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Albert Einstein foi adepto do homeschooling
Lista dos gênios praticantes do homeschooling é extensa| Foto: Bigstock

Ao buscar pelo termo “ensino domiciliar” nas redes sociais, o que não falta são piadinhas maldosas de críticos sobre a suposta incapacidade dos pais – quaisquer pais – de ensinarem em casa, bem como memes de crianças, supostamente educadas por suas famílias, que escrevem mal ou não sabem calcular. Na grande maioria das vezes, tudo não passa de humor escrachado para propagar a mentira de que o homeschooling não gera bons resultados de aprendizagem. É claro que os divulgadores dessas bobagens normalmente apelam para vídeos de contexto desconhecido, sem dar absolutamente nenhuma garantia de que a família em questão realmente é adepta da modalidade. Afinal, se fossem buscar na realidade a matéria-prima para seu sarcasmo, ela os deixaria completamente frustrados.

O mundo e a história estão repletos de gênios que foram educados em casa, pelos pais ou por professores contratados pelas famílias. Alguns jamais frequentaram uma escola regular até chegar à idade universitária, outros experimentaram ao longo de sua vida estudantil, na infância e na adolescência, tanto a educação escolar como a domiciliar.

Se para muitos o exemplo realmente vale mais que mil palavras, tomar conhecimento sobre alguns homeschoolers famosos, que se tornaram referências em suas áreas, pode ser um argumento mais poderoso do que os muitos outros já apresentados neste espaço.

Comecemos pelo cientista mais famoso do último século. Albert Einstein (1879-1955), a quem é creditada uma extensa lista de descobertas e elaborações teóricas no campo da Física, frequentou a escola dos 5 até os 10 anos de idade, quando seus pais decidiram tirá-lo do sistema convencional e contrataram um tutor que o ensinou em casa. O escolhido foi um estudante de medicina judeu, chamado Max Talmud, que o instruiu nas disciplinas de matemática, ciências e filosofia.

Thomas Edison (1847-1931), o inventor da lâmpada, foi educado pela mãe. Ela chegou a levá-lo a uma escola por algumas semanas quando ele tinha 7 anos, mas, segundo os biógrafos do gênio, as professoras passaram a reclamar demais de suas frequentes interrupções com perguntas durante as aulas. A história provou que o problema não estava com o aluno.

Podemos prosseguir citando o filósofo, matemático, historiador e crítico social Bertrand Russel (1872-1970), que foi criado pela vó e educado por tutores, na Inglaterra, após a morte dos pais. Em 1950, venceu o Prêmio Nobel de Literatura.

Por falar na badalada premiação, outro intelectual educado pela família que ganhou um Nobel foi Erwin Schrördinger (1887-1961), físico austríaco de destaque nas áreas da mecânica estatística, termodinâmica, teoria das cores, eletrodinâmica, relatividade geral, cosmologia e física quântica. Ele estudou em casa até os 10 anos.

É bem provável, contudo, que os implicantes reclamem do fato de que todos esses cientistas nasceram no século XIX, quando a educação escolar no modelo que conhecemos hoje ainda não era de alcance universal, nem mesmo no Ocidente. A justificativa é frágil, pois não anula o fato de que os citados foram homens influentes com intelecto altíssimo e que não frequentaram uma escola diariamente desde os 4 anos de idade, como se impõe no Brasil. Mesmo assim, a lista de homeschoolers geniais e bem-sucedidos é tão extensa que não me custaria nada citar alguns nomes mais recentes.

O canadense Willard Boyle (1924-2011), por exemplo, agraciado com o Nobel de Física, em 2009, é o inventor do circuito de semicondutores de imagem, uma espécie de sensor que permitiu à Nasa enviar imagens nítidas à Terra do espaço. Seus serviços para a agência espacial norte-americana também lhe possibilitaram participar da equipe que determinou onde os astronautas deveriam pousar na Lua. Boyle era filho de um médico, foi educado pela mãe, e fez homeschooling até os 14 anos, quando entrou precocemente para o ensino superior.

O caso da enxadrista húngara Judit Polgár, de 44 anos, é emblemático em muitos aspectos. Desafiando o regime comunista, que proibia o ensino domiciliar, seu pai decidiu educá-la em casa e a treinou no jogo de xadrez desde os 5 anos. Em 1988, ela foi a primeira mulher do mundo a vencer o campeonato mundial sub-12. Aos 15, ganhou o título de mais jovem Grande Mestre Internacional de Xadrez em toda a história. Em 2002, venceu o número 1 do mundo, Garry Kasparov, e permaneceu nas listas de melhores enxadristas do planeta até anunciar seu afastamento dos campeonatos, em 2014, para dedicar-se aos filhos.

No entanto, se alguém quiser um exemplo mais atual ainda, o melhor nome talvez seja o do canadense Erik Demaine, 39 anos, professor de Ciência da Computação no MIT (Massachusetts Institute of Technology), nos Estados Unidos. Ele passou a infância viajando por toda a América do Norte com seu pai, um escultor e matemático por quem foi educado na modalidade de homeschooling até entrar na universidade, aos 12 anos. Concluiu a graduação dois anos depois, aos 14. Aos 20, recebeu seu primeiro diploma de doutorado. Atualmente acumula dezenas de prêmios concedidos por instituições do Canadá e dos Estados Unidos.

Encerro a lista por aqui para não deixá-la extensa demais, mas claro que não esgotei os exemplos que poderiam ser dados. Agora, contudo, o leitor tem uma opção a mais do que fazer quando se deparar com piadas infundadas sobre homeschooling nas redes sociais. Mande o link desse artigo para o autor da insensatez e ajude-o a sair do poço de ignorância no qual se encontra.

Jônatas Dias Lima é jornalista e assessor parlamentar na Câmara dos Deputados, onde atua junto à Frente Parlamentar em Defesa do Homeschooling. E-mail: jonatasdl@live.com.

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