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Inglês é a língua internacional de sucesso, exceto na Califórnia
| Foto: Pixabay

Já passaram duas décadas, mas ainda me lembro da emoção de ajudar a aprovar a Proposição 227 da Califórnia, em 1998, que, ao menos eu pensava, poderia resgatar crianças de língua espanhola de um gueto educacional de frustração e fracasso. Foi uma batalha difícil. Lutamos contra uma burocracia educacional, incluindo os sindicatos poderosos dos professores da Califórnia, editores de livros com contratos governamentais lucrativos e até Jerry Perenchio, o falecido bilionário republicano CEO da Univision, que doou US $ 1,5 milhão aos esforços para manter o sistema educacional "bilíngue" da Califórnia.

Nós ganhamos: 61% dos californianos estavam prontos para a mudança. Em meio a indícios de racismo e insensibilidade cultural, os pais latinos me diziam que sabiam que a educação e o aprendizado de inglês no país que escolheram viver eram fundamentais para o futuro de seus filhos. Infelizmente, a vitória não duraria.

A proposta 227 teve como objetivo garantir que imigrantes aprendessem inglês rapidamente quando ingressassem na escola (entrariam nas escolas regulares, com professores americanos e aulas em inglês – e não mais com aulas em espanhol).

Antes da proposta 227, os imigrantes, principalmente do México e da América Central, eram frequentemente colocados em "salas bilíngues" – nada bilíngues, na realidade. Em essência, eles eram segregados de crianças que sabiam inglês e ensinados em espanhol durante os anos do ensino fundamental e médio. O apelido "bilíngue" era, como já disse, um termo impróprio. Poucas dessas crianças foram incorporadas às aulas de inglês, porque nunca tiveram a chance de adquirir fluência acadêmica suficiente para se “formar”. As escolas de ensino médio não tinham programas formais “bilíngues” que preparavam as crianças com aulas “bilíngues” para disputar com os seus colegas americanos.

Em 2016, a Califórnia destruiu a Proposta 227 apelando ao ideal de uma educação internacional. A assembleia de parlamentares aprovou a Proposta 58, que anulou a lei anterior, exigiu que os pais assinassem uma renúncia se desejassem que seu filho optasse por não participar do inglês como idioma principal. Ao permitir que os distritos escolares apresentassem aos pais opções de aulas em espanhol, a Proposta 58 anulou grande parte da Proposta 227. Os pais imigrantes tendem a supor que os distritos americanos têm o melhor interesse para as suas crianças ao querer ensiná-los em espanhol.

Mais de duas décadas após a aprovação da Proposta 227, revisitei vários voluntários que lutaram por ela, principalmente professores que foram contra a ortodoxia da educação da época. Eles viram os fracassos das crianças educadas nos EUA em espanhol e não estavam dispostos a ficar sem fazer nada, mesmo que isso fosse politicamente mais fácil.

Alice Callahan – uma advogada que administra a organização “Las Familias del Pueblo”, para crianças de trabalhadores imigrantes de baixa renda no Skid Row, no centro de Los Angeles – me disse que muitas das crianças que auxilia agora são da Guatemala e não do México, e falam línguas indígenas. No entanto, eles ainda costumam ser colocados em aulas onde o idioma principal é o espanhol.

Quando conversei com Gloria Matta Tuchman, uma professora bilíngue agora aposentada em Santa Ana, Califórnia, senti que estava dando a ela uma forma de se abrir após sofrer um “estresse traumático” com o fim da Proposta 227. Gloria passou anos lutando para ensinar inglês a seus alunos de língua espanhola em grande parte imigrantes. Quando perguntei sobre a situação atual, sua resposta foi: "Estamos de volta ao passado, do ponto em que começamos!" Ela disse que a legislação subsequente foi vendida como "uma educação da Califórnia para uma economia global", acrescentando:

Essas crianças não podem ser bilíngues, a menos que aprendam inglês. Provamos que as crianças podem aprender. Elas não são estúpidas. As taxas de abandono caíram após a Proposta 227. A Proposta 58 levou à evasão e teve apenas interesse financeiro. Todo mundo está ganhando dinheiro com este programa.

Em 1998, uma pequena porcentagem de salas de aula na Califórnia usou "imersão dupla", na qual alunos que falam espanhol (ou outro idioma estrangeiro) e outros que falam inglês se reúnem para ser fluentes nos dois idiomas. A Proposta 227 nunca aboliu esses programas, que são voluntários. Mas, para quem não sabia disso, fica-se com a impressão que as classes de imersão dupla, pelo menos em nome, surgiram após a nova lei de 2016.

Os programas de imersão dupla custam mais para serem implementados porque os professores precisam ser totalmente credenciados em espanhol e inglês. “Não é caro oferecer um programa de imersão dupla em San Diego. É viável. Pode não ser assim no Alasca”, ou em algumas partes da Califórnia, me contou o professor de Bakersfield, Ricardo Munro. Munro é um grande defensor do ensino do inglês adequado para imigrantes, a fim de oferecer a eles a melhor chance de sucesso neste país. Defensor do aprendizado de duas línguas (ele ensinou espanhol para seus filhos em casa e sua filha é professora de imersão dupla), Ricardo foi um dos muitos professores que apoiaram a Proposta 227 contra a ortodoxia dos sindicatos de professores. Não era uma posição confortável, e ele certamente tinha que navegar na política dentro da academia. No entanto, ele ainda está otimista.

De acordo com o Departamento de Educação da Califórnia, durante o ano civil de 2018–19, cerca de 20% das crianças em idade escolar da Califórnia eram aprendizes de inglês, com aproximadamente 80% delas falando espanhol em casa, embora esse número pareça ser fluido. A implementação do inglês acadêmico é fragmentada em todo o estado. As pontuações dos testes não podem ser rastreadas com precisão, porque os métodos de teste da Califórnia para alunos de inglês mudam com frequência, tornando sem sentido as comparações ano a ano.

Em um artigo recente para membros do influente sindicato United Teachers Los Angeles, Cheryl Ortega - diretora de educação bilíngue da UTLA - escreveu: “Nossa plataforma confirma os benefícios de aprender no próprio idioma” e também pediu “maior investimento em educação multilíngue”.

Poucos negariam os benefícios de conhecer vários idiomas, mas Los Angeles ainda não conseguiu que seus alunos alcançassem o domínio básico do inglês.

Embora os esforços para desfazer a Proposta 227 tenham sido amplamente bem-sucedidos, o impulso para aprender o inglês ainda não foi de todo sepultado. É imperativo que os pais, geralmente aqueles com menos poder, defendam seus filhos. Aqueles com mais a ganhar ao aprender o idioma do país que escolheram para viver continuam a sofrer de acordo com os caprichos do sistema defeituoso da Califórnia.

* Sheri Annis é consultora de mídia baseada em D.C.

©2019 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.


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