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O país enfrenta o ônus de um isolamento social precoce estabelecido, equivocadamente, por parte dos governadores. O Brasil gastou “munição na hora errada”. Essa é a opinião do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que concedeu entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, de seu gabinete em Brasília.

As projeções catastróficas, afirma ele, têm se mostrado desacertadas pela falta de critério científico. Mas a hidroxicloroquina, aliada à azitromicina, como vem repetindo o presidente Jair Bolsonaro, pode ajudar o país a contornar a crise sanitária e econômica.

Na educação, Weintraub elogiou a atuação das universidades federais, garantiu a realização do Enem, em novembro, falou da nova secretária de Educação Básica e renovou a sua promessa de melhorar os índices educacionais. Leia, abaixo, os principais momentos da entrevista:

Isolamento

Abraham Weintraub: A essa altura, eu me sinto bem à vontade para falar que muitos prefeitos e, principalmente, alguns governadores, que acabaram influenciando os demais, se precipitaram. Eu te afirmo isso pelo seguinte, tecnicamente, não faz sentido ter a mesma abordagem em termos de quarentena para uma cidade como São Paulo ou Guarulhos, para uma cidade como Batatais, no interior de São Paulo, ou Pariquera-Açu, Barretos, Lins. São cidades que não têm metrô, trem, o transporte é muito menor. Não têm aglomerações que existem nos grandes centros.

Infelizmente, tem gente morrendo, mas está ficando cada vez mais visível que as projeções catastróficas que foram feitas estavam completamente equivocadas. Essas projeções catastróficas não tinham critério científico nenhum.

[O isolamento] não é uma coisa que pode durar seis meses. Se faz isolamento para evitar a explosão do pico de uma epidemia. Quando você antecipa e precipita o isolamento, vemos que gastamos munição na hora errada, gerando um ônus social muito grande. O isolamento social, dependendo da crise, da doença, é necessário. Mas a forma como foi feita foi errada.

Eu considero certos governadores como péssimos, tenho desprezo pela atitude deles nessa crise. Foi absurda, na minha opinião. Me chocou mais ainda como, rapidamente, as nossas profissões deixaram de ser nossas profissões, nosso ganha-pão deixou de ser nosso ganha-pão, em nossas propriedades, rapidamente, qualquer boquirroto entrava e confiscava propriedade privada.

Medidas de enfrentamento da gestão Bolsonaro

Abraham Weintraub: O presidente foi fundamental para guiar o Brasil durante esse período de crise. Bolsonaro apresentou um caminho que, hoje, está sendo visto como o correto, que é a utilização da hidroxicloroquina junto com azitromicina, baseado em working papers, porque o paper demora muito para sair.

Dado que já havia um material acadêmico robusto de working papers, os assessores de Bolsonaro, dos quais um é o meu irmão, Arthur Weintraub, levaram ao presidente, que se sentiu muito tranquilo em defender a hidroxicloroquina com azitromicina, além do zinco e da vitamina D como coquetel para tratamento imediato.

O que me dá alento para essa crise é que a gente tem um coquetel relativamente barato, que é a azitromicina com hidroxicloroquina. É um remédio bem testado [para outras doenças] ao longo de décadas e que tem dado resultados muito bons.

Inquérito no STF sobre comentário a respeito da China

Abraham Weintraub: Eu fiz um comentário que mostrava a minha insatisfação com o fato de o Partido Comunista Chinês ter segurado a informação da pandemia. Eles poderiam ter alertado o mundo 40 dias antes e, com isso, teríamos mais respiradores, mais capacidade, melhor preparo. Mas ficaram de bico fechado e, de repente, descobrimos que eles ficaram fazendo respirador, equipamento médico, que está sobrando [equipamento] lá e eles estão leiloando para o mundo. E o mundo inteiro está desesperado. Não tenho como afirmar, mas, aparentemente, eles fizeram estoque de caixa antes da crise, para sair comprando empresas baratas pelo mundo.

Eu manifestei isso, não sou racista, e a minha vida pregressa mostra isso. Inclusive, parte do meu MBA foi feito na Chinese University of Hong Kong. Eu fui o único ocidental que recebeu uma homenagem dos chineses, eles fizeram um nome em mandarim para mim, mostrando que eu era muito próximo deles.

Eu tenho um estilo que é o de falar a verdade, falar o que penso. Quando acho que estou errado, peço desculpas, basta ver que, quando vou para os embates no Congresso, várias vezes eu peço desculpas. Nesse caso, não foi racismo e me recuso a aceitar essa pecha.

Os processos que eu sofri estão caindo um a um, um atrás do outro. Eu confio na Justiça brasileira, que funciona, acredito na minha liberdade de expressão e, o dia em que eu não tiver mais a certeza que eu tenho na Justiça brasileira, e não puder mais falar o que eu penso, eu perdi o Brasil. Será um momento muito triste, no qual vou falar: "o Brasil infelizmente não é mais meu país".

Atuação das universidades durante a pandemia

Abraham Weintraub: As universidades federais estão ajudando bastante, principalmente nos departamentos de Medicina. A gente tem também trabalhos bacanas na área de Engenharia, com os respiradores. Conseguimos resgatar 132 respiradores que estavam sucateados.

Departamentos de Medicina, Química, Engenharia, estão entregando respiradores bons, pesquisas boas. Recentemente, ofertamos 6,5 mil bolsas da Capes, para mestrado e doutorado. Ao todo, são 88 mil. Uma parte do aumento foi exclusivo para o estudo de epidemias, como o coronavírus.

Estamos reforçando os programas que têm bom desempenho. Se você está estudando em um fundo de quintal, num departamento com nota 2, não vai receber bolsa de estudo, do dinheiro público, para estudar isso em um lugar desses. Estamos priorizando boas universidades e áreas onde a gente acha que são prioritárias, como Engenharia, Medicina, Enfermagem, Farmácia, esse tipo de coisa.

Formação antecipada de estudantes de Saúde

Abraham Weintraub: A gente não está em uma situação de normalidade. Numa situação de normalidade, não faríamos isso. Estamos fazendo porque, nesse quadro, eu gostaria muito que as pessoas, caso faltem médicos, vão para a linha de frente.

É óbvio que não é a situação ideal, mas nós não antecipamos muito. O aluno simplesmente tinha que ter concluído todas as matérias e ter feito 75% de estágio probatório; faltaria apenas a última parte do período de experiência prática. Ele pode se voluntariar para ir para a linha de frente, ajudar, receber, atender e ser orientado por um médico mais experiente, ajudando nesse atendimento.

Se faltar gente, um estudante de Medicina do quinto ano pode ajudar no atendimento de um paciente. Se faltar gente, um estudante de Enfermagem, no meio do curso, é melhor do que um PM ali do lado. Eu admiro os PMs, mas é melhor um cara que tem preparo do que alguém que não tem preparo científico para isso.

Autorizamos para que eles pudessem colar grau e ir para as linhas de frente. Mas não vamos obrigar, vai se quer, ninguém é escravo. Gostaríamos muito, faço um chamamento, não somente em nome do patriotismo, mas do humanismo, da humanidade das pessoas que fazem o juramento de Hipócrates.

Tem que ir para a linha de frente, até mesmo porque um médico mais jovem tem menos risco de morrer da doença [Covid-19] do que um médico mais velho. É momento de mostrar dignidade, decência. Isso de obrigar, fazer a fórceps, botar polícia em cima, invadir propriedade privada, isso não é do governo Bolsonaro, não. Isso é de outros governos.

Enem digital pela primeira vez

Abraham Weintraub: O Enem é realizado em novembro. Eu tenho certeza, te afirmo, te dou garantia que, daqui até novembro, acabou a quarentena, acabou a crise, não tem mais nada. Sobre os dias que ficaram sem aulas, a gente já flexibilizou, não é preciso mais ter 200 dias de aula, é preciso apenas cumprir a carga de hora e a matéria precisa ser dada. Além disso, o Enem não é qualificatório, ele é uma competição, passam os melhores e ponto. Ele não é justo, democrático.

Diante desse quadro, não façamos Enem esse ano, deixando 5 milhões de jovens em casa, olhando para o teto, gerando um caos na sociedade? Uma parte desses cinco milhões de jovens vai ser cooptada pelos movimentos de esquerda, a outra parte vai ter que buscar uma solução na iniciativa privada, vai precisar de financiamento.

Temos 100 mil voluntários [para o Enem digital], é só para quem quiser, não é obrigatório. Em todos os estados do Brasil vai ter pelo menos uma cidade onde a pessoa poderá fazer o exame eletronicamente, através do reconhecimento biométrico.

Faz o exame, o resultado vai estar lá e, se tiver qualquer problema operacional, a pessoa pode fazer o exame no papel físico tradicional, que faremos depois. Não tem risco operacional. Mas se a pessoa for mal no exame, não poderá refazê-lo no papel apenas porque foi mal no eletrônico.

Tenho certeza de que terão alunos prejudicados nesse período. Tenho certeza que vai ter gente que, em função do coronavírus, vai morrer, infelizmente. Tenho certeza que ter feito a Copa América no Brasil, trazendo o zika vírus, prejudicou brasileiros que nasceram com microcefalia. Isso não significa que eu vou destruir a vida de 210 milhões de pessoas.

Todo ano eles tentam acabar com o Enem. No ano passado, começaram dizendo que não ia ter Enem porque a gráfica havia quebrado. Parlamentares, alguns engajados da esquerda e muitos ligados a grandes empresários e ONGs, tentam gerar o caos na educação. Existem interesses corporativos e ideológicos para que não tenha Enem. Por isso que esse ano eles não querem, por isso que o ano passado eles não queriam, por isso que no outro ano teve um monte de invasão de escola e você viu grandes corporações batendo palma e achando lindo. As invasões eram justamente onde iriam ser realizadas as provas do Enem.

Tem até novembro para os jovens estudarem. "Ah, mas coitado do cara que não tem internet". Bem, para isso, tem cota, inclusive. Tem cota de quem estuda em colégio público, tem cota para isso, para aquilo, para tudo.

Eu prefiro ter esse ano mais médicos e mais engenheiros no Brasil, mesmo que eles não tenham as melhores condições do mundo para estudar, mas eles se viram. O ser humano precisa se virar em um momento desses. Basta os governadores flexibilizarem um pouco a quarentena e voltarem às aulas. Então não tem o menor cabimento falar, nesse momento, que não vai ter Enem. Isso é afetar a vida de cinco milhões de jovens, ou por interesses ideológicos ou por interesses financeiros econômicos.

Fiscalização de aulas remotas

Abraham Weintraub: Estamos fiscalizando se a universidade está tendo aula, isso a gente está fiscalizando. Eu não entro na sala de aula virtual e fico acompanhando para ver se o professor está falando bem do Paulo Freire. Pode falar, pode dar aula como quiser, o professor tem que ter total liberdade acadêmica para ensinar e pesquisar o que quiser. Mas tem que entregar o resultado, o aluno final tem que se formar e tem que ser bem avaliado.

Future-se

Abraham Weintraub: O texto está na presidência, aguardando para ir para o Congresso. Como estamos nesse período conturbado, a gente não quis mandar agora, mas o texto está pronto, já saiu de todos os ministérios, está só aguardando ir para o Congresso, já tem um relator previamente combinando.

Estamos fazendo uma administração com base em MPs, mas o Future-se não pode ser via MP, ele tem que seguir o trâmite normal, tem que ir para a Comissão de Educação. Eu espero que volte rápido.

Educação pós-pandemia

Abraham Weintraub: A expectativa é que vai melhorar. Estamos na sequência de implementar e aumentar técnicas que funcionaram no mundo inteiro. A experiência portuguesa é um modelo, por exemplo, Portugal era o pior país da Europa e hoje é o segundo melhor. Estamos adotando técnicas e abordagens científicas de fato, não de "especialistas" de ONGs e fundações que estão há 20 anos gerando resultados horrorosos.

Trouxemos, de fato, cientistas e pessoas gabaritadas, inclusive a nova secretária do ensino básico é uma pessoa com formação estupenda, super habilitada para seguir e implementar essa segunda fase. A primeira fase era colocar ordem na casa, o MEC estava uma bagunça, bagunça mesmo, não era pouco não.

A meta é colocar o Brasil como melhor país da América do Sul, em um horizonte de oito anos. A meta é que no próximo Pisa a gente deixe a última posição da América do Sul.

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