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Anne Lapierre, co-criadora da Psicomotricidade Relacional. | Anderson Paixão Costa/Divulgação
Anne Lapierre, co-criadora da Psicomotricidade Relacional.| Foto: Anderson Paixão Costa/Divulgação

O sorriso cativante de Anne Lapierre revela uma estudiosa satisfeita com o trabalho que desenvolve há décadas. Responsável por acrescentar à Psicomotricidade Relacional – técnica criada pelo pai, Andre Lapierre, morto há três meses – seu caráter de terapia comportamental na prevenção de conflitos, esta francesa diz-se contente com os rumos que seus estudos tomaram no Brasil. Com um bom domínio do português, Anne, que esteve em Curitiba no fim de setembro para o lançamento do Projeto Criança Viva, conta sobre sua preocupação com o aspecto social na formação do indivíduo.

Qual foi sua contribuição para a Psicomotricidade Relacional?

Meu pai começou seus estudos partindo da Educação Física. Eu venho da Psicoterapia. Meu olhar vai além da análise dos comportamentos observáveis do indivíduo, entra no saber psicanalítico.

Como a atividade contribui para a melhoria do desempenho escolar?

Com as atividades lúdicas os alunos tomam consciência de si mesmos. Às vezes estão com a área afetiva tão mal resolvida que não há espaço para o aspecto cognitivo. Os estudantes gostam muito de aprender, mas, se têm muitos problemas afetivos e emocionais, a área cognitiva se fecha. Tirando esse bloqueio, o aluno fica livre para aprender.

Como é feito esse desbloqueio?

De forma terapêutica e lúdica. Na terapia [tradicional], a criança já sabe que precisa passar por uma reeducação. Isso reforça o bloqueio. Mas quando chega em uma sessão de psicomotricidade, vai brincar e pensa "é essa a terapia que tenho de fazer?". Assim ela sente-se bem e desbloqueia.

Como você vê os resultados da prática no Brasil?

Para mim é um sonho ver o que está sendo feito aqui no Brasil. A coisa mais importante do mundo é ver um menino na escola, entre seus 5 e 10 anos, que é a fase em que está crescendo, ter esse espaço em que pode se desenvolver de forma lúdica. É muito importante, no nível social e político, ter crianças que têm capacidade de inserção na sociedade. Muitos países não deixam elas chegarem a este estado de consciência porque sabe-se que começar a pensar pode ser perigoso para os políticos.

E em relação à Europa?

A França regrediu nos anos 1990. Lá a Psicomotricidade Relacional não existe. Utiliza-se muito a terapia. O Brasil está anos-luz à frente da Europa, que ficou muito na questão do tratamento médico em vez de investir no potencial profilático desta ferramenta. Hoje existem grupos na Espanha e em Portugal interessados em seguir o modelo que o Brasil adotou.

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