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Dominar conteúdo de matemática ou geografia pode não ser mais o suficiente para dar aulas na Flórida, nos Estados Unidos. Ter autocontrole e treinamento para atirar deve estar entre os requisitos, depois que o Senado estadual derrubou um veto que impedia professores de portar armas nas escolas. A medida precisa agora passar pela Câmara, onde, segundo a imprensa local, não enfrentará resistência.

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Há pouco mais de um ano, sensibilizados pela tragédia na Marjory Stoneman Douglas High School, em Parkland, que matou 17 pessoas (14 estudantes e 3 funcionários), políticos da Flórida chegaram a um compromisso quase impossível nos EUA: o de aprovar restrições às armas no Estado. Parte do plano permitia que certos funcionários de escolas, mas não professores, portassem armas nas instituições de ensino.

"Programa guardião"

Mais tarde, no fim do ano passado, uma comissão estadual que investigou o ataque a tiros em Parkland concluiu, sob certo desconforto, que algumas das mortes poderiam ter sido evitadas se alguém do corpo docente estivesse armado. Com base nessa conclusão, senadores do Estado aprovaram na terça-feira, dia 23, por 22 a 17, o projeto de lei SB-7030, que permitirá aos professores dos 67 distritos escolares do Estado aderirem voluntariamente ao "programa guardião", já adotado para funcionários de escolas em 25 desses distritos.

Para portar armas, os professores terão de passar por um teste psicológico e ter ao menos 144 horas de treinamento com a polícia. O distrito escolar também precisa dar autorização para que os professores entrem para o programa e, desde o dia 23, colegiados de três deles - Tampa, Sarasota e Manatee - votaram por não aderir.

Resistência

Pais e estudantes de Parkland, que se tornaram ativistas contra violência armada, se opõem firmemente à mudança. Eles viajaram para a capital, Tallahassee, para protestar contra a ampliação do programa, dizendo que mais armas nas escolas colocarão crianças e jovens sob um perigo ainda maior. Eles enfrentam o forte lobby da Associação Nacional do Rifle (NRA, na sigla em inglês), que por anos tenta armar os professores da Flórida.

Uma das estudantes que fez campanha contra a medida foi Sari Kaufman, de 16 anos, sobrevivente de Parkland. Em artigo publicado pelo The Sun Sentinel of South Florida, ela questionou como um professor armado poderia garantir a segurança de seus estudantes, lembrando episódios em que um professor do Missouri teve sua arma roubada por um aluno. "O que acontecerá quando um policial, respondendo a um ataque, vir meu professor em pé com uma arma? E se ele deduzir que o professor é uma ameaça e atirar?", escreveu a estudante.

A votação de terça-feira não foi fácil. A senadora democrata Lauren Book, da cidade de Plantation, perto de Parkland, participou da comissão que investigou o massacre e foi favorável à recomendação aos distritos para permitir que professores se armem. Mas, sob lágrimas e citando a intensa oposição da comunidade de Parkland, ela votou contra a mudança.

"Sou uma mãe que recentemente começou a deixar seus filhos na escola. Nunca imaginei que haveria lágrimas escorrendo em meu rosto por causa do medo que sinto do que pode ocorrer a eles lá dentro", disse.

Logística

O debate também colocou em evidência as diferenças relacionadas à geografia da Flórida. De um lado, os republicanos representando as áreas rurais repetiram as preocupações sobre quão rápido um ataque a tiros pode se desdobrar e a demora da resposta da polícia. "Eu tenho escolas a 20 minutos de qualquer ajuda policial", disse o senador Dennis Baxley, de Ocala. Em Parkland, o atirador matou 17 pessoas em menos de 6 minutos.

Do outro, democratas, a maioria representando grandes cidades, demonstraram preocupação com a abundância de armas em suas comunidades. "No meu distrito, há crianças que vivem em meio à violência armada todos os dias. A escola é o único lugar seguro para elas", disse Oscar Braynon, de Miami Gardens. Os democratas, que rejeitaram unanimemente a medida, conquistaram o apoio de uma republicana, a senadora Anitere Flores, de Miami.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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