critério de impacto da produção científica. No ranking geral, o país não tem um bom desempenho: pelo critério de citações por publicação, o Brasil aparece em 64º lugar dentre os 74 países com pelo menos 3.000 papers no ano de 2018.

O professor também cruzou os dados levando em consideração o desempenho de cada país no Índice de Liberdade Econômica da Heritage Foundation. O resultado comprovou a associação entre liberdade econômica e a qualidade da produção científica: os países com melhor colocação no Índice também eram os que produziam pesquisas com maior impacto. O caso traz uma lição para o Brasil: mais do que modelos prontos de desenvolvimento científico, a liberdade econômica é o caminho para ampliar a qualidade da produção da ciência brasileira, que hoje tem um impacto diminuto.

“Os estudos em andamento indicam que o fator que mais impacta a qualidade da produção científica em países em desenvolvimento é a Liberdade Econômica”, diz o professor Pedro Caldeira, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, que também estuda a qualidade da produção científica nacional. Ele acrescenta ainda que é importante identificar as causas do desempenho brasileiro e estudar os casos bem-sucedidos de outros países.

Além das nações da antiga União Soviética, Portugal pode ser um bom exemplo. “Há 40 anos o sistema científico era extremamente fechado. Foram desenhados programas de qualificação da pesquisa, que incluíam sobretudo bolsas de doutorado no exterior, em universidades europeias e norte-americanas reconhecidas pela qualidade de sua pesquisa, e de mestrado no próprio país”, afirma Caldeira. Outro ponto enfatizado por ele é a necessidade de produção acadêmica em inglês, já que o uso do português limita a repercussão internacional das pesquisas.

Caldeira ainda destaca que, conforme os primeiros pesquisadores de um determinado país abrem portas em grandes centros de pesquisa internacionais, tem início um efeito multiplicador. Foi o que aconteceu com a Geórgia, um dos países da Europa Oriental que deu um salto na produção científica nas últimas três décadas. “Esses pesquisadores da Geórgia no exterior desenvolvem projetos em parceria com pesquisadores de universidades ou empresas georgianas ou, ainda, são polos de atração e recrutamento de outros pesquisadores georgianos”, explica.

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